quarta-feira, 29 de julho de 2009

Novos desdobramentos de "Halloween"

por Marcelo Miranda

O movimento continua. O colega e amigo Renato Silveira fez uma excelente matéria em seu site sobre o caso dos cortes que a Playarte promoveu em Halloween - O Início. Não vou ficar aqui reproduzindo o que o Renato fez tão bem. Apenas um trecho me chama muito mais atenção que todo o resto: quando o diretor comercial da distribuidora afirma categoricamente não ter conhecimento de qualquer corte no filme. Diz Wilson Zaveri:

Não tenho conhecimento de cortes no filme ‘Halloween’, o que sei é que existe uma versão ‘sem censura’ (unrated) lançada em DVD nos EUA que está a venda na amazon.com, que talvez tenha algumas cenas a mais do que a versão de cinema, mas ainda não sei exatamente do que se trata”.

Bem... Alguém está mentindo ou está muito desinformado nessa história. Como consta no post abaixo, a Playarte recorreu diretamente ao Ministério da Justiça com uma nova versão de Halloween, tendo exatos 26 minutos a menos que antes. E consta formalmente, em documento registrado e assinado, que o Ministério da Justiça acatou o recurso, aceitou a versão cortada e reclassificou o filme para 14 anos.

Se o diretor comercial da Playarte não sabe de cortes explicitados num documento do governo federal, alguma coisa muito errada aconteceu no processo. Ou, como eu disse, alguém mente.

Enquanto isso, sigo aguardando retorno de Rob Zombie, diretor de Halloween - O Início, a quem busquei contato via Twitter, para saber se ele foi informado do ocorrido. Também escrevi ao Ministério da Justiça procurando Davi Ulisses Brasil Simões Pires, diretor geral do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação e advogado que assina o despacho do Diário Oficial da União onde consta a reclassificação etária do filme.

Por enquanto, há repercussão do caso no Cinematório, Cineclick, G1 e Pipoca Moderna.

Ainda o corte em "Halloween"

por Marcelo Miranda

O leitor que me desculpe a insistência no assunto, mas este caso vai muito além de se gostar ou não de Halloween - O Início, de Rob Zombie. Como já dito dois posts abaixo, o filme foi lançado nos cinemas brasileiros pela distribuidora Playarte numa esquisita versão de 83 minutos, suprimindo um total de 26 minutos de cenas da versão original. O motivo mais provável era a reclassificação etária, de 18 para 14 anos.

Pois a "censura legal" se confirmou no Diário Oficial da União, que, nas suas letras miúdas, explicita o procedimento da Playarte de uma forma, a meu ver, assustadora. Dá para ler clicando aqui, mas o trecho é exatamente o seguinte:

Processo MJ No- : 08017.000902/2009-15
Título do Filme: "HALLOWEEN - O INÍCIO"
Representante: Playarte Pictures
Classificação Pretendida: Não recomendada para menores de14 (quatorze) anos

CONSIDERANDO que o filme "HALLOWEEN - O INÍCIO" teve sua classificação atribuída em 8 de maio de 2009 de "nãorecomendado para menores de 18 (dezoito) anos", por conter suicídio,crueldade e assassinato;

CONSIDERANDO que, ante a solicitação do requerenteatravés do pedido de reconsideração por adequação da obra e tendo oDepartamento indeferido o pedido em 9 de junho de 2009.

CONSIDERANDO que, ante a solicitação de reclassificaçãopor adequação no último dia 14, a Playarte Pictures apresentou umaversão de 83 minutos, excluindo 26 minutos de conteúdo violento daobra, comprometendo-se em exibi-la nesta última versão apresentada, resolve:

Deferir o pedido de reclassificação por adequação do filme"HALLOWEEN - O INÍCIO", Processo MJ No- 08017.000902/2009-15, alterando sua classificação para: "Não recomendada para menoresde 14 (quatorze) anos", por conter agressão física e assassinato.
DAVI ULISSES BRASIL SIMÕES PIRES

Como se vê, a Playarte fez uma versão menor especialmente para baixar a classificação. Isso abre um precedente apavorante. Então uma distribuidora, se insatisfeita com a classificação recebida por seu filme, pode arrancar as partes causadoras do "mal" e entrar com recurso pedindo revisão a partir de um corte oportunista e específico? Me pergunto ainda se o próprio Rob Zombie, ou quem quer que responda pelo filme oficialmente, sabe do ocorrido.

Escrevi um e-mail para o setor de imprensa da Playarte há dois dias, perguntando sobre o assunto. Até o momento, não obtive qualquer tipo de retorno.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Maria Silvia (1944-2009)



Maria Silvia autou em aproximadamente 30 longas-metragens brasileiros. Seu primeiro grande papel foi como a protagonista de Perdida (1976), do mineiro Carlos Alberto Prates Correia. Dali em diante, atuou em todos os filmes seguintes do cineasta.

Leia detalhes sobre a carreira da atriz e a relação de todos os seus trabalhos no cinema clicando aqui.

domingo, 26 de julho de 2009

"Haloween - O Início" cortado nos cinemas

por Marcelo Miranda



A distribuidoroa Playarte decidiu dar uma de Michael Myers: pegou o facão e cortou quase meia hora de Halloween - O Início, de Rob Zombie, lançado nos cinemas brasileiros na última sexta-feira. Não bastasse o atraso de dois anos desde a estreia nos EUA, a mudança de distribuidora (antes era a Europa) e o constante adiamento de datas, eis a surpresa menos agradável de todas.

Segundo relata Marcelo Milici em seu blog, a versão de Halloween em cartaz é exclusividade brasileira. A versão americana tem 109 minutos de duração. No Brasil, são 83. Foram extirpadas as principais cenas violentas, incluindo trechos inteiros. O motivo mais provável para a sangria da Playarte seria baixar a classificação etária, de 18 para 14 anos.

Portanto, ao interessado em ver Halloween - O Início nos cinemas, fica o aviso: ao pagar o ingresso, você não estará assistindo ao trabalho concebido por Rob Zombie. Será outra coisa, mas não o filme dele. Este, você encontra apenas em DVDs importados ou via torrents e downloads na internet.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ainda Michael Jackson

por Leonardo Amaral

E o Michael Jackson morreu (quase há um mês, e o entorno ainda rende muita coisa, a televisão, por vezes, é um meio ultra-interessante). Para mim, sua morte é o evento mais interessante dos últimos anos. Citar Cidadão Kane é até recorrência banal. A cada novo depoimento na mídia o caso ganha em espetáculo, o artista é pintado em várias formas, haja tinta. No palco, Michael é o espetáculo, o corpo no limite físico, do movimento impossível, da improbabilidade da dança. Sempre fui fã distante, apreciava algumas músicas, sou vidrado nos videoclipes. Se querem a imagem-espetáculo, vão aos clipes e shows do Michael.

Sua vida inaugura a imagem-cinismo coligada à imagem-espetáculo. A morte mostra o quanto a imagem-cinismo é a vedete do momento. A imagem-cinismo é a construção imagética que olha para o espectador e pede dele uma conjunção de sentimentos, quais sejam o deboche, o sarcasmo, a pena, o ódio, o amor, e clama para ele ser cinicamente tudo isso.

O espetáculo é a construção do próprio ato da representação, essa ação de ilusionismo, é o mágico dos circos que frequentávamos quando criança (até a televisão entrar em cena e mostrar as artimanhas para jogar agora com a imagem-cinismo), como também o são os passos de Michael Jackson, o moonwalk.


O vídeo acima é uma apresentação do artista em Bucareste em 1992, na turnê Dangerous Tour. Vemos a silhueta: Michael é imagem. A sombra constrói o movimento, os baixos-acordes de Smooth Criminal estandardizam os passos, o corpo que se organiza e mexe no espaço, amplificado: os contornos dão a Michael a marca do inatingível, da perfeição do ato de se mover dado pela dança.

Michael Jackson personifica a figura do artista, aquele que canta, dança, representa, no palco ele é o ator, o show é a narrativa do espetáculo. Ele ganha a frente dos outros dançarinos, esses são meras representações robóticas do que está à baila. Michael dança, coreografa e mostra a falibilidade do corpo humano: fora do palco, o cinismo da vida; dentro dele, a constatação de que ao dançarmos o que mostramos é o nosso desajeito para o movimento, como bem lembra Inácio Araujo em seu blog.

Ao final da imagem em seu processo de espetacularização, fogos de artifícios saem de dentro para fora, fuzilam os corpos do fundo. Esses restam no chão, Michael transita por eles até se refugiar ao fundo, tudo de não passa de artefatos. Michael Jackson foi sempre a figura em sua ambiguidade fotofóbica: por mais que buscasse o refúgio nas sombras, se via capturado pela luz;não por menos sua vida, desde a criança precoce, se vê iluminada por spots. O gênio que de alguma forma é paradigma e objeto dessa sociedade construída no banalizado conceito do pós-modernismo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Jacques Tati


Em Belo Horizonte, o Cine Humberto Mauro exibe até o dia 26 de julho o ciclo O Mundo de Tati, com quatro longas e vários curtas do genial diretor e ator francês.

Leia sobre o cinema de Jacques Tati nos excelentes textos de André Setaro, Leonardo Amaral e Paulo Ricardo de Almeida.

Acima, uma das cenas antológicas de As Aventuras do Sr. Hulot no Trânsito Louco (1971), que compõe a mostra.

domingo, 19 de julho de 2009

Paulínia V - Prévias finais

por Marcelo Miranda

O sumiço é um dos indícios da pouca empolgação deste escriba em falar do Festival de Paulínia. Acho que já se deu cacetada demais, e o resultado é ínfimo diante disso. A premiação foi desastrosa (tanto a cerimônia de entrega de troféus quanto a escolha da maior parte dos vencedores), o que desanima bastante. Pra se ter ideia, ganhou como melhor filme Olhos Azuis, de José Joffily, sobre o qual minhas palavras, em post abaixo, não foram das mais carinhosas.

Fica abaixo matéria que fiz pro jornal onde trabalho, com um breve balanço dos resultados. Em breve, ainda comento Tempos de Paz, de Daniel Filho, exibido no último dia e fora de competição. Adianto: é bem melhor do que se possa esperar, mas não tão bom quanto podia ser.

Festival de Paulínia: balanço dos vencedores*
Na comédia de erros que se tornou a cerimônia de encerramento do II Festival Paulínia de Cinema, na noite de quinta-feira, dia 16, a produção carioca Olhos Azuis, de José Joffily, dividiu com o gaúcho Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, os principais prêmios de ficção – cada um levou cinco troféus. O primeiro sagrou-se como melhor filme, roteiro, ator coadjuvante (Irandhir Santos), montagem e atriz (Cristina Lago, dividindo com Maria Clara Spinelli e Silvia Lourenço, por Quanto Dura o Amor?); o segundo levou direção, figurino, trilha sonora, direção de arte, fotografia e júri da crítica.

O Contador de Histórias, cujo enredo se inspira na vida do pedagogo mineiro Roberto Carlos Ramos, ganhou júri popular, prêmio especial do júri oficial e a categoria de melhor ator, que reconheceu conjuntamente o trabalho dos garotos Marco Ribeiro, Paulo Mendes e Cleiton Santos, intérpretes do protagonista em várias fases de sua vida.

Apresentado pelo casal Murilo Benício e Guilhermina Guinle, o cerimonial de entrega de troféus se configurou numa série de equívocos – desde confusões com o monitor onde os atores liam os nomes dos vencedores à omissão de algumas categorias durante o apressado anúncio de quem deveria subir ao palco para agradecer a vitória. “Alguém quer vir aqui nos ajudar?”, disse Murilo Benício, sem parecer estar brincando.

Foi o fecho de um festival cheio de tropeços e caminhos estranhos. Olhos Azuis, filme que trata com maniqueísmo juvenil a questão da imigração de latinos nos EUA, foi considerado o melhor filme menos por qualidades cinematográficas do que pelo tema proposto – e se esse tema é desenvolvido sem qualquer tipo de sutileza ou humanidade, pouco pareceu importar ao júri.

Antes que o Mundo Acabe conseguiu ficar com a pecha de “filme fofinho do festival”, até então dada a O Contador de Histórias. Realizado na Casa de Cinema de Porto Alegre (de onde saiu O Homem que Copiava, entre outros), aborda o universo juvenil de uma pequena cidade através de piadinhas e referências cool, criança engraçada no elenco e romance adolescente de diálogos "espertos”.

Nos documentários, também prevaleceu o desinteresse com cinema de verdade. Só Dez por Cento É Mentira, de Pedro Cézar, longa apenas razoável sobre o poeta Manoel de Barros, levou melhor filme. O caretíssimo Herbert de Perto, de Roberto Berliner e Pedro Bronz, sobre o músico Herbert Vianna, ficou com troféu de direção. Moscou, filme-invenção do mestre Eduardo Coutinho, teve a façanha de ser ignorado pelo júri oficial. Levou apenas prêmios da crítica.

Confira aqui a relação completa de premiados e os jurados de cada competitiva.

*Originalmente publicada no jornal O TEMPO no dia 18.7.2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Paulínia IV - Gradações de sutileza

por Marcelo Miranda, de Paulínia (SP)

Foi só elogiar para a mostra competitiva do Festival de Paulínia voltar a apresentar trabalhos pouco expressivos. Depois de uma segunda-feira mais estimulante, com osd longas Moscou, de Eduardo Coutinho, e No Meu Lugar, de Eduardo Valente (leia minha crítica aqui), e os curtas Spetaculum, de Juliano Lucas, e Milímetros, de Erico Rassi, a terça-feira trouxe quatro produções difíceis de comentar sob viés menos rabugento ou irrascível.

O curta A Máquina do Tempo, de Carlos Craveiro, mais parece um manual técnico sobre trens. Consiste numa série de entrevistas com maquinistas que, entre o profundo conhecimento do ofício e a lamentação por uma época que já passou e não volta, torna-se uma enfadonha exposição de nomes, mecanismos, engrenagens, explicações. Como está na tela, não serviria nem para um Telecurso 2000, devido à completa falta de discernimento ou ao menos a tentativa de não soar tão anti-cinema.

O outro curta, Nesta Data Querida, de Julia Rezende, registra, sob viés da ficção, a frustração de uma mãe diante da ausência dos amiguinhos da filha na festa de aniversário desta. E é apenas isso: sem maiores preocupações em construir uma verdade através da imagem, a direção se resume a mostrar o rosto da mãe, as brincadeiras da menina e a condescendência da empregada. A fartura de comilanças na mesa de um típico apartamento de classe média e o tom algo constrangedor com a situação alheia que o filme tenta construir atestam ser este um olhar de expiação para algum ranço do passado, que ganha forma de filme menos para existir como tal do que para carregar essa má consciência para com terceiros.

A não-sutileza da raiva
Curiosamente, a ideia da expiação transpassa todo o longa de ficção da noite, Olhos Azuis, de José Joffily. Inicialmente, há um clima que instiga o espectador a se atentar à trama e acompanhar seus desdobramentos: um americano surge perdido no Brasil, enquanto, em flashback, assistimos a este mesmo personagem trabalhando num setor de fiscalização de passageiros estrangeiros em alguma sala de aeroporto dos EUA. A primeira meia hora se constroi num suspense crescente, deixando que o ator David Rasche imprima no rosto a ambiguidade do protagonista, não permitindo a percepção de sua natureza verdadeira.



Só que Joffily não parece satisfeito em se ater à construção de um thriller de suspense - mesmo utilizando a mais básica estrutura de narração de filme B americano, desde a mudança de tempos da ação até música, enquadramentos e atuações. A partir de um determinado momento, Olhos Azuis mergulha numa série de acontecimentos em que sutileza e multiplicidade de olhar se tornam peças raras, sobrando o rasgo de estereótipos e lugares-comuns sobre a relação estrangeiro-expatriado, sendo a América do Norte o grande vilão loiro, branquelo e de olhos azuis (como o título do filme frisa de antemão), enquanto os latinos (cubanos, argentinos, brasileiros, hondurenhos) são pobres coitados que querem ganhar a vida, legal ou ilegalmente, na prosperidade americana.

Enquanto isso, nos flashbacks, o mesmo personagem percorre o "Brasil profundo" em busca de algo cuja motivação já é possível ser percebida com menos de uma hora de projeção. Ele ganha a companhia de uma lindíssima prostituta pernambucana (cabelos, olhos e pele amorenados, seios e barriga à mostra, exímia dançarina de forró e craque no inglês), que tem um passado traumático com o avô e - claro - vai aproveitar a viagem para buscar redenção. E para reforçar a pouca discrição de Joffily com suas intenções, o americano bebe indiscriminadamente e está morrendo de câncer.

É tudo tão explicitamente aborrecido na relação entre os personagens ou a construção de suas motivações, a estética é tão próxima ao que se critica, o inglês (falado em 90% dos diálogos do filme) é tão carregado e acentuado, a quantidade de elementos "polêmicos" é tamanha, o desfecho é tão milimetricamente arquitetado para transmitir toda e qualquer "mensagem" até então buscada, que tem-se a impressão de Joffily estar, na verdade, fazendo troça com tudo isso. O paroxismo, quando atinge o máximo possível dos limites, pode inverter a imagem ambicionada.

Mas Joffily entrega o ideal de uma "verdade absoluta" quando o filme se preocupa em mostrar o entorno onde o americano transita em Pernambuco. A cada passo da caminhada, há um diálogo-discurso ("será que o século XXI chegou mesmo?", questiona ele, olhando para um caminhão de boias-frias; "podem ficar, se não se importarem com a pobreza", fala o avô aos viajantes) ou rostos da população anônima nordestina; no aeroporto, a troca agressiva de impressões sobre a realidade alheia (num certo instante, as farpas parecem conferência de Direitos Humanos em alguma bancada das Nações Unidas) aproxima tudo de uma grande caricatura - mesmo tendo a fortíssima presença de Irandhir Santos, ator a ser urgentemente mais requisitado no nosso cinema.

Olhos Azuis quer debater o abuso na fiscalização dos imigrantes, o que é bastante pertinente. Mas, em vez de fazer desta questão um filme, Joffily faz do filme essa questão. O resultado se assemelha muito mais a Crash, de Paul Haggis - em que todo e qualquer instante é tomado pelo desespero do cineasta em provar a própria visão de mundo - do que, por exemplo, Um Plano Perfeito, em que Spike Lee, na ânsia de questionar a efervescência de raças (e o preconceito advindo disso em pleno coração da América), faz um filme de assalto em que o menos importante - se olhado para além da superfície - é o resultado da ação dos criminosos.

A sutileza do carinho
Em chave oposta, o documentário Só Dez por Cento é Mentira, de Pedro Cézar, faz retrato muito carinhoso de sua figura central, o poeta Manoel de Barros. Cézar consegue o impossível: entrevistar o espirituoso Barros, um recluso assumido e notório.

Essa presença física e cênica do poeta (ele é figura rara) é paradoxalmente a camisa-de-força do filme. Se, por um lado, cada entrada das palavras faladas e escritas de Barros é uma preciosidade total, por outro o filme carece de mais do que isso enquanto articulador de imagens, sons e letras. É como se Pedro Cézar, seja satisfeito em ter o poeta no filme, seja inibido exatamente pelo mesmo motivo, não tivesse coragem de aprofundar um pouco mais as questões levantadas.



Nisso, o documentário se torna pouco expressivo, porque se sustenta apenas por uma presença. É um mecanismo passível de "salvar" uma série de filmes recentes - Um Homem de Moral, sobre Paulo Vanzolini, Mamonas, o Doc, de Cláudio Khans, exibido em Paulínia; ou mesmo o besta Caro Francis, também apresentado aqui, em que Nelson Hoineff é generoso ao mostrar vários momentos de antologia com o jornalista Paulo Francis.

Talvez "salvar" não seja o melhor termo. "Legitimar" está mais próximo do que acaba acontecendo com estes filmes. Criados para prestar tributo a figuras da cultura brasileira, tornam-se peças irrelevantes (num sentido mais expressivo) por terem carinho demais e atenções estéticas de menos. É o tipo de trabalho que, ao final, o pensamento corrente se resume a um "Ok, é um filme válido". Mas, de filmes válidos, bem... Estamos cheios.

Paulínia: "À Deriva", de Heitor Dhalia

por Marcelo Miranda

O filme passou na quinta-feira da semana passada, mas ainda vale falar dele. Este texto foi escrito no dia seguinte à exibição, mas por motivos diversos entra apenas agora. Segue:

Verdade mentirosa
Num primeiro momento, surge o estranhamento do universo apresentado em À Deriva, se pensado em relação aos filmes anteriores de seu diretor, o pernambucano Heitor Dhalia. Saem os personagens esquisitos e/ou atormentados de Nina e O Cheiro do Ralo, entram seres supostamente “reais”, com problemas típicos do cotidiano de uma família; saem as ambientações expressionistas ou a sujeira do ambiente para aparecer na tela uma geografia formada basicamente por penhascos, casas de veraneio e água – muita água. É como se o filme não fosse do mesmo Dhalia de antes, o que, para quem não tinha simpatia com os outros dois trabalhos, talvez possa soar promissor.

Porém, na medida em que se desenvolve, À Deriva revela o que realmente o torna um filme já identificado a Heitor Dhalia: a visão de mundo fetichista e pouco humanizada e a forma como os personagens são inseridos no espaço e na interação entre uns e outros. A impressão que se vai tendo a cada nova cena é de que estamos testemunhando os experimentos de ratinhos de laboratório que obedecem a estímulos enviados pelo cientista dominador de tudo. Se usarmos a metáfora da água, tão cara ao filme, podemos transferir a analogia para peixinhos num grande aquário controlado, nadando de acordo com o movimento da água estimulado por alguma força exterior.

Porque, apesar de lidar com seres humanos em contato com natureza, pouca verdade nasce das imagens de À Deriva. É perceptível a intenção de captar os mecanismos que provocam a desagregação familiar cuja trama é central no filme. O problema maior surge quando se percebe que o longa é desenvolvido sob a perspectiva de um criador que demonstra já ter entendido (ou achado ter entendido) do que ele está falando: em vez de testemunhar uma espécie de “tempo real” da desagregação, com o filme seguindo o ritmo do que os personagens sentem, temos conceitos previamente mapeados e agora, finalmente, impressos na película, cabendo ao diretor provar, diante de uma plateia, os seus pontos de vista sobre aquelas situações. Não me surpreenderia se um debate sobre este filme for daqueles em que importa menos apontar escolhas estéticas/expressivas sobre a realização do que explicar, didaticamente, o que se quer dizer com aquelas imagens.

Filme de tese dos menos discretos, À Deriva procura obsessivamente uma “beleza de imagem” em que importa pouco a humanidade do que se mostra e muito mais a construção do quadro como algo perceptível de ser milimetricamente moldado no intuito de parecer bonito – e, preferencialmente, desvinculado de qualquer ranço geográfico que possa “entregar” alguma verdade espacial sobre a qual o filme prefere se omitir (apesar de filmado nas praias de Búzios, no Rio de Janeiro, nada nos indica sequer que a ambientação seja no Brasil – incluindo os rostos “europeizados” de todo o elenco, em que o irônico paroxismo se dá na escolha do francês Vincent Cassel como figura central da narrativa).

O resultado é o esvaziamento daquelas imagens, tornando-as anódinas, insípidas, inodoras, quiçá incolores – o filme tem cores, mas elas são tão falsamente trabalhadas que fica difícil relacioná-las ao drama para além da superfície do plano. Vide a cena-chave em que a protagonista (a garota Laura Neiva) se entrega a um homem pela primeira vez: num barco à deriva (a relação com o título, aqui, é a mais óbvia possível), o casal transa sob uma luz amarela que ilumina parte de seus corpos. Num corte, vê-se o sol crescente (e muito amarelo) diante do mar infinito. Se isso já é retrógrado numa novela das oito, imagine num filme de caráter pretensamente artístico.

Na noção de peixinho de aquário que o filme cria entre espectador e realidade fílmica, À Deriva utiliza elementos de linguagem que, na melhor das definições, está próximo do artificial. Da utilização em excesso da música como propulsor do drama, retira-se a possibilidade daqueles personagens respirarem (algo explicitado ao extremo no momento em que a mãe, vivida por Débora Bloch, é encontrada caída dentro de casa); das pistas falsas que vão brotando rumo à reviravolta do enredo, pouco sobra de coerência e coesão relativas às próprias imagens (o que era para ser o ápice do filme – o diálogo entre mãe e filha, em que esta descobre a verdade sobre a crise de seus pais – soa como um monólogo explicativo em que quase é possível ler na tela as palavras do roteiro); da obviedade dos simbolismos plantados nas atitudes dos protagonistas, ascende o olhar pré-definido e determinista do realizador para com suas criações (o homem se torna pai de família responsável e redimido quando resolve lavar a louça); e a visão do sexo como “resolvedor de conflitos” (a garota que se solidariza com o pai depois de transar), antes de qualquer ponto de vista moral, é próxima da infantilidade.

Aí está outra analogia possível de ser feita: À Deriva lembra uma brincadeira de criança, com um bando de bonequinhos modelados de acordo com as vontades de seu dono.

PS: uma observação pessoal. Enquanto assistia a À Deriva, aquelas imagens e enredo me remetiam a um filme da Nova Zelândia pouquíssimo visto. Chama-se Chuva de Verão, tem direção de Christine Jeffs e foi lançado em 2001 (nem sei se passou pelos cinemas brasileiros, mas tem cópia em DVD disponível). Eu recordava de haver semelhanças entre um e outro, mas, pesquisando aqui e agora, percebi (e me lembrei com mais propriedade) de que é quase o mesmíssimo filme – não apenas no enredo, praticamente o mesmo (no sentido estrito do termo), mas também nas escolhas estéticas algo atabalhoadas de cada cineasta para com o mundo que explora.


Só por curiosidade, veja os cartazes de cada filme, para sentir o "universo": um está aqui, o outro está aqui.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Paulínia III - Dias melhores vieram

por Marcelo Miranda, de Paulínia (SP)

Depois da catástrofe que foi a exibição de Destino, de Moacyr Góes (veja post abaixo) e de filmes de escolhas formais bem questionáveis (À Deriva, Caro Francis), o Festival de Paulínia deu uma "acalmada" nos últimos dois dias. Pelo corre-corre de outros afazeres, não vou poder, agora, escrever detalhadamente de cada filme visto ontem e hoje. Por enquanto, recomendo a leitura dos colegas Francis Vogner e Cesar Zamberlan, sem dúvida alguma as melhores e mais isentas e críticas coberturas do evento este ano.

Só adianto que Quanto Dura o Amor?, segundo longa de Roberto Moreira (fez antes Contra Todos), tem estética e temática muito distantes da estreia do diretor. Saem o ambiente apodrecido, os personagens amorais e a câmera tremulante, entram a urbanidade efervescente de São Paulo, pessoas típicas do cotidiano de uma grande cidade e uma câmera quieta, quase serena, mais preocupada em acompanhar os corpos do que em empurrá-los rumo a um poço sem fundo (como era em Contra Todos). Ainda que frágil (a impressão é de que o filme pode se despedaçar num mínimo sopro de um olhar mais rigoroso), é trabalho a se atentar, especialmente pelo entrecho protagonizado por uma advogada que começa a namorar um colega de trabalho. Dali vem a melhor cena do filme e uma das construções de personagem e situação mais delicada dos últimos meses no cinema brasileiro.

Visto também Moscou, de Eduardo Coutinho. Esse merece muito mais que um post corrido de blog. É filme que bate pesado, que carece de profunda reflexão. Quem esperar algo na linha dos trabalhos anteriores de Coutinho, já pode se desarmar. Sem sair do seu universo e da sua forma de narrar e documentar, mas ao mesmo tempo virando tudo de cabeça pra baixo, o cineasta dá uma guinada meio assombrosa. Carece de decantação, então voltemos a ele posteriormente.

Tenho texto pronto de À Deriva, do Heitor Dhalia, feito ainda no primeiro dia. Daqui a pouco posto aqui.

domingo, 12 de julho de 2009

Paulínia II: filmes para o cinema

por Marcelo Miranda, de Paulínia (SP)

Um festival de cinema tem responsabilidades. Ele é, ao mesmo tempo, o retrato da produção de um determinado período e a visão sobre o tipo de arte que o evento busca para si e também na relação com quem se submete a ele. No post abaixo, comentei meio apressadamente uma certa falta de olhar de festivais brasileiros, em suas respectivas últimas edições, para com algum cinema que não seja meramente ilustrativo ou "bonito".

Pois na noite de sábado, dia 11, o II Festival de Paulínia deixou explícito o que já estava sendo configurado desde o dia da abertura: a disposição em dar espaço a filmes "de projeto", em vez de filmes "de cinema". A exibição do catastrófico Destino, de Moacyr Góes, levou às raias do inacreditável a capacidade de um evento cinematográfico não se levar a sério. Gastar linhas aqui simplesmente falando mal do filme seria perda absoluta de tempo e espaço: se um projeto como esse não tem qualquer tipo de cuidado minimamente artesanal, incluindo aí o descaso com narrativa, estética, ambientação, elenco, montagem, roteiro e qualquer outro elemento formador de um filme - um bom ou um mau filme, mas um filme -, então destroçá-lo numa crítica se torna irrelevante diante da mendicância primal daquilo que nos é mostrado na tela.

Porém, a omissão não deve acontecer quando se tem um festival como Paulínia, que se quer relevante, mas permite, num limitado universo de apenas seis longas de ficção em competição, um trabalho como Destino estar entre os selecionados. A relação com o filme é algo que ultrapassa o gosto, os parâmetros ou a formação do crítico ou do espectador: sob todo e qualquer aspecto, Destino é indefensável.

Para não se achar que baixou o fascistoide neste que aqui escreve, é necessário registrar que Lucélia Santos, produtora e protagonista do filme, disse no palco, antes da exibição: "este é o nosso bebê. Não é um bebê perfeito, mas é o único que temos". No dia seguinte, durante debate, ela voltou a reconhecer o quanto o projeto é falho: "claro que a minha vontade era termos um filme perfeito, mas isso não aconteceu. O roteiro tem problemas graves e faltou à direção tentar salvar as nossas vulnerabilidades. Mas, agora que o bebê existe, não vou abandoná-lo". O debate, aliás, transformou-se em uma missa de corpo presente, onde os pais (o outro produtor, Diler Trindade, estava na mesa) reconheciam e pediam desculpa por terem gerado uma deformidade.

Só que não falamos, aqui, de um ser humano. Falamos de um filme, de um suposto objeto artístico que, se não tem obrigação de ser o melhor do mundo, tem, sim, compromisso em responder às suas próprias limitações. O que se viu, tanto na tela quanto no debate, foi uma completa condescendência à propalada necessidade do projeto existir, seja a que custo for. Se é preciso um abominável entrecho do filme em que a ação pára enquanto se faz propaganda de uma enorme gama de produtos (há marcas de roupas, joias, sandálias, bombons, sucos, cachaças e até água de coco), que seja, pois, sem isso, "o filme não existiria", nas palavras de Lucélia Santos. Se houve divergências no desenvolvimento do roteiro ou mudanças completas no andamento de tudo, ou mesmo a necessidade de sete montadores, que fique o que restou do conceito original. Se foram feitas várias versões do filme (Diler falou: temos o filme 1, o filme 2 e o filme 3. O que vocês viram é o 3"), pouco importa se isso expõe as fragilidades da proposta. O negócio é fazer o filme de qualquer jeito, mesmo que destrambelhadamente, e depois "não abandoná-lo".

O questionamento, aqui, está longe de "proibir" um filme como Destino de existir ou ser exibido. Se há alguma instância passível de ser mais cobrada, nem é a dos realizadores, mas a da curadoria que escolhe exibir algo assim: se o filme é um despautério, se os produtores reconhecem a ineficácia do projeto tão acalentado, se não existe ambição de lançá-lo nos cinemas posteriormente - enfim, se não existe nada -, então qual a justificativa para ele competir num festival, sob o jugo de um júri que pode inclusive se sentir no compromisso de lher conceder algum prêmio?

Destino não é caso isolado. É apenas o mais gritante. Suas deficiências são evidentes e não há quem não consiga vê-las. Ele é o paroxismo de uma seleção até aqui muito pouco preocupada com cinema propriamente dito. O que se viu até agora em Paulínia são filmes "bonitos e sensíveis" (À Deriva), outros fofinhos e inofensivos (O Contador de Histórias), projetos "relevantes" (Destino) e, no caso dos documentários, a visibilidade de figuras conhecidas do público (Caro Francis e Mamonas, o Doc).

Em diferentes proporções, são todos falhos na maneira como se articulam enquanto obras de cinema, tendo sempre como prioridade exaltar algum valor ou transmitir qualquer tipo de "mensagem" - ainda que de forma torpe (Caro Francis) ou transformando os personagens em ratos de laboratório (À Deriva) -, em vez de se portarem como exaladores de sons, imagens, rostos, vozes, que, juntos, formem uma outra coisa que normalmente se chama "cinema".

Os filmes exibidos em três dias de Paulínia existem para o cinema, e não pelo cinema.

sábado, 11 de julho de 2009

o que acontece com nossos festivais?

por Marcelo Miranda, de Paulínia (SP)

Conversa de pé de ouvido entre alguns jornalistas e críticos presentes no Festival de Cinema de Paulínia dão conta de que o evento não parece muito estimulante para além de se conhecer os filmes que aqui estão sendo exibidos. De fato, até o momento, com três longas e dois curtas apresentados, o cenário é meio desolador. Os colegas Francis Vogner, da Cinética, e César Zamberlan, do Cinequanon, também aqui presentes, comentaram do assunto em seus respectivos espaços.

Eu amplio a impressão: a modorria tem dominado os festivais de cinema brasileiros quase como um todo. Tenho rodado por vários deles ao longo do ano, e a impressão é de que o conflito, o choque, o encantamento possível de ser proporcionado por um filme tem dado lugar a brigas de alcova, curadorias comprometidas com outros elementos que não o cinema, festas e coquetéis incessantes, debates marcados por muita informação e pouca reflexão (as mesas têm se tornado bancadas para os realizadores desfiarem todo o processo de concepção dos filmes, tornando tudo uma espécie de revista de bastidores administradas por via oral) e - certamente o mais grave - filmes pouco estimulantes a quem busca algo maior que o feijão-com-arroz ou o "bem realizado".

Não se questiona, aqui, a qualidade técnica dos filmes. À Deriva, de Heitor Dhalia e longa inaugural de Paulínia, é impecável - e, muito por isso, quase insuportável na obsessão em parecer artístico, delicado, sensível, fofinho. Faltam, no geral de vários dos festivais recentes, ousadia, risco, afrontamento. Faltam sacudidas que espantem o marasmo estético e narrativo. É preciso parar de ter medo ou de se acomodar nas facilidades de um tema "relevante" ou passível de condescendência.

É claro que existem as exceções. O Festival de Brasília 2008 só se tornou menos entendiante porque havia FilmeFobia - que, goste-se ou não, provocou calorosas reações - e Tudo Isto me Parece um Sonho, de Geraldo Sarno, que infelizmente não teve nenhuma outra repercussão depois do fim do evento. Porém, o Cine PE, em Recife, foi dominado por produções no máximo medíocres, e é sintomático que o vencedor tenha sido Alô, Alô Terezinha, de Nelson Hoineff, que aposta na ridicularização de seus entrevistados e parece se refestelar nas risadas incessantes de uma patuleia de espectadores dispostos a debochar da humilhação alheia. Gramado nem tenho muito a comentar: ainda que tenha premiado nos últimos anos Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, e Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais, de Carlos Alberto Prates Correia, isso em nada ajudou na visibilidade dos filmes dentro do circuito ou sob o jugo do espectador - e pareceram vitórias muito mais na tentativa de trazer alguma seriedade ao já patético evento-Gramado do que propriamente fazer dele vitrine relevante da produção.

Aqui em Paulínia, já tivemos, além da assepsia de À Deriva, o documentário Caro Francis, novamente de Hoineff, e a ficção O Contador de Histórias, de Luiz Villaça. O primeiro se sustenta numa visão torta do que foi o controverso jornalista Paulo Francis e tem momentos de real constrangimento - um cachorro de cabeça para baixo surge no plano enquanto Sérgio Augusto fala do perfilado; um gato de estimação praticamente ganha um curta-metragem só para ele dentro da estrutura em blocos do filme; entrevistados são ridicularizados ou diminuídos no que falam, em contrapontos a outras pessoas ouvidas; e por aí vai. Já o filme de Villaça (sobre personagem real que saiu da Febem, foi educado por uma professora francês e se tornou pedagogo) é todo bonitinho, bem contadinho, honestinho e igualmente bobinho. É inofensivo sob todo e qualquer aspecto - e não há mal algum nisso, exceto o de que, após o filme, não se retém nada muito significativo.

Hoje tem um documentário sobre os Mamonas Assassinas e a nova ficção do Moacyr Góes, Destino, coprodução com a China. Salvo reviravolta que teria tudo para provocar uma fissão nuclear sacolejante, será mais uma noite em que o assunto do jantar será se a carne está muito ou pouco salgada.

PS: há de fazer justiça à Mostra de Cinema de Tiradentes. Já faz 12 anos que a pequena cidade mineira se torna, em janeiro, um verdadeiro oásis de novidade, inventividade e surpresas, dando prioridade a cineastas jovens ou a trabalhos de verdadeiro risco, sem, com isso, cair n'algum nicho ou caixinha que o transforme num evento "cabeçudo". Tanto é que as sessões ficam entupidas, assim como os debates, e o fato de os espectadores rotineiramente terem algum tipo de reação mais exacerbada na relação com os filmes (especialmente após as sessões) demonstra que alguma coisa sempre acontece em Tiradentes.

Um dos vários aspectos da mostra, desde seu começo, é o de pensar a curadoria não como os filmes em que os selecionadores mais gostam, mas, sim, os que eles acham mais importantes de serem apresentados a uma plateia, sejam por quais motivos ou critérios forem. É uma outra perspectiva, que deveria servir mais de exemplo.

Paulínia I


por Marcelo Miranda

Estou no II Festival Paulínia de Cinema. A abertura se deu na noite de quinta-feira, em que o menos importante pareceu ser o filme (no caso, À Deriva, de Heitor Dhalia). Tapete vermelho, trajes de gala, hall de entrada da sala de exibição repleto de gente empedernida cujo interesse maior devia ser apenas estar ali e aparecer nos flashs (não à toa, os fotógrafos que lá estavam apenas viravam suas câmeras para quem estivesse devidamente trajado para a ocasião). Depois de duas horas de atraso, a sessão finalmente começou, ainda que, mesmo dentro do Theatro Municipal de Paulínia, a quantidade de gente de pé ou circulando entre uma e outra fileira dava a impressão de que a confraternização apenas havia se transferido para dentro do lugar.

Destaque para a performance de um grupo de crianças, ora fantasiadas de dançarinas à Bob Fosse, ora com roupas de bichinhos que as faziam parecer as crianças protagonistas dos comerciais da Parmalat. Enquanto os (supostos) grã-finos passavam pelo tapete, a turma da dança se apresentava num palco ao lado, se esforçando para parecer dentro do compasso.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Arbus/Kubrick

por Ursula Rösele

Em 1967, a fotógrafa Diane Arbus encontrou as irmãs "creepy" que viriam a inspirar Stanley Kubrick em seu filme "O Iluminado" (1980). Não sei quanto a vocês, mas se eu as vejo, sou capaz de correr.

Diane Arbus, "Twins":



Gêmeas em "O Iluminado":







segunda-feira, 6 de julho de 2009

Balé de balas

por Marcelo Miranda

Já que falamos em Johnnie To no post abaixo, alguns momentos inesquecíveis dos anos 90 do que um bando de homens armados (e grandes cineastas comandando a turma) é capaz de fazer.

Fervura Máxima (1992), de John Woo



Fogo contra Fogo (1995), de Michael Mann



The Mission (1999), de Johnnie To


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Isto é Johnnie To

por Marcelo Miranda

Tudo por uma mala.


Lau Ching Wan e Andy Lau em Running Out of Time (1999), de Johnnie To.

Lançado em DVD no Brasil com o título Jogo da Vingança.

quinta-feira, 2 de julho de 2009