segunda-feira, 31 de maio de 2010

sábado, 29 de maio de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

Apichatpong, o Joe



por Marcelo Miranda

Por pouco, o diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul não consegue vir à Riviera Francesa apresentar seu novo filme na competição do 63º Festival de Cannes. Ele teve dificuldades de sair de seu país, por conta da guerra civil que tomou conta do lugar na última semana. "Tive problemas com o passaporte e fui a três embaixadas até conseguir embarcar. Estou com medo da volta", disse ele ontem aos jornalistas.

Weerasethakul (ou Joe, como é mais conhecido) está na Croisette exibindo "Uncle Bonmee Who Can Recall His Past Lives" (ou "Tio Bonmee que pode recordar suas vidas passadas", em tradução livre). O filme marcou outro momento memorável desta edição do evento. Uma Palma de Ouro a Joe não seria de todo imprevisível e ainda iria coroar uma decisão corajosa do júri presidido por Tim Burton. A premiação acontece domingo.

O cinema desse tailandês de 39 anos não se parece com absolutamente nada do que você já viu ou verá, sob todo e qualquer aspecto. Há vários cineastas ímpares assim, mas o caso de Joe é ainda mais forte por vir de uma periferia do mundo como é a Tailândia, sempre sofrendo com toda dificuldade possível a uma nação do terceiro mundo. Imaginação como a de Weerasethakul só poderia brotar num ambiente desses, e o tipo de trabalho que ele faz só tem sentido quando o espectador limpa olhos e mentes de quaisquer noções prévias do que acredita que um filme deva ser, e embarca virgem para a experiência sensorial e estética proposta por Joe.

"O cinema é basicamente ilusão. Eu queria usar elementos para criar verdadeiras ilusões porque o cinema também pode preservar o espírito das pessoas", disse o cineasta em Cannes. O teor metafísico de Joe tem relação direta com suas crenças e seu projeto artístico. "Uncle Bonmee" parte da noção oriental de reencarnação, muito mais ampla que a ocidental. "Acredito na transmigração de almas entre humanos, plantas, animais e fantasmas. O filme mostra a relação entre homens e bichos ao mesmo tempo em que destrói a linha divisória entre eles", explicou.

Seria injusto e pouco produtivo tentar descrever ou definir do que trata o filme. Existem personagens, a ficção é embebida da realidade, há um roteiro como ponto de partida. Mas só isso é pouco. O mesmo pode ser dito de qualquer longa anterior de Weerasethakul, diretor injustamente quase nunca exibido no Brasil (apenas em mostras) e que acumula até o momento seis longas-metragens. Dois deles foram premiados em Cannes: "Eternamente Sua" (2002) ganhou troféu de melhor filme da mostra Um Certo Olhar (paralela à competição) e "Mal dos Trópicos" (2004) ficou com o Grande Prêmio do Júri. "Síndromes e um Século" (2006) teve passagem de respeito pelo Festival de Veneza, na Itália.

Algumas palavras-chave dão vaga noção do que se vê e sente nos filmes do diretor: floresta, grilo, caverna, calmaria, espíritos, sombras, ironia, água, música. "Quando alguma coisa é representada através do cinema, ela se torna memória coletiva de quem a assiste", comenta Joe. "Eu estou interessado em explorar as entranhas desse processo".

"Uncle Bonmee" é o mergulho mais radical de Weerasethakul nesse compartilhamento de sentimentos com o público. A naturalidade ao lidar com questões como reencarnação, espiritismo e choque cultural provoca imediato estranhamento, para logo depois transformar qualquer interrogação em puro fascínio. Só filmada por alguém com olhar depurado e sem vícios, uma cena de sexo entre um bagre e uma garota numa cachoeira soa como a coisa mais bonita e comum do mundo.

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 22.5.2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Copie Conforme, Kiarostami e Binoche

por Marcelo Miranda

Juliette Binoche foi às lágrimas durante encontro com a imprensa mundial no começo da tarde de ontem, em Cannes. Na Riviera Francesa para exibir o novo filme no qual é protagonista, "Copie Conforme", do iraniano Abbas Kiarostami, a atriz francesa não conteve a emoção ao ser informada, durante a coletiva, que o diretor Jafar Panahi, preso desde março no Irã por supostamente defender ideias contrárias ao regime local, teria começado uma greve de fome.

Quase a metade da entrevista com Kiarostami e Binoche girou em torno de Panahi. O próprio diretor, antes mesmo de ouvir qualquer pergunta, adiantou: "Sei que viemos aqui para falar do nosso filme, mas me deem apenas um minuto que eu pretendo comentar uma grande injustiça e violência", alertou. "Já devem saber que estou falando de Jafar Panahi. Quando vinha para cá, recebi recado de que a esposa dele queria falar comigo. Espero boas notícias".

Em seguida, Kiarostami foi desiludido: uma repórter francesa pediu a palavra e disse que a novidade era que Panahi iniciaria greve de fome. Nesse momento, Binoche, entristecida desde quando entrara na sala de conferências, começou a chorar, gesticulando para que os fotógrafos se afastassem, e recebendo um lenço da organização.

"Um cineasta preso por fazer seu trabalho é uma coisa intolerável. Filmar não pode nunca ser considerado um crime", frisou Kiarostami. "No Irã, os diretores independentes sempre vivem esse drama: se o governo não gosta do filme ou fica sabendo de alguma repercussão no exterior, logo pensa que tem algo a ver com os ocidentais", denunciou.

Enfim, sobre "Copie Conforme" (ou "cópia autenticada", em tradução livre), Kiarostami deu verdadeira aula de cinema. Não apenas com o filme em si, excelente, mas com cada uma de suas palavras sobre ele. "Eu queria colocar em cena duas pessoas discutindo relações de amor, fosse verdade ou mentira. Mas isso era pretexto para questões bem mais complexas que me interessavam", disse.

Em "Copie Conforme", Kiarostami muda completamente o tom de seu cinema. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes com "Gosto de Cereja" (1997), o iraniano sempre foi adepto de filmes mergulhados na realidade pobre de seu país e em figuras anônimas (não-atores selecionados nas próprias locações) tentando sobreviver, como em "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" (1987) e "O Vento nos Levará" (1999). Na última década, o diretor mergulhou em verdadeiros experimentos, casos de "Dez" (2002), "Five" (2005) e "Shirin" (2008), nos quais Kiarostami ambicionava "desaparecer" com o ofício de diretor, tentando fazer filmes que nascessem no contato câmera-objeto/rosto.

Eis que Kiarostami surge neste ano com um aparente romance protagonizado por uma estrela do cinema europeu (Juliette Binoche) e um cantor de ópera inglês (William Shimell), que circulam pela Toscana, na Itália, discutindo aspectos do amor, da arte, da vida e da atração homem-mulher. Em meio à construção crescente e surpreendente, mesclando diálogos em inglês, francês e italiano, e captando a ambientação por onde o casal transita, brota de "Copie Conforme" um drama de relacionamento como poucas vezes se assiste. Binoche está num papel que é presente a qualquer grande atriz, e o qual a francesa agarra com fervor.

Mantendo a postura autoral, "Copie Conforme" põe em questão encenação, construção, representação, arte: é aí que se percebe estarmos, de fato, no mundo de Kiarostami (um mundo paralelo, mas ainda o dele); todo o peculiar encaminhamento do longa e a forma estética que o diretor lhe dá engrandecem a experiência da projeção - e a tornam tão encantadora quanto perturbadora. "Esse filme é tão misterioso a mim quanto o é para vocês", disse Binoche.

"Sempre me envolvi com meus personagens porque eles são parte de mim", afirmou Kiarostami. "Claro que sou aquele homem, mas sou também a mulher e o filho dela. São todos nascidos do meu interior, e é essa relação que eu crio com os filmes que faço".

A vontade de fazer o filme surgiu fortemente quando Abbas Kiarostami soube do interesse de Juliette Binoche em trabalhar com ele. “Vi uma entrevista na qual perguntavam se ela queria ir fazer filmes em Hollywood; a resposta foi que ela queria filmar comigo”, lembrou. Ao lado do diretor, Binoche confirmou e disse ter ido visitar o Irã para saber sobre a vida das mulheres no país.

Ao receber o roteiro com informações de sua personagem, Binoche ficou perplexa. “Ela parecia uma louca”, afirmou, aos risos. “Fui logo pesquisar na internet em busca de mulheres que fossem neuróticas, mas Abbas me disse: seja você mesma. Foi quando entendi que qualquer mulher poderia ser como aquela personagem, que tenta inventar outra existência para si mesma”.

Aos 46 anos, Binoche está em grande fase autoral desde 2005. De lá até aqui, filmou com o austríaco Michael Haneke (“Caché”), o chinês Hou Hsiao-Hsien (“A Viagem do Balão Vermelho”), o israelense Amos Gitai (“Aproximação”), o francês Olivier Assayas (“Horas de Verão”) e anunciou projetos com outros dois cineastas da China, Jia Zhang-ke e Jiang Wen.

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 19.5.2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Juliette Binoche em Cannes

Filmado por Marcelo Miranda

Juliette Binoche em Cannes, em três tempos.

A entrada na sala de imprensa



As lágrimas por sensibilidade a Jafar Panahi, preso no Irã



Um momento de alegria

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Copie Conforme, Kiarostami



por Marcelo Miranda

Se eu fosse dar Palma de Ouro para algum dos filmes exibidos até agora na competição de Cannes, ia para "Copie Conforme", pérola do iraniano Abbas Kiarostami, pela primeira vez trabalhando fora de seu país. É um romance incrivelmente original e complexo, que passa na tela como a coisa mais simples do mundo. Tem Juliette Binoche num papel que é um presente a qualquer grande atriz (como ela), e que a francesa agarra com fervor. A foto aí acima é de uma cena-chave.

Filmado em lindas paisagens de uma comunidade italiana e mesclando discussões sobre relacionamentos a um perturbador jogo de representação, Kiarostami faz, desde já, um dos grandes filmes do ano, quiçá dos últimos anos.

O diretor já ganhou a Palma em 1997, com "Gosto de Cereja", trabalho totalmente vinculado ao seu até então estilo próprio de filmar e narrar. Há uma guinada em "Copie Conforme", mas Kiarostami segue um autor que tem muito a nos deixar perplexos, seja em qual chave ou tom ele decidir trabalhar.

Novo filme de Iñarritu, nada bonito



por Marcelo Miranda
Depois de três filmes misturando histórias, personagens, tempos e espaços, o cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu estava cansado. Queria fazer algo mais direto. Realizou "Biutiful", seu quarto longa-metragem, exibido ontem, dentro da competição do 63º Festival de Cannes.

"Fiquei exausto depois de rodar o globo para fazer ‘Babel’", disse ele, sobre o filme de 2006 que lhe rendeu o prêmio de melhor direção aqui mesmo em Cannes, e cujo enredo se espalhava por três países (EUA, Marrocos e Japão). "Prometi a mim mesmo que faria um próximo filme simples, com um personagem, um único ponto de vista, uma só cidade e falado na minha língua", brincou.

A renovação foi o tema central da conversa de Iñarritu com os jornalistas em Cannes. O que não foi sequer mencionado é o fato de "Biutiful" marcar a primeira experiência do diretor sem a parceria com o roteirista Guillermo Arriaga. Juntos, eles fizeram "Amores Brutos" (2000), "21 Gramas" (2003) e o citado "Babel". Por desentendimentos artísticos - Arriaga exigia crédito de coautor nos filmes -, os dois se separaram e seguiram caminhos distintos.

Curiosamente, um somou a função do outro em seus projetos seguintes. Arriaga escreveu e dirigiu "Vidas que Se Cruzam" (2009), enquanto Iñarritu dirigiu e escreveu "Biutiful" junto com o colega roteirista Armando Bo. "Eu quis experimentar novas formas de narrativa e estrutura. Fiz algo diferente de tudo o que já tinha realizado mas, ao mesmo tempo, igual, com as mesmas obsessões", afirmou.

As obsessões de Iñarritu se referem ao apocalipse da intimidade que ele tanto gosta de abordar. Em "Biutiful", o enredo se concentra em Uxbal (Javier Bardem), homem bom, divorciado, com a guarda dos filhos e sempre na luta para viver com dignidade. Um dia, ele descobre que está com câncer terminal. No pouco tempo que lhe resta, Uxbal tentará fazer o que acredita ser certo, mesmo com "o mundo inteiro contra ele", nas palavras de Iñarritu.

É outro filme mundo-cão do cineasta, tomado por um tom melodramático, que nem sempre funciona muito bem. Iñarritu poetiza demais alguns pequenos gestos, o que o deixa no limite entre o sensível e o cafona - e não parece ser essa a intenção num filme de pegada tão séria. Apesar de todo o mergulho no inferno do dia a dia, Iñarritu defende ter feito seu trabalho "mais otimista".

"Há muita esperança. Estou falando de relações próximas numa era dominada pela internet e na qual todos vivemos distantes uns dos outros. A privacidade se tornou o movimento punk moderno", protestou Iñarritu. Jornalistas bateram palmas, e ele logo completou: "Só temos visto filmes com explosões, cinismo, matança. Isso é a vida? É engraçado? Eu acho depressivo", questionou.

Iñarritu pareceu dar uma resposta quase explícita ao concorrente da noite anterior. "Outrage" (ultraje), do japonês Takeshi Kitano, também concorrente à Palma de Ouro, mostra a guerra entre duas gangues de mafiosos numa Tóquio dominada por vingança e violência. O tom quase farsesco de "Outrage" contrastou com a pegada supostamente "vida real" de "Biutiful". O embate de atmosferas cria algumas distâncias interessantes na competição, que segue até sábado.

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 18.5.2010

"Aurora", Puiu e o cinema romeno


por Marcelo Miranda

Em 2005, a pequena produção romena "A Morte do sr. Lazarescu" venceu o prêmio principal da mostra paralela Um Certo Olhar, no Festival de Cannes. Porém, seu diretor, Cristi Puiu, precisou ir embora antes: durante o evento francês, ele recebera a notícia de que seu pai havia morrido. Cinco anos depois, Puiu volta à Croisette com o trabalho seguinte, "Aurora". Minutos antes de me conceder uma entrevista exclusiva, o assessor de Puiu comunica: o diretor teve que sair às pressas por "problemas de saúde com o filho". O mais curioso disso tudo é que ambos os filmes de Puiu lidam com mortes ou doenças.

Felizmente, o mesmo assessor do mau agouro entregou um material bastante completo contendo várias respostas do diretor a respeito das questões que seriam feitas em torno de "Aurora", exibido no final da semana, na edição 2010 da mesma mostra Um Certo Olhar que o premiou anos atrás. Quando "A Morte do sr. Lazarescu" foi aclamado, a maior queixa da imprensa no festival era entender por que o filme não estivera na competição à Palma de Ouro - o que lhe daria chances genuínas de vencer no ano em que o irregular inglês "Ventos da Liberdade", de Ken Loach, foi agraciado.

A "pressão" dos jornalistas em 2005 não foi suficiente para o novo Puiu entrar na competição deste ano. "Aurora" é uma experiência ainda mais radical que "A Morte do sr. Lazarescu"; somada às suas três horas de duração, deve ter sido complicado inseri-lo dentro da apertada grade do festival. A única sessão na sala Debussy, na última sexta-feira, estava lotada. Ao fim, a plateia reagiu friamente ao mergulho de Puiu no cotidiano de um homem que mata pessoas. Entrar nos detalhes do enredo de "Aurora" não faria justiça ao efeito perturbador de assisti-lo.

O projeto nasceu a partir de um programa de TV sobre assassinos, ao qual Puiu assistiu na TV romena. "O que me afetou foi saber que a maior parte dos crimes de morte são perpetrados num círculo de pessoas que se conhecem: pais, amigos, colegas de trabalho, vizinhos", diz Puiu.

Em "Aurora", o próprio Cristi Puiu interpreta o personagem central. Aos 42 anos, metalúrgico, recém-divorciado, pai de duas filhas, Viorel é a imagem do homem simples de um país subdesenvolvido. Certo dia ele acorda, vai ao trabalho, caminha por Bucareste (capital romena), compra equipamentos para montar um rifle. Puiu acompanha o passo a passo de Viorel com total detalhamento e paciência. Somente com uma hora de projeção o filme começa a dizer a que veio. Até ali, o espectador já deverá ter mergulhado na interação de Viorel com o ambiente que o cerca - e, mais que isso, estará estranhamente tenso ao tentar decifrar os motivos que fazem aquela figura se preparar para alguma coisa sobre a qual não sabemos absolutamente nada.

"De que forma confrontar a experiência de tirar a vida de outro ser humano tendo por base a nossa experiência de nunca ter matado alguém?", questiona Puiu, a respeito de suas intenções em "Aurora". "Eu quis evitar qualquer tipo de clichê que desse ao ato de matar, no filme, algum viés extraordinário".

A visão seca do filme de Puiu dialoga com trabalhos similares e de universos audiovisuais bem distintos, como o norte-americano "Na Mira da Morte" (1968), de Peter Bogdanovich, e o polonês "Não Matarás" (1988), de Krzysztof Kieslowski - além de uma inspiração óbvia, ainda que aparentemente não assumida: o colossal romance "Crime e Castigo" (1886), de Dostoiévski. "Acho que existe alguma coisa no mundo que nos faz eliminarmos uns aos outros", completa Puiu. "Estamos sempre lutando contra os nossos pensamentos, e o cérebro tem reações mecânicas para controlar os instintos. Mas o mundo que existe na nossa cabeça pode acabar provocando tragédias".

Como em “Aurora”, Cristi Puiu fez em “A Morte do sr. Lazarescu” o desenvolvimento de uma catástrofe íntima. O martírio de um idoso doente procurando vaga em hospitais de Bucareste chocou e encantou plateias dos festivais onde foi exibido. É um dos filmes mais fortes, intensos, políticos e memoráveis do cinema contemporâneo. Ainda assim (ou talvez por isso,) permanece inédito no circuito comercial.

“Lazarescu” abriu caminho para vários outros filmes romenos nascerem em Cannes ao longo dos últimos cinco anos, tendo seu auge em 2006, quando “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” saiu carregando a Palma de Ouro. Na edição 2010, não apenas “Aurora” marca presença. “Marti, Dupa Cracium” (ou “terça, depois do Natal”, em tradução livre), de Radu Muntean, teve exibição também na mostra Um Certo Olhar, a mesma de “Aurora”. De um país pobre da Europa Oriental, com 22 milhões de habitantes, vem uma das filmografias mais expressivas dos tempos atuais.
*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 17.5.2010

Godard

por Rafael Ciccarini

Marcelão já deu o furo lá no Tempo: Godard não vem à Cannes. Passou a perna nos jornalistas, que, após a notícia, entraram num parafuso tão grande (todos já com matérias previstas para o coletiva do homem) que tornaram essa sala de imprensa, já tradicionalmente bastante maluca, em uma zorra poucas vezes vista. Nosso amigo Kléber Mendonça Filho, por exemplo, era visto em pé, procurando por trinta minutos por uma cadeira que simplesmente não existia.

Agora, o mais bacana foi a carta de Godard ao Festival, a qual reproduzo:

Suite à des problèmes de type grec, je ne pourrai être votre obligé à Cannes. Avec le festival, j’irai jusqu’à la mort, mais je ne ferai pas un pas de plus. Amicalement. Jean-Luc Godard.

Problemas do tipo grego?

Precisa vir não, Jean-Luc, nada do que dissesse seria melhor que isso.

domingo, 16 de maio de 2010

O novo de Woody Allen em Cannes

por Marcelo Miranda

O sábado na Croisette foi tomado por Woody Allen. O norte-americano dominou todos os holofotes e flashes possíveis, nesta edição do festival marcada pela falta de títulos com grandes estrelas midiáticas e hollywoodianas (para desespero dos paparazzi e repórteres de celebridades). No caso do filme de Allen, não faltou glamour, especialmente pela presença das atrizes Naomi Watts e Lucy Punch e do ator Josh Brolin. Todos vieram para a exibição, fora de competição, de "You Will Meet a Tall Dark Stranger", 44º filme dirigido por Allen.

Após a primeira sessão mundial do longa, mal terminaram os créditos e a multidão de jornalistas correu para a sala de imprensa, onde Allen e elenco falaram sobre a produção. O filme é mais uma comédia melancólica de Woody Allen, mostrando a ciranda de vários casais de distintas gerações tentando atingir alguma felicidade no amor. Diferente do que possa parecer à primeira vista, o longa tem como mote central a desilusão e a velhice.

O próprio título, "You Will Meet a Tall Dark Stranger", tem conotação dúbia, como frisou Allen: nos EUA, a frase serve como expressão popular dirigida a mulheres esperançosas de conseguir uma paixão ("você vai encontrar um moreno alto") e também pode soar como uma maneira de expressar a chegada da morte.

Como é praxe, Woody Allen, 74, apareceu em Cannes cheio de tiradas irônicas, quase todas de pegada pessimista. "Se eu encontrasse os personagens desse filme numa festa, por mais tolos que eles sejam, certamente eu estaria bem mais infeliz do que eles", disse, logo na primeira resposta a um repórter. "Não sou eu quem disse, mas Nietzsche ou Freud: as pessoas precisam de ilusão para viver e, por causa disso, passam a pregar pequenas mentiras no seu dia a dia".

Cineasta fortemente vinculado a Nova York, em "You Will Meet a Tall Dark Stranger" ele volta a filmar na Europa - e de novo em Londres. "O principal motivo está nos custos, é bem mais barato", afirmou. Há boatos de que Allen esteja se preparando para filmar no Rio de Janeiro, mas nada foi dito na entrevista.

E MAIS
Para além dos filmes em exibição no festival até o dia 23, uma série de controvérsias tem cercado alguns dos realizadores que estarão em Cannes nesta semana. O russo Nikita Mikhalkov, cujo “O Sol Enganador 2” (sequência de um filme dele mesmo, premiado em Cannes em 1994) compete aqui, tem rebatido questionamentos sobre sua suposta simpatia pelo controverso governo da Rússia atual. No país, um grupo de cineastas e críticos circulou petição contra Mikhalkov, intitulada “Não o queremos”.

Já o iraniano Abbas Kiarostami, competindo com “Copie Conforme” – e já vencedor da Palma de Ouro com “Gosto de Cereja” (1997) –, deverá estar preparado para responder a perguntas sobre sua omissão a respeito da prisão do colega conterrâneo Jafar Panahi (diretor de “O Balão Branco”), preso há meses por declarações contrárias ao regime do Irã.

Desde o ocorrido, Kiarostami não deu nenhuma palavra sobre o assunto, num momento em que a comunidade cinematográfica mundial tem feito declarações e abaixo-assinados a favor de Panahi. Por sua vez, o franco-argelino Rachid Bouchareb – realizador de “Outside of the Law”, na competição – despertou a ira de representantes do governo francês, que viram no longa, cujo tema é a polêmica relação entre a Argélia e a França no pós-Segunda Guerra, “erros e anacronismos tão numerosos e óbvios que podem ser apontados por qualquer historiador”. (MM)

sábado, 15 de maio de 2010

Wall Street em Cannes


por Marcelo Miranda

Oliver Stone tem aproveitado o contexto onde vive. Seu filme anterior, "W.", biografava a trajetória pessoal e política do então presidente dos EUA, George W. Bush. Em Cannes, ontem, Stone apresentou, fora de competição, outro trabalho inspirado pelo atual momento histórico: "Wall Street 2 - Money Never Sleeps", continuação de um dos filmes-emblema dos anos 80, "Wall Street" (1987).

Com subtítulo afirmativo ("o dinheiro nunca dorme"), o cineasta volta a retratar o universo das bolsas de valores e dos especuladores financeiros, desta vez sob a ótica de jovens que saem das universidades dispostos a se dar bem nesse disputado ambiente econômico.

Num lotado encontro ontem com os jornalistas que estão em Cannes (imediatamente após a igualmente entupida sessão do filme, no Grand Theatre Lumière, pela manhã), uma turma encabeçada por Stone e Michael Douglas - ator tanto do primeiro filme (pelo qual foi premiado com o Oscar) quanto do segundo - falou sobre a concepção do projeto e os motivos que fizeram o diretor voltar ao personagem Gordon Gekko, encarnado por Douglas.

"Não queria celebrar a cultura da riqueza", afirmou ele, ao relembrar que chegou a recusar uma proposta do próprio Michael Douglas para um segundo "Wall Street", isso, em 2006. Apenas dois anos depois veio a crise financeira mundial, mostrando a Stone que os eventos do filme de 1987 haviam ganhado uma nova proporção no século XXI, dando a deixa perfeita para voltar a falar de economia e cobiça.

"Senti a crise como um grande ataque cardíaco", exaltou. "Parece que nos embebedamos demais (com as seduções do capitalismo) e hoje estamos sem qualquer tipo de regulamentação", afirmou. Ao seu lado, Josh Brolin, que interpreta no longa um ambíguo e selvagem investidor, complementou: "Não existem limites para a acumulação de capital. Tudo o que se quer é sempre mais".

Em "Wall Street 2", o Gekko encarnado por Douglas se assemelha ao Michael Corleone de "O Poderoso Chefão 3", de Francis Coppola: depois dos crimes e pecados do passado, ele retorna como um tipo regenerado, tentando acertar as pontas com a nova vida - no caso, Gekko sai da prisão depois de oito anos de confinamento. Agora, ele é um escritor que sobrevive de palestras sobre suas experiências na especulação financeira, mas logo é novamente engolfado pelos acontecimentos econômicos.

A imagem de "herói" e "vilão" deixa de existir no filme, o que é bastante condizente também com os novos tempos. "A ganância não acaba, e hoje ela é protegida por lei", disse Michael Douglas, reafirmando o caráter anacrônico de Gordon Gekko nos dias atuais. "Ele foi muito bem escrito no primeiro filme e virou uma espécie de modelo para estudantes de MBA que, hoje, tomaram espaço nas companhias de investimento".

Oliver Stone tem uma relação pessoal com o tema de "Wall Street": seu pai foi investidor financeiro, numa época, segundo o diretor, em que tudo funcionava de maneira mais humana e menos mercantilista. "Meu pai sempre foi honesto, na minha visão, acreditando que deveria apenas servir aos clientes. Acho que ele ia revirar no túmulo se soubesse o que seu trabalho se transformou", disse Stone.

Perguntado sobre futuros projetos, Oliver Stone desmentiu dois e confirmou outros dois. O primeiro desmentido foi o de que estaria preparando mais um "Wall Street", desta vez sobre a juventude de Gordon Gekko. "Michael Douglas deveria ser mais jovem para isso acontecer", brincou o diretor, em referência ao ator que encarnou Gekko em dois filmes.

Stone ainda revelou ter desistido do documentário que preparava sobre o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Por outro lado, ele garantiu a conclusão de um outro documentário, este sobre sobre o líder venezuelano Hugo Chávez ("South of the Border"), e contou ter feito uma longa entrevista com o cubano Fidel Castro, também a ser transformada em filme.

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 15.05.2010

Na sala Bazin...

por Rafael Ciccarini

Na fila da sala Bazin para uma sessão das 22:00 do filme africano da Competitiva, a qual perdi na sessão de mais cedo para escrever os textos dos Filmes de Mike Leigh e Woody Allen (cuja sessão hoje foi mais concorrida que a primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos, em 1964). Mais no texto do filme, que vai ao ar amanhã. Sentei no chão, no que fui acompanhando por outros jornalistas, que pareciam esperar a ação do primeiro destemido.

Ainda há uma sessão às 00:40, do filme de Gregg Araki, mas isso significaria ir dormir depois das 03:00 da madrugada, sendo que amanhã haverá nada menos que Competitiva 08:30, Un Certain Regard 11:15, e de tarde Jia Zhang-ke e Takeshi Kitano, isso sem contar sessões nessa mesma sala Bazin, e a programação da Semana da Crítica e da Quinzena. Como ver os filmes, alimentar-se e ainda escrever? Eis o desafio insolúvel de Cannes. Um problema do qual não se pode reclamar, after all.

p.s: terminei o post já dentro da sala, onde a Internet já não pega. Só vou poder postar depois do filme.

p.s: postado. é isso aí.

Em Cannes, Woddy Allen adentra a sala

Filmado por Marcelo Miranda

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Puiu e sua aurora

por Marcelo Miranda



O romeno Cristi Puiu apresentou hoje em Cannes "Aurora", seu segundo longa. Puiu fez o impressionante "A Morte do sr. Lazarescu", exibido e premiado aqui faz poucos anos. Em "Aurora", ele volta a mostrar olhar selvagem e sem falso ilusionismo para a realidade de onde mora. Filme-pancada.

Manoel encanta em Cannes

por Marcelo Miranda

Definitivamente, não existe um cineasta chamado Manoel de Oliveira. Existe um fenômeno intitulado Manoel de Oliveira. Esse senhor português de 101 anos de idade insiste em maravilhar nossos olhos, ouvidos e sensibilidades fazendo um grande filme atrás de outro - quase literalmente com a periodicidade anual de suas produções desde quando ele completou seus juvenis 80 anos.

Em 2009, ele mostrou no Festival de Berlim "Singularidades de uma Rapariga Loura", verdadeira pepita de ouro ainda inédita no circuito brasileiro. No 63º Festival de Cannes, ontem, Manoel apareceu com outro objeto esquisito e maravilhoso. "O Estranho Caso de Angélica" teve exibição na mostra paralela Um Certo Olhar, em sessão de abertura. É um projeto antigo do cineasta, escrito em 1952, quando ele pretendia narrar o drama de um personagem judeu que sobrevivera ao genocídio nazista.

Quase seis décadas depois, o fotógrafo Isaac (vivido por Ricardo Trêpa, neto de Manoel) deixou de ser refugiado, mas mantém a orientação judaica. "Muitos judeus fugiram para a Espanha e Portugal e, depois, vários seguiram para a América. Tirei do roteiro a referência à guerra porque muito tempo se passou, e até mesmo o Douro (cidade onde a história se ambienta) está muito diferente", disse o cineasta.

Manoel apareceu na coletiva de imprensa com seu tipo habitual: sorriso, chapéu, vivacidade. Durante algumas respostas, pareceu confuso. Talvez fosse por estar falando em francês a uma plateia de repórteres estrangeiros. "Acho que ele está envelhecendo" foi uma frase-brincadeira corrente entre quem se encantou com a disposição do português.

"O Estranho Caso de Angélica" conta as angústias de Isaac a partir do momento em que, chamado com urgência para fotografar uma jovem recentemente falecida, vê a moça sorrir para ele através da lente de sua câmera. A partir daí, numa mistura de drama romântico, filme de fantasma e discurso político, o diretor desfia uma teia de diálogos, encenações e relações passionais como só ele faz. Aliás, outro fato sempre importante de ser registrado: um filme com direção de Manoel de Oliveira não se parece com absolutamente nenhum outro objeto artístico. Só mesmo com algum filme de Manoel.

Por entrar em dimensões metafísicas (algo já presente em projetos anteriores do cineasta, como "Os Canibais"), Manoel precisou responder a várias perguntas sobre fé, religião e morte. "Morrer é uma condição absoluta. Quando nascemos, só estamos certos de que vamos morrer", afirmou. "Não tenho medo da morte. Tenho muito medo é de sofrer".

No filme, o fotógrafo Isaac tem visões da garota falecida e passa a procurar respostas sobre o que lhe acontece. Manoel, por sua vez, garantiu: "Nunca passei por esse tipo de experiência. Não sabemos o que vem depois da morte, e esse é o maior segredo".

Até pela noção de filmar o infilmável (a representação da morte), Manoel de Oliveira aproveitou para diferenciar o cinema do teatro - duas artes sempre relacionadas a seus filmes, assim como a literatura. "O teatro é mais honesto que o cinema, porque os filmes transformam pensamentos em sonhos, enquanto, num palco, isso não acontece, por ser uma arte realista, sem intermediação de uma câmera".

Claramente apaixonado pela arte em geral, Manoel frisou o que sempre gosta de fazer: o que significa o cinema. "É o realismo, é o fantástico, é o cômico. Não precisa acrescentar mais nada a isso".

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 14.5.2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Cannes e Robin Hood


por Marcelo Miranda

Russel Crowe entra na sala de conferência do Palácio dos Festivais e se senta. Uma horda de fotógrafos o aguarda diante da mesa e logo pede que ele se levante. Crowe fica de pé, faz pose, careta e, por fim, sorri, meio constrangido. Os cliques se multiplicam, os flashes esbranquiçam mais e mais o rosto do ator. Pode não parecer, mas este é o início da 63ª edição do Festival de Cannes, o mais importante e autoral do cinema mundial. Crowe veio à Riviera Francesa divulgar "Robin Hood", superprodução dirigida por Ridley Scott, que abriu ontem o evento.

Um filme grande (nem sempre um grande filme) tem sido a tônica do primeiro dia de Cannes já faz uns bons anos. A escolha de "Robin Hood", para além de toda a pompa, tem a ver com uma certa falta de títulos de peso midiático prontos em tempo suficiente para carregar este ano tropas de jornalistas ao festival - são aproximadamente 4.000 credenciados.
O que importa, afinal, é "Robin Hood" - cuja estreia no Brasil já será amanhã - abrindo o evento fora de competição.

O antigo personagem de matinês marcou presença nas telas francesas, mas não seu diretor. O inglês Ridley Scott precisou cancelar a vinda a Cannes, por recomendação médica (ele fez uma cirurgia no joelho). Scott, que exibiu no festival seu filme de estreia, "Os Duelistas", em 1977, enviou mensagem frisando a vontade frustrada de estar aqui.

Coube ao australiano Russel Crowe - sorridentemente ajudado pela conterrânea e colega de elenco Cate Blanchett - conduzir a entrevista. Bem-humorado, Crowe não aparentava a figura rabugenta cuja persona ele próprio não se cansa de alimentar: disparou piadas a cada nova resposta, assumiu a paixão pelo futebol, ironizou os próprios jornalistas. E, claro, falou de Robin Hood e do imaginário em torno do personagem.
"Não nos lembrávamos de um filme no qual Robin era mostrado como um indivíduo e nem com suas reais motivações", disse o astro, também produtor executivo do longa. "Me pergunto se ele tem ambições políticas, econômicas, se ele quer ir a Wall Street, ou se ele é simplesmente um cara tentando ajudar as pessoas a viver. Acredito que, se existisse hoje em dia, Robin Hood certamente não ia correr para estourar na mídia".

Blanchett, igualmente à vontade, diz não ter se inspirado em nenhuma outra encarnação anterior de Marian (uma das mais famosas é a de Audrey Hepburn em "Robin e Marian", de 1976, com Sean Connery). "Foi até bom, pois criei uma figura própria". Ao contrário dela, Crowe chegou ao set embebido numa maratona de filmes e séries protagonizados pelo serelepe ladrão da floresta de Sherwood. "Vi de tudo, das encarnações do Douglas Fairbanks e Errol Flynn a um programa de humor feito pelo Mel Brooks".

Diferente das tradicionais versões do herói que rouba dos ricos para dar aos pobres, o filme de Scott mergulha numa faceta pouco conhecida: a de Robin como um guerreiro a serviço da Inglaterra contra o exército francês e o processo até ele se tornar a figura tão marcadamente reconhecida de salvador dos injustiçados. "Inserir elementos históricos gera curiosidade no público, e é isso que um filme como esse precisa ter", definiu Crowe. "As pessoas querem saber sobre como uma figura egoísta provoca uma revolução".
Por diversas vezes, Crowe se desviava do filme e falava de futebol. Ao responder à pergunta de uma jornalista da África do Sul, o ator brincou "Tem muitos países que podem ganhar a Copa, mas a Austrália é que vai dominar o futebol mundial", apostou.

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 13.5.2010

Visões de Cannes

Fotos de Marcelo Miranda


Cannes


Festival de Cannes



Quero ver Robin Hood, SVP


Fotógrafos tentam imagem de Tim Burton


Hora de trabalhar

Escrevendo em Cannes

por Rafael Ciccarini

Escrevendo de dentro do Grand Teathre: em minutos, começa mais um filme da Competição, cuja exibição para imprensa começa pontualmente (e são xiitas nisso aqui) às 8:30 da manhã. Já está no ar crítica de Tournée, de Mathieu Almaric. Correndo por aqui, aprendendo tudo e ao mesmo tempo tentando oferecer um trabalho decente aos leitores.

Ontem também vi Robin Hood, de Riddley Scott e estrelado por Russell Crowe e Cate Blanchett. O que dizer? Mais um filme chato e destituído de maior interesse feito por Scott, esse ex-cineasta em atividade. Aliás, Scott se transformou (ou sempre foi?) em um operário da indústria, alguém que apenas dá formas burocráticas a projetos megalomaníacos aos estilo velha Hollywood: Robbin Hood é filme de produtor, o próprio Crowe e Brian Grazer, conhecido produtor e responsável, por exemplo, por Código da Vinci.

Que, aliás, abriu o Festival de Cannes em 2007, em uma escolha tão estranha e questionável como essa: ainda que seja normal o festival abrir com um blockbuster (o festival tem patrocinadores e etc.) é curiosa a opção por um filme praticamente já estreado no mundo todo: uma coisa é ver “Up”, da Pixar, meses antes de ser lançado, outra é ver mais um arroubo grandiloqüente quase ao mesmo tempo de seu lançamento: se não é interessante pela novidade, nem pela qualidade, é interessante para quê?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Recife promove mostra sobre Jean Rouch



Por Nísio Teixeira

O Bacharelado em Cinema da UFPE, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e a Associação Balafon (sediada em MG) promovem a "Mostra Jean Rouch" em Recife, entre os dias 14 e 23 de maio próximos. Serão exibidos 37 filmes, entre curtas e longas, divididos em 17programas. Paralelamente às sessões, mesas onde serão debatidos alguns dos temas centrais à arte de Rouch (fabulação, etnografia, etnoficção, fronteira ficção/documentário, o "outro" no cinema, o improviso...). Toda a programação terá como palco os cinemas e auditórios da Fundaj. A organização local ficou sob a responsabilidade dos professores Laécio Ricardo e Camilo Soares. Todos os filmes são legendados em Português. Entrada franca.

Lançamento de livro





Mário Alves Coutinho lança, nesse sábado, dia 15 de maio a partir das 11 horas, na Livraria Mineiriana, o livro "Escrever com a câmera: a literatura cinematográfica de Jean-Luc Godard".

A Livraria Mineiriana fica na Rua Paraíba, 1419, na Savassi, em BH.

Todos estão convidados.

Abraços,

Equipe Filmes Polvo

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Cannes

Comunicamos que, este ano, dois polvos estarão presentes na edição 2010 do Festival de Cannes: o editor Rafael Ciccarini e o redator Marcelo Miranda. Ambos vão acompanhar todo o evento. Rafael vai escrever críticas diárias dos filmes para uma cobertura no site. Marcelo viaja pelo veículo no qual trabalha (o jornal O TEMPO) e eventualmente deve colaborar com textos pra cobertura e também publicando seus artigos do jornal aqui neste espaço blogueiro.

Portanto, fiquem ligados! O Festival de Cannes começa na próxima quarta-feira.