segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Prêmio Voz do Polvo

Depois de nove dias de imersão na 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes (como o leitor pode conferir na nossa vasta cobertura clicando aqui), a turma do Filmes Polvo resolveu fazer uma votação interna para escolher os melhores filmes, em longa e curta, exibidos na instigante edição do festival em 2011. Com votos de seis redatores mais o editor, o resultado foi o seguinte.


MELHOR LONGA-METRAGEM
Os Residentes (MG), de Tiago Mata Machado



MELHOR CURTA-METRAGEM
Náufragos (SP), de Gabriela Amaral Almeida e Matheus Rocha


Numa próxima postagem, divulgaremos o voto individual de cada um.
Por enquanto, parabéns aos vencedores - e, de quebra, a toda produção inventiva que povoou nossas cabeças nos últimos dias.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Tiradentes 2011: Cléber Eduardo e a Aurora


por Marcelo Miranda

A mostra Aurora começa nesta segunda-feira, dia 24, na 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Momento oportuno de republicar aqui a entrevista que fiz para o jornal O TEMPO com o crítico e curador Cléber Eduardo sobre o que representa a Aurora, para mal e para bem. Vale atentar especialmente para o puxão de orelhas em relação à vaidade de alguns cineastas.



Sendo esta a quarta edição da Aurora, como você caracteriza o recorte anualmente feito especificamente para esta mostra dentro da grade de programação de Tiradentes? É um recorte em alguma medida geracional em primeiro lugar, com exclusividade para primeiros e segundos longas de diretores, e em um segundo nível esse recorte prioriza uma abertura a "riscos". Mas essa opção pelos riscos é menos uma obsessão curatorial e mais reflexo desse momento criativo de uma geração de realizadores independentes. Uma programação de riscos não significa uma estratégia de legitimação crítica em si, mas abertura para discutirmos o não consensual e avaliarmos sua importância ou não. Partir do dissenso para o debate. Riscos implicam, também, rejeições. É preciso ter essa consciência. Na camada mais instigante e inquieta dessa geração, há uma tendência para a rarefação e outra para os choques, ambas anteparos para uma relação mais direta com sentidos específicos e organizações entre planos. Isso traz problemas para a percepção de muitos espectadores e de alguns críticos. É previsível que haja reações.Há exageros nessas raferações e choques ao meu ver. Inclusive do curador algumas vezes. Toda reação é positiva no fundo. Mesmo as negativas.

É possível identificar alguns caminhos seguidos pelos filmes selecionados este ano? São sete caminhos. Cultivo de memória e testemunho de superação, questionamento de políticas públicas,pesquisa com material de cinemateca, reverências e referências reatualizadas, dramatugia audiovisual em associação com lampejos de arte contemporânea, antropologia a partir de atritos de testemunho, documentário com sentido de classe sem perda de subjetivação. O que se percebe dessa soma? Há algo dessa soma que diga algo de nosso presente cinematográfico? Isso está sempre no ar. Sobreviventes de enchentes, funcionários de segurança, relação de religiosos estrangeiros com índios brasileiros, moradores de margens de rio, inventor de avião, atriz com realidade de figurante, fragmentos de anônimos em tensão. Esses universos sugerem conflitos, mudanças no mundo, relações de forças, o olhar do sujeito, ou uma crise desse sujeito com esse espaço, em organizações em geral livres, de esquematização pouco evidente, ao menos como quadro geral. Se isso é bom? Espero que me digam depois de ver os filmes

Dentro do seu trabalho de curador, gostaria de saber como é o trabalho de escolher filmes para um recorte tão segmentado dentro de um imenso manancial de projetos inscritos. Nem o recorte é tão segmentado, porque a considerável maioria dos inscritos é de flmes de uma nova geração e de anônimos dos quais nunca vi nada antes, nem esse manancial é tão grande. Estamos partindo nos últimos dois anos de um universo de mais de 70 filmes. Estamos exibindo esse ano 23 longas selecionados. Não há tantas opções assim. Trabalho com o que há disponível, os recortes sugem desse universo, não surgem antes do fime a filme. O importante é deixar claro que a curadoria não é só seleção. Não se trata de escolher os melhores 20 filmes. Temos três sessões, Aurora, Olhares e Vertentes, cada uma com um perfil. O Aurora é competitivo, apenas para diretores no primeiro ou segundo longa, produções miúras, sem prêmios principais, sem carreira internacional ainda. Não é para qualquer filme. A Olhares é para filmes premiados, ou de diretores já reconhecidos. A Vertentes é para filmes estranhos a seu modo, que tem seu valor, mas não foram valorizados. Tem ainda a sessão da Praça. Precisa ser aberta a todas as idades. E há as sessões de sexta, sábado e domingo, mais lotadas, com perfil de público mais heterodoxo, para as quais procuro programar filmes mais abertos, embora nem sempre eu os tenha entre os inscritos em grande número. É uma engenharia.

Quais as maiores dificuldades com as quais você se depara na definição dos filmes que vão para a Aurora? A dificuldade é sempre saber se um filme de estreante ou um segundo longa de um diretor entra ou não no Aurora. Esse ano dois filmes programados para fora do Aurora estiveram em algum momento no Aurora, mas depois remanejei alguns filmes para a competição ganhar algumas características, perder outras, como se fosse a construção de um corpo de filmes. Nem sempre tenho à disposição um grande número de filmes com força para o Aurora, mas ai é que a curadoria, baseada em seus critérios de observação de provocação, precisa lidar com elementos extra-estéticos para escolher esse ou aquele filme, às vezes pelo senso de contingência história, às vezes pelo senso de estímulo ao debate.

A Aurora tem ganhado importância ano a ano, tanto pela força dos filmes exibidos quanto pelos jurados que avaliam estes filmes e premiam com o troféu Aurora. Consequentemente, ganha espaço na mídia e visibilidade. Você, como curador, sente maior vaidade dos cineastas selecionados e/ou inscritos, devido à força dessa janela de novos realizadores? O Aurora não é celeiro de Orson Welles e Jean-Luc Godard. Sua crescente importância é saudável, mas não pode asifixiá-lo, porque seu espírito é de arejamento. Novos ares. A vaidade, a frustração e o ressentimento são três forças destrutivas do cinema brasileiro. Auto-destrutivas. A nova geração não está livre disso. Não podem se sentir os bambas com direito a exigências apenas porque tiveram um filme selecionado ou premiado no Aurora. A mostra é para filmes pequenos com alguma força. Assim precisa permanecer, ao menos em minha visão. Estrelas, poderes e fama são valores de outras mostras. Aqui ainda é diferente. Ainda é.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Edição 38 no ar



A Filmes Polvo comemora 4 anos de atividade com uma nova edição no ar.
Veja a relação dos textos:

Fade-out: A Rede Social: o filme do Facebook – e de uma geração.

Story Line: Mario Monicelli: idade, covardia e coragem

Cinetoscópio: Dos procedimentos do cinema direto de Wiseman à imagem cínica: quando o cinema vira telejornal e o telejornal incita um cinema precário

A verdade da memória e a escritura do tempo: a trilogia da Ilha de Coudres

Fora de Quadro: Michel Brault, parte VI - L’Acadie, L’Acadie’?!, Elogie du Chiac em conexão com High School, de Frederick Wiseman: o ano sem fim de 1968 e belas lições cinematográficas.

De Gypsy woman a Superfly: saudades do Curtis Mayfield

Plano Sequência: Pós-2010: aberta a estrada da renovação

Jackass 3D

Raccord: Arrested Development, Modern Family e The Office: a câmera como personagem e o ator como personagem de um pretenso mundo real

Corte Seco: Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

Contra-Plongée: “Contagem”, de Gabriel Martins e Maurílio Martins: filme-catástrofe da intimidade