segunda-feira, 29 de junho de 2009

Godard


Socialisme. O próximo filme de Godard.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Oscar: agora é Top Ten


Por Leo Cunha


A partir deste ano, a Academia anunciou que vai indicar 10 filmes na categoria principal. Muita gente já está chiando, mas dá pra ver esta mudança com algum otimismo. Estou tenta(n)do.

Dependendo de como os "acadêmicos" encararem esta ampliação, isto pode significar:

a- garantia de algum, ou alguns blockbusters na lista de melhor filme, o que implica em maior interesse popular e maior audiência à transmissão (cujos números vêm decaindo). Muito se reclamou do último Batman não ter entrado na lista dos 5. Agora, pode entrar e com menos risco de ganhar (afinal a Academia até que topa incluir um filme destes na lista, mas torce pra ele não ganhar)

b - espaço para algum, ou alguns filmes em "língua estrangeira" na categoria principal, o que implica em maior audiência fora dos Eua. Não acho que eles engoliriam um Von Trier como Melhor Filme, mas certamente podem surgir mais filmes do Almodóvar, ou mesmo de um Resnais, um Moretti, até dos Dardennes.

c- finalmente uma animação vai concorrer a melhor filme. Os fãs (eu, por exemplo), torceram pela inclusão de filmes como A viagem de Chihiro, As bicicletas de Belleville, Wall-E, Persepolis, entre outros.

d - espaço para aqueles filmes um pouco mais difíceis, ou autorais, que costumam ficar no quase. Por exemplo, com 10 indicados é quase inconcebível que o Public Enemies não entre. Ou os filmes do Woody Allen, que sempre são cotados e depois cortados da lista, ficando só com as indicações secundárias.

Michael Jackson (1958-2009)









Music Videos by VideoCure





quinta-feira, 25 de junho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Besouro



O que vem disso é algo a se conferir, sem dúvida.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Jean Charles" e a cidade de Gonzaga



por Marcelo Miranda *

Gonzaga -
No final de julho de 2005, a população do pequeno município mineiro de Gonzaga, distante 302 Km de Belo Horizonte, reuniu-se na praça principal da cidade em absoluta comoção. O motivo era o assassinato do eletricista Jean Charles de Menezes, morto pela polícia britânica no metrô de Londres ao ser confundido com um terrorista. Quase quatro anos depois, essa mesma população voltou a se confraternizar na noite de ontem, desta vez em torno da primeira exibição pública de "Jean Charles", filme de Henrique Goldman que narra a trajetória do humilde e adorado gonzaguense que virou notícia em todo o mundo por conta de sua morte trágica.

Aproximadamente cinco mil pessoas assistiram, num silêncio quase religioso, ao longa-metragem de Goldman. Na plateia estavam os pais de Jean Charles. "É muito emocionante", afirmou Maria Otoni de Menezes, a mãe. "Sentimentalmente, eu estou triste, mas toda essa festa e carinho me deixam alegre por ajudar a lembrar o Jean."

A tela de cinema foi montada num campo de futebol local pelos coordenadores do projeto Estação Cinema (patrocinado pela Usiminas e Arcelor Mittal, via lei estadual de incentivo). As centenas de cadeiras espalhadas não foram suficientes para comportar os habitantes de Gonzaga e os visitantes de diversas cidades vizinhas - como Virginópolis, Gonhães, Açucena, São Geraldo da Piedade e Governador Valadares.

O ator Selton Mello - que, na tela, dá cara, voz e trejeitos ao personagem-título - provocou celeuma entre os fãs. Entre gritos e berros, Selton contou a O TEMPO que a ideia da sessão em Gonzaga partiu dele. "Achava que era um dever nosso fazer isso aqui", disse.

Mineiro da cidade de Passos, o ator se sentiu retornando às raízes ao interpretar Jean Charles. "Ele tem muito de mim, e encarná-lo foi como buscar as minhas origens mais primitivas."

A rotina do município estava agitada durante a sexta-feira. Carros transitando de um lado a outro, jornalistas em busca de informações, moradores passeando curiosos pelas ruas ao olhar aquelas caras claramente estrangeiras diante da simplicidade dos habitantes daqui. "Só não movimenta o comércio", brincou um dono de farmácia. "Hoje é tudo festa. Uma festa para relembrar o Jean Charles, é claro."

No campo, um outdoor era colado durante a tarde, estampando uma foto de Jean Charles com os dizeres: "A violência interrompeu os seus sonhos, mas não interrompeu sua história". Fiscalizando o serviço, um funcionário da prefeitura relembrava o rapaz. "Era um menino tão bonzinho, tão trabalhador, e foi morrer daquele jeito", lamentou.

A estudante Stephanie Pires, 22, bastante próxima de Jean Charles, conta que, desde quando a proposta de um filme sobre a vida do eletricista foi anunciado, há dois anos, o assunto sempre voltava à tona na cidade. "Ele era conhecido na região. Era humilde e simpático o tempo todo", relembra.

Alex de Menezes, primo dele, concorda com a ideia de "festa" que regiu a exibição. "Faz alguns anos, a gente estava aqui por causa da tristeza. Agora é alegria, porque estamos prestando essa homenagem pra ele", diz. Alex - que morou com Jean Charles em Londres - é interpretado no filme pelo ator Luiz Miranda. O personagem-título ganha cara, voz e trejeitos de Selton Mello (em cartaz nos cinemas com a comédia "A Mulher Invisível")

A dupla esteve presente na exibição, acompanhada por Henrique Goldman e pelo roteirista Marcelo Starobinas. "Quando recebi o projeto, senti ser uma coisa que precisava ser feita. Entendi como sendo uma missão a ser cumprida", define Goldman, olhos brilhando, sorriso afetuoso no rosto. Assim como seu protagonista, ele e Starobinas saíram do Brasil para morar em Londres. "A trajetória dele é muito semelhante à nossa. Contar sua história gera grande identificação e retrata os caminhos de muitos brasileiros que tentam a vida fora do país."

Starobinas, jornalista por formação e profissão, sentiu-se fazendo "uma grande reportagem" ao se envolver no roteiro de "Jean Charles". "Fiz uma verdadeira investigação e colhi o máximo de informações possíveis. Depois, foi preciso acrescentar psicologia ao roteiro, e aí entrou o trabalho de ficção", conta.

Ficção esta que gerou conflitos entre a equipe de produção e os familiares de Jean Charles de Menezes. "Eles queriam colocar no filme uma cena que representava a versão oficial da polícia de Londres para a morte do Jean. Iam eternizar aquela farsa!", protesta Alex, o primo, que diz ter pedido aos realizadores para retirar a tal cena. Segundo ele, a solicitação foi atendida quatro meses depois. Goldman e Starobinas confirmam desentendimentos, mas garantem que cada passo do projeto foi discutido com a família. "Falar de algo tão recente e traumático é difícil para nós e para eles", diz o diretor. "Mas, na verdade, foi um trabalho de total colaboração entre a família e a gente."

Na última segunda-feira, em Belo Horizonte, Goldman recebeu a benção que almejava: exibiu o filme, em sessão particular, para Maria Otoni de Menezes, mãe de Jean. "Ela gostou e se emocionou. Só de saber isso, me sinto vitorioso."

* Reportagem integral da versão publicada no jornal O TEMPO em 20.6.2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"O cinema é a melodia do olhar"

30 anos sem Nicholas Ray


Raymond Nicholas Kienzle
7 de agosto de 1911 -- 16 de junho de 1979

O diabo que nos carrega

por Marcelo Miranda

Tardiamente, assisti hoje a Constantine (2005), adaptação de Francis Lawrence para os excelentes quadrinhos do personagem da DC Comics. O filme é fraco, nem por ter aproveitado pouco as potencialidades da matéria-prima, mas porque Lawrence é um diretor limitado, que parece não saber dar ritmo ao que narra, nem cortar ou decupar as cenas de uma forma menos abrupta ou desconjuntada.

O melhor de ter assistido a Constantine, porém, foi ele ter me remetido a um dos trabalhos que mais admiro do Roman Polanski, e também um dos mais atacados dele: O Último Portal (1999). Lembro de tê-lo visto numa sessão com bastante gente, e quase todo mundo saiu odiando. Depois revi, e aconteceu a mesma coisa. A imprensa caiu matando com ferocidade. E o filme se tornou uma mancha amaldiçoada (o que, vamos admitir, faz um irônico sentido dentro do que Polanski propõe). Se não me engano, sequer saiu em DVD no Brasil, ainda que exista em VHS.


Como memória puxa memória, ao pensar em O Último Portal lembrei de um dos poucos artigos que o defenderam na imprensa brasileira. Foi do historiador da arte Jorge Coli, que, em seu valiosíssimo espaço semanal no caderno dominical "Mais!", da Folha de S.Paulo, refletiu sobre o filme com toda a sensibilidade, respeito e acuidade que parecem ter faltado à maioria de quem se dispôs a escrever ou comentar o longa de Polanski.

Uma pesquisa no arquivo da Folha, e eis que ressurgem as palavras de Coli. São breves, mas pontualmente marcantes. Vale a reprodução. O artigo foi publicado no dia 21 de maio de 2000.

O Último Portal, por Jorge Coli

Cão - "Polanski bate com a cabeça na porta - seu último filme é um fracasso integral." O crítico do jornal francês "Libération" não vai por meios caminhos. O diretor disse, uma vez, que os críticos gostavam sempre muito do seu penúltimo filme. Isso nem mesmo é mais verdade. O que fica, em nossas memórias, de um filme de Polanski? Certamente não a história: lembramo-nos do assunto principal, mas quem se arriscaria a contar a trama, nas suas etapas, de "O Inquilino" ou de "Chinatown"? Também não são tanto as imagens, em sua discrição nebulosa, que permanecem. Fica um clima, uma atmosfera deliquescente, indefinível, um pouco zonza e perversa.

"O Último Portal" faz cruzar romance gótico e "roman noir": dois gêneros mais do espaço do que do tempo, cujas afinidades se encontram no vaguear compassado, na sequência de lugares insólitos, na busca não muito clara por um "macguffin" incógnito. Isso corresponde ao espírito que preside seus filmes, desde os primeiros, desde o curta "Dois Homens e um Armário", desde "A Faca na Água" ou "Repulsion".

O diabo de Polanski não possui as seduções que ele imagina: a natureza de sua criação, ao mesmo tempo irônica e meditativa, parece mergulhar cada vez mais em si mesma. Por essa mesma razão, perda em público e crítica não quer dizer perda em poesia. É provável que "O Último Portal" tenha o destino dos penúltimos.

Cão bis - O diabo não é para qualquer um. Johnny Depp, ou melhor, seu personagem Dean Russo, é o eleito em "O Último Portal". Trata-se de um jansenismo às avessas, em que, marcado pela graça ou, antes, pela "desgraça", o personagem descobre que, dentro do labirinto onde se meteu, era ele próprio o ponto de chegada.


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Isto é Marguerite Duras

Os dez minutos iniciais de India Song, filme inclassificável de Marguerite Duras.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O bicho-papão não morre

por Marcelo Miranda

Halloween - A Noite do Terror (1978), de John Carpenter


Halloween - O Início ** (2007), de Rob Zombie

**finalmente prometido para ser lançado Brasil em julho

domingo, 14 de junho de 2009

Marguerite Duras



por Marcelo Miranda

Que Marguerite Duras foi uma escritora de prestígio, por livros como Barragem Contra o Pacífico (1950) e O Amante (1984), muita gente sabe. Que ela escreveu o roteiro de Hiroshima, Mon Amour (1959), primeiro longa-metragem do diretor francês Alain Resnais, outros tantos também. Mas que Duras foi também diretora de cinema, quase ninguém tem conhecimento. E sua obra não é modesta: foram 19 filmes realizados entre os anos 60, 70 e 80.

Um pouco dessa produção poderá ser conhecida a partir de hoje (segunda-feira, 15 de junho) em Belo Horizonte, na mostra "Marguerite Duras: Escrever Imagens", em cartaz no Cine Humberto Mauro até o próximo domingo. Serão nove trabalhos de Duras - quatro longas, três médias e dois curtas. Trata-se de uma versão compacta de uma retrospectiva quase completa promovida no Rio de Janeiro em abril, com curadoria do pesquisador Maurício Ayer. "Duras tem uma relação forte com o cinema desde a infância", conta ele. Nascida na antiga Indochina (hoje Vietnã) em 1914, a futura escritora e cineasta teve uma juventude sofrida. "A única diversão que ela e os irmãos tinham era ir ao cinema", revela Ayer.

Duras só se mudou para Paris aos 18 anos, para concluir os estudos. Foi lá que tomou contato com toda a efervescência cultura francesa - inclusive a cinematográfica. "Ela foi convidada pelo próprio Resnais para escrever Hiroshima, Mon Amour, e nunca gostou das adaptações que faziam de livros dela", comenta o curador.

Foi a insatisfação com a produção mais tradicional na França o catalisador da estreia de Duras na direção, em 1965. Nas palavras dela: "Como tenho uma espécie de desgosto em relação ao cinema que tem sido feito (...), eu queria retomar o cinema do zero, numa gramática bem primitiva, bem simples, bem primária: recomeçar tudo".

É em cima desse olhar de recomeço que vai se sustentar a trajetória de Duras atrás das câmeras. "Ela nunca quis fazer carreira, mas chegou um momento em que precisava usar os recursos audiovisuais para expressar o que buscava", diz Maurício Ayer. O cinema de Duras será todo feito em camadas (vozes, imagem, palavras, sons) sobrepostas e nem sempre simultâneas. "Ela dissocia os sons da imagem e estabelece relações muito mais complexas, não só na narração de histórias, mas especialmente na exploração de espaços", explica o curador.

Ayer diz que Duras "enxerga o cinema como o fim da imaginação, por explicitar o que se conta. Portanto, ela buscou com seus filmes fazer da imagem uma coisa que permitisse ao espectador imaginar o que via."

Marguerite Duras era fã do diretor francês Robert Bresson (Pickpocket), o que ajuda a explicar o ascetismo de seus filmes. Mas, para além de referências, o curador Maurício Ayer não vê paralelos de Duras em relação a outros cineastas, muito pela forma única como ela imbrica cinema, literatura e teatro. “As relações são múltiplas e, em cada filme, vão se reconfigurando”, diz. Ele aponta India Song (cuja foto abre este post) como a súmula do cinema de Duras.

Confira a programação completa da mostra aqui.

* Matéria originalmente publicada em O TEMPO no dia 15.6.2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

30 anos sem John Wayne

Marion Robert Morrison
26 de maio de 1907 -- 11 de junho de 1979

Nova edição do Filmes Polvo no ar!

A revista Filmes Polvo está com uma nova e quentíssima edição no ar. Tem de tudo e mais um pouco. Confira os textos de cada coluna e acesse logo www.filmespolvo.com.br para ler e comentar.

Close (Mariana Souto)
- Noite Vazia, de Walter Hugo Khouri

Story Line (Leo Cunha)
- Comédia à francesa - parte 1: Papai Noel é um Picareta
- Sinédoque: Nova York – Isto não é uma cidade

Cinetoscópio (Leonardo Amaral)
- Les Dragueurs Susana, a perversa: otimismo à la Buñuel
- Lugar de Cinema é no Cinema
- Viver a Vida: o contracampo é sempre o outro

Fora de Quadro (Nísio Teixeira)
- Denys Arcand, o Velho do Restelo quebequense
- Hiroshima, Meu Amor: três perspectivas “borgeanas” de Alain Resnais e seu impacto e importância na Quebec dos anos 1960

Plano Sequência (Gabriel Martins)
- South Park – pois é preciso desconcertar a mídia
- Divã

Raccord (Ursula Rösele)
- Bill Viola: o olhar no vídeo, do vídeo, para o vídeo

Corte Seco (João Toledo)
- Brian De Palma e a arte de manipular: 24 mentiras por segundo – parte 1

Contra-Plongée (Marcelo Miranda)
- Kenji Mizoguchi e os fragmentos do real

terça-feira, 9 de junho de 2009

A volta da SET



por Marcelo Miranda

Já chegou às bancas a versão ressuscitada da revista Set. Depois de anunciar seu cancelamento em abril e ficar sem circular em maio, eis que uma nova equipe dá vida à mais antiga publicação sobre cinema nas bancas brasileiras (para o bem ou para o mal). Numa primeira folheada, não senti tantas mudanças visuais ou editoriais como foi anunciado, segundo discurso dos novos editores. Saíram algumas sessões horríveis, como a de música e a de brinquedos e afins, o que já é um ganho imenso. 

A pauta, porém, segue a mesma: grandes matérias de grandes blockbusters (com direito a infinitas 12 páginas a O Exterminador do Futuro - A Salvação, que obviamente estampa a capa), perfis de astros do momento (Julia Roberts e Clive Owen), lançamentos em cinema, DVD e novas tecnologias e algumas sessões meio despropositadas, como a votação via Orkut dos "piores filmes da década" (esse tipo de "escolha" era algo irritantemente comum na antiga revista; tomara que não se perpetue). 

Por outro lado, os textos (em especial da seção de lançamentos) estão bem melhores, sem as terríveis piadinhas e os trocadilhos da turma de antes. Os nomes dos resenhistas também tiveram uma saudável rotatividade (ainda que Alfredo Sternheim faça falta), e agora há colunas que discutem assuntos específicos, como bilheteria e marketing. Tem ainda um bom perfil do Rui Ricardo Diaz, que interpreta o presidente Lula na biografia dirigida por Fábio Barreto que estreia no ano que vem.

Ainda é bastante cedo para ter plena noção do que será a Set daqui em diante. Fato é que, para o mercado editorial, é saudável que a revista siga existindo. Quanto ao conteúdo, só penso o seguinte: pouca reflexão e muita informação podem fazer do leitor um bobão. (mais sobre esse assunto no belo comentário de Sérgio Alpendre aqui). 

A equipe responsável pela nova Set é composta por Mario Marques (publisher) e Carlos Helí de Almeida, Marco Antonio Barbosa, Nelson Gobbi e Robert Halfoun (editores), Luiz Noronha, Pedro Butcher, Rodrigo Fonseca e Marcelo Cajueiro (colunistas).  

domingo, 7 de junho de 2009

O exterminador exterminado



por Marcelo Miranda

O Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas tornou-se daqueles filmes malditos que todos parecem querer ou tentar esquecer. Lançado nos cinemas em 2003 com uma baita repercussão (afinal, era continuação de uma franquia de imenso sucesso que parecia acabada mais de dez anos antes), não rendeu nada, nem em boas críticas nem em público. Resultado: quando resolveram ressuscitar (de novo) a série, os produtores decidiram ignorar o terceiro filme.

Ainda não vi O Exterminador do Futuro - A Salvação, que estreou por esses dias nos cinemas. Mas revi os três anteriores. O que mais me ficou do amaldiçoado terceiro capítulo é de que ele foi, de fato, um autêntico suicídio comercial. O maior "pecado" do filme certamente é ter subvertido os dois anteriores. Mais que isso: ele torceu de ponta a cabeça as premissas e conclusões de James Cameron, em especial as do segundo filme - o mais adorado e cultuado pelos fãs -, e abriu milhões de possibilidades do que poderia ser, afinal, o tão assustador futuro dominado pelas máquinas e desenvolvido desde a primeira cena do longa original.

Como se não bastasse, o final de A Rebelião das Máquinas é de uma ousadia extrema e absurda, pois leva às últimas consequências o destino apregoado pelo personagem John Connor, terminando em chave sombria, pessimista e bastante assustadora. Na verdade, hoje, todo o longa se parece um autêntico filme B de alto orçamento, com direito a resoluções ambíguas, interpretações no limite do caricato (que o diga Claire Danes) e um típico desfecho apocalíptico.

O público rechaçou a audácia do diretor Jonathan Mostow e preferiu ignorar o impacto que ele consegue provocar. Nem mesmo as excelentes cenas de ação, com um Schwarzenegger mais contido do que se seria capaz de imaginar e a vilã da ex-modelo norueguesa Kristanna Loken cheia dos remelexos digitais, foram suficientes para gerar interesse. O filme foi jogado às chamas. Felizmente, a quem se dispuser, e aproveitando o embalo da nova produção em cartaz, ainda é tempo de resgatá-lo.

Abaixo, a quem quiser ver ou relembrar, o melancólico e subversivo final de O Exterminador do Futuro 3.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O ponto sem volta

Por Leo Cunha




“Lee Marvin é Walker: caça e caçador”. Assim anunciava o trailer de À queima roupa (Point Blank, 1967), de John Boorman. A seqüência acima é magistral em seu jogo de ritmos: primeiro um plano estático (quem balança é o barco, e o coração de Walker), quando ele descobre a traição da esposa. Depois cenas paralelas, montagem ágil, jogo de espelhos, passos nervosos no corredor, os tiros. Ao final, outro longo plano, estático, com a confissão da esposa infiel.

O início do filme é hipnótico, como disse certa vez Tarantino: “o tap tap tap tap obsessivo de Lee Marvin andando no corredor, até aquela explosão de violência, quando ele descarrega a pistola numa cama vazia! Demente. Nem preciso dizer que eu sou fanático por Lee Marvin”.

O título deste post é uma referência ao título francês do filme: “Point de non-retour”.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O "pornô" de Walter Hugo Khouri

por Marcelo Miranda

Chamar Amor, Estranho Amor de "pornô com a Xuxa" por causa desta cena?!



Mais sobre o assunto aqui e aqui.

terça-feira, 2 de junho de 2009

AI-5 digital?


por Gabriel Martins

"Digitalizar é democratizar". Aconteceu ontem em Belo Horizonte um ato público de debate acerca do Projeto de Lei do Senador Eduardo Azeredo relativo basicamente ao compartilhamento de informações via internet, chamado por muitos de "AI-5 digital". O projeto, mal escrito, implica a criminalização de práticas como a disponibilização de obras (musicais, audiovisuais, textos e etc) protegidas por direito autoral, dentre outras questões. 

É aí, no lobby do copyright, que a coisa pega o cinéfilo, o crítico e etc. Muito além do projeto em si, me veio à cabeça após o fervoroso debate como a internet precisa ter seus terrenos mais explorados no cinema - principalmente no Brasil. Como crítico, a minha "quebra de um direito autoral" de, por exemplo, a obra de Apichatpong Weerasethakul, foi fundamental e unicamente possível para que eu conhecesse a obra do mesmo, que mudou a minha vida. Grande parte dos cineastas contemporâneos e muitas obras passadas chegam até nós pelas redes P2P, torrents e afins. Essa liberdade assusta a muitos, eliminando a idéia de patrimônio e, com isso, automaticamente ferindo uma lógica de poder através da retenção de informação. O projeto Azeredo exemplifica uma noção de controle que está implícita a um primeiro momento, tentando ser velada, mas que pode se fazer objetiva em um futuro próximo - e aí estaremos falando sim de um AI-5 digital.

Os processos já ocorrem, e o desconhecimento por parte da comunidade do direito relacionada ao projeto é preocupante. A internet e a digitalização estão aí para tornar infinitos recursos escassos. O cinema brasileiro, como realização, DEVE pensar mais a internet. Hoje, já não é segredo, a melhor crítica se encontra na internet. Mais filmes deveriam ser colocados na internet. Que se valorizem os direitos artísticos do autor, não os patrimoniais. A arte está aí para o mundo, a arte se faz para o mundo e se concretiza nele. Enquanto o ego estiver em jogo, a democratização se fará nula e a disputa por espaço será eterna. Que as obras se sustentem por qualidade, que se lancem para o todo.

A música, no que diz respeito à internet, ainda está um passo à frente do cinema. Hoje a música acontece muito pela web. Com bandas de conexão mais largas, acesso mais rápido em todos aspectos, filmes estrangeiros e brasileiros talvez poderão circular com melhor qualidade (e já o fazem, em certa medida). Se isso implica na perda da experiência coletiva de uma sala de cinema, relativo dizer. A internet possibilita também o espaço de discussão que importa muito, sendo que um filme poderia ser colocado na rede e ter neste próprio host um espaço de discussão, de reverberação. Existem muitos cineclubes (eu coordenava um deles) em que são exibidos muitos filmes que só se encontram disponíveis via internet. Isso é acesso à informação, isso é formação de público.

Se a falácia aqui parece exagerada, utópica, excessivamente deslumbrada, é porque um discurso que acredito está se reverberando e realmente acho que é preciso se atentar para novas práticas no cinema brasileiro. Arte se faz para o mundo, e a internet, hoje, felizmente ainda nos permite isso.

segunda-feira, 1 de junho de 2009