quarta-feira, 30 de junho de 2010

As polegadas de Crawford, Bennet, Garbo e outras





Por Nísio Teixeira

No clima ainda anos 1930, mais uma delícia da revista Carioca (9 out 1937), com uma matéria de Peregrino Júnior sobre o "padrão cinematographico de belleza feminina". Curiosamente, a referência é a estátua da Vênus de Milo... Fiz a conversão aproximada em metros e quilos ao lado do dado em polegadas e libras. Claro, mantive o padrão de escrita de então.

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“Num inquérito antropométrico ainda há pouco realisado em Hollywood os technicos americanos chegaram a uma conclusão interessantíssima: as mulheres mais bonitas do cinema yankee têm, com pequenas diferenças individuaes, as seguintes medidas:
Altura = 5 pés e 4 pollegadas = aprox. 1,60m
Peso = 115 libras = aprox. 52 quilos
Busto = 33 ¾ pollegadas = aprox. 85 cm
Quadris = 35 ½ pollegadas = aprox. 90 cm
Tornozelos = 7 ½ pollegadas = aprox. 19 cm

Essas dimensões foram encontradas, exactas, em 36 estrelas de Hollywood. E isso, em última análise, quer dizer que a beleza feminina de Hollywood está perfeitamente “standardizada”.

Dentre os nomes estão Joan Crawford, Lila Lee, Lena Lane, Bebé Daniels, Dorothy Mackaill, Marillyn Miller, Sharon Lynn, Dixie Lee, Marion Davies e Carole Lombard. Como comparação, o texto ainda utiliza as medidas da Vênus de Milo, tida como ideal de beleza e diz que “as diferenças são insignificantes”

Altura = 5 pés e 4 pollegadas = aprox. 1,60 metros
Peso = 135 libras = aprox. 61 quilos
Busto = 34 ¾ pollegadas = aprox. 88 cm
Quadris = 37 ½ pollegadas = aprox. 95, 25 cm
Pernas = 13 ½ pollegadas = aprox. 34, 3 cm

Constance Bennet (foto) é que mais se aproxima dessas medidas. Já Greta Garbo e Marlene Dietrich mostram-se “altas e gordas” diante do padrão hollywoodiano. Janet Gaynor e Dorothy Lee mostram-se mais “baixas e finas”.

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Assim escreveu a Carioca...

sábado, 19 de junho de 2010

Ouro Preto e a Cinédia



por Marcelo Miranda


Antes da Vera Cruz e da Atlântida, houve a Cinédia. O primeiro estúdio de cinema do Brasil foi fundado em março de 1930, no Rio de Janeiro, pelo então crítico Adhemar Gonzaga. Oito décadas depois, a quinta edição da CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto resgata não apenas a história da ascensão e queda da Cinédia, como principalmente alguns de seus filmes mais emblemáticos. Numa oportunidade de ouro, cinco longas-metragens produzidos pelo estúdio carioca serão exibidos em cópias restauradas - um avanço indescritível em relação às versões de VHS ou de televisão que os cinéfilos vêm tomando contato nos últimos anos. A quem nunca viu esses filmes, melhor ainda.

A proposta, segundo Raquel Hallak, coordenadora geral da CineOP, é "entender o contexto social, político e cultural do surgimento da Cinédia a partir de um olhar contemporâneo". "Eram tempos de Humberto Mauro indo filmar no Rio, Adhemar Gonzaga fundando o estúdio e Getúlio Vargas subindo ao poder no Brasil", relembra Raquel.

Para o crítico e pesquisador Cléber Eduardo, colaborador da temática histórica da mostra, resgatar a Cinédia em pleno século 21 permite enxergar a própria trajetória das tentativas do cinema brasileiro em se tornar indústria. "É uma perspectiva histórica de contextualizar o que significava isso em 1930 em paralelo com a chegada de Vargas à Presidência, com seu discurso e projeto de industrializar o país, e como isso há 80 anos é uma questão ainda de futuro, não de passado", acredita Cléber. "A Cinédia nos lembra do futuro que nunca chegou de fato, de um sertão que não virou mar", completa, usando de referência o verso de Glauber Rocha para "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1963) no intuito de falar sobre a eterna luta nacional por posições pessoais diante de imposições coletivas.

Glauber, aliás, é lembrança oportuna em se tratando da Cinédia. Para o diretor baiano falecido em 1981, "Ganga Bruta", do mineiro Humberto Mauro, seria o primeiro grande clássico da produção brasileira - ainda que, quando lançado em 1933, o filme tenha sido um fracasso de público. "Ganga Bruta" é um dos títulos programados para o CineOP e ganha apresentação no Cine Vila Rica na próxima segunda-feira.

Outros são "Alô Alô Carnaval" (1936), que marca o início da caminhada bem-sucedida de Carmem Miranda; "Bonequinha de Seda" (1936), cujo ritmo foi moldado pelas comédias de Hollywood do período; e "Lábios sem Beijos" (1930), outro de Mauro, a ser exibido com uma orquestra ao vivo tocando trilha sonora inédita e original, composta especialmente para a mostra em Ouro Preto. Uma verdadeira viagem ao cinema primordial.

Estúdio era caminho natural
"Em meados dos anos 1920, em São Paulo, o próspero industrial Adalberto Almada Fagundes, proprietário de uma fábrica de louças, tentou ampliar seu ramo de atuação patrocinando a construção de estúdios e fundando a Visual Filmes. No entanto (...), identificou as dificuldades de produzir cinema no país e preferiu continuar num ramo mais seguro para investimentos - (...) fabricar louças".

O trecho é de "Cinema Brasileiro - Das Origens à Retomada" (2005, Ed. Fundação Perseu Abramo, 160 págs.), no qual o historiador Sidney Ferreira Leite radiografa os descaminhos da produção nacional desde o começo do século 20. E o trecho reflete bem a dificuldade de se criar a tão falada indústria de produção audiovisual.

A Cinédia surgiu nesse bojo, quando os filmes nacionais ganhavam importância (e eram valorizados pelo próprio governo, que criou leis para protegê-lo) e um grupo de realizadores pensava em tirar os filmes do aspecto primário como eram feitos e modernizar o seu processo de "fabricação". A fundação de um estúdio - com material e equipamento de ponta, muitos vindo de fora do Brasil - era caminho natural. "Foi o primeiro empreendimento de um sonho de industrialização que, historicamente, continua a ser um ideal cuja prática continua artesanal", diz Cléber Eduardo.

Alice, a herdeira
Era 1935. Cinco anos depois da Cinédia ser fundada, Alice Gonzaga nasceu. Filha do crítico de cinema e produtor Adhemar Gonzaga e da atriz Didi Viana, Alice cresceu junto com o estúdio fundado pelo pai. Herdeira de todo o acervo de filmes e documentos, ela será a pessoa a representar a Cinédia na CineOP, que começa hoje em Ouro Preto e segue até terça-feira.

Alice não é só a herdeira. É mantenedora, difusora e restauradora de tudo relativo ao estúdio nos últimos 35 anos. “Entrei, gostei e nunca parei”, resume ela, em conversa por telefone. Graças a Alice, filmes da Cinédia foram restaurados e ganharão lançamentos especiais nos próximos meses, incluindo uma mostra no Rio de Janeiro e a própria apresentação de cinco títulos na programação da CineOP.

As memórias de Alice Gonzaga em relação ao estúdio – reunidas no livro “50 Anos de Cinédia” – remontam aos primórdios. “Lembro de, bem criancinha, adorar ir até a Cinédia, porque lá tinha um jardim”, relembra ela. “Tinha umas estátuas de anões de um lado e peixinhos nadando nesse lago, então queria sempre ir”.

A produtora circulou entre grandes estrelas da época, como Gilda de Abreu e Carmem Miranda, e acompanhava o pai onde pudesse – e também onde ele não estivesse: a pequena Alice costumava circular pelas instalações da Cinédia mexericando nos trabalhos dos funcionários. “O pessoal tinha que engolir em seco, porque eu era chatinha, mas era filha do diretor”, conta ela, aos risos.

E Alice também foi “útil” à Cinédia. Quer dizer: uma utilidade oportuna. Como sempre zanzava pelo lugar, era ela a escolhida para testar novos equipamentos. “Se chegava uma câmera ou um refletor, precisavam de alguém para ver se estava funcionando, e eles me chamavam. Eu era a rainha dos testes e a cobaia dos novos equipamentos”.

Já adolescente, Alice foi estudar num colégio interno no Rio de Janeiro. Às quintas-feiras, tinha consultas no dentista. Aproveitava a saída, claro, para ir até a Cinédia. “Almoçava no estúdio e passava a tarde inteira lá. Vi muitas filmagens nessa época e lembro bastante, porque estava grandinha”. Certo dia, em meados dos anos 1970, Adhemar Gonzaga foi diagnosticado como vítima de dois infartos e com um “coração cansado”.

Ao sair do hospital acompanhando o pai, Alice se deu conta: o que seria da Cinédia se Adhemar morresse? “Eu não fazia ideia, nunca tinha pensado nisso, ainda que ajudasse meu pai a organizar livros e papéis”. Felizmente, Alice teve habilidade e talento para eternizar o que a Cinédia havia criado ao longo dos anos.

Adhemar Gonzaga, fundador da Cinédia e pai de Alice, morreu em 1978. Desde então, ela toca os trabalhos do estúdio, que parou de produzir para se dedicar a cuidar de seu próprio acervo. Apesar de vinculado aos anos 30, o estúdio da Cinédia produziu filmes até o final dos anos 40, quando a Atlântida, fundada em 1941, já atuava realizando as populares chanchadas e filmes musicais

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 17.6.2010

*Acompanhe a cobertura da CineOP no Filmes Polvo

sábado, 12 de junho de 2010

Rogério Sganzerla


por Marcelo Miranda

Na preparação do livro "Por um Cinema sem Limite", que Rogério Sganzerla publicou em 2001 pela editora Azougue, sua filha caçula, Djin, teve participação fundamental. "Tive uma função de secretária, revisando e formatando os textos dele", relembra a atriz, aos risos.

Essa mistura de âmbito pessoal com produção artística e intelectual é o mote central da "Ocupação Rogério Sganzerla", exposição em cartaz gratuitamente no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, até o dia 18 de julho - e na qual a reportagem esteve na última quarta-feira. Trata-se da primeira reunião pública de parte do vasto acervo que o catarinense Sganzerla - morto em 2004, aos 57 anos - deixou guardado em dois armários. São anotações, fotografias, objetos, roteiros, cartas, textos críticos, que perpassam não apenas a carreira, mas a vida inteira de um criador genial, responsável por "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) e "A Mulher de Todos" (1969), entre tantos mais.

"Um espaço dedicado às artes contemporâneas é ideal para reverberar a poética do Rogério através de seu caráter fragmentário", define o cineasta Joel Pizzini, curador da exposição.
Ao longo dos últimos 12 meses, Pizzini e equipe se dedicaram a vasculhar o material deixado por Sganzerla e guardado por sua esposa por 37 anos, a mítica atriz Helena Ignez, e por suas filhas, Djin e Sinai. O que foi selecionado para o Itaú Cultural transmite a noção "polifônica do multiartista", segundo Pizzini, através de três eixos relacionados à obra do diretor: luz, abismo e caos.

A exposição consiste numa mistura interativa de imagens, músicas e letras. Inclui roteiros de Sganzerla ("uma grande descoberta, que pouca gente conhecia", diz o curador), trechos de filmes inacabados ou perdidos (como "Carnaval na Lama", o qual ninguém sabe onde está) e um segmento dedicado ao cinéfilo e pai Sganzerla, com credenciais de jornalista, máquina de escrever, câmeras e dois escritos incríveis - um cartão-postal para o "incorrigível Julio Bressane" e para a "Helena linda", enviado na época em que Bressane e Ignez eram namorados, e uma carta à filha Sinai, então com 9 anos, na qual ele se mostra um pai afetuoso e, nas entrelinhas, celebra a presença de Orson Welles - seu maior ídolo - num determinado festival de cinema.

Seis anos depois da morte de Rogério Sganzerla, 2010 parece ser especial à sua memória. Ainda que o diretor nunca tenha saído da reflexão sobre os caminhos do cinema brasileiros – não apenas pelos seus vários longas e curtas desde 1967, mas também pelo trabalho final da carreira, o impressionante “O Signo do Caos” (2003) –, a exposição no Itaú Cultural se soma a uma série de ações que vão garantir presença contínua de Sganzerla na mídia cultural.

Em julho, dois livros reunirão os textos críticos escritos por Sganzerla em duas fases: a primeira, quando, antes dos 20 anos de idade, ele se tornou colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”; a outra, já nos anos 80, do alto de uma experiência precoce reforçada pela produção continuada de filmes provocativos e ousados.

No final do ano, chegará aos cinemas “Luz nas Trevas – A Volta de Luz Vermelha”, filme dirigido por Helena Ignez e Ícaro Martins a partir de roteiro deixado pelo próprio Sganzerla. No elenco, o cantor Ney Matogrosso encarna o personagem vivido intensamente por Paulo Vilaça em 1968. “Luz nas Trevas” era um dos projetos mais sonhados por Sganzerla: uma continuação de “O Bandido da Luz Vermelha” de teor “menos intelectualizado, mais pop, mais gibi”, como disse em 1998.

Fora isso, há dois longas de Sganzerla disponíveis em DVD (“O Bandido da Luz Vermelha” e “Sem Essa, Aranha”) e outros devem surgir em breve. “Os filmes ainda soam como um escândalo, com toda aquela inteligência e humor. Ao mesmo tempo, é tudo absolutamente pessoal”, exalta a filha, a atriz Djin Sganzerla. “Queremos restaurar essa obra e trazê-la ao público como foi feita: em sua máxima potência e visceralidade”.

Para o carioca Julio Bressane, ex-sócio da produtora Belair com Sganzerla e Helena Ignez em meados dos anos 60 (juntos, fizeram seis longas-metragens em dois meses), ter o acervo pessoal do diretor colocado diante do público é “um tipo de milagre”. “É uma obra que serve como instrumento de autotransformação. Não pedem explicação, e nem são feitas a isso, como todo tipo de imagem moderna. Eles pedem e exigem uma interpretação. Isso não se concilia com a tirania do aspecto comercial que está aí hoje, nessa política genocida que se pratica no atual cenário do cinema brasileiro”, dispara Bressane.

O gerente do núcleo de audiovisual do Itaú Cultural, Roberto Cruz, conta que a escolha de Rogério Sganzerla para o projeto Ocupação foi coerente aos artistas anteriormente definidos – dentre eles, o dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa e o poeta Paulo Leminski. “São todos iconoclastas”, resume Cruz. “A grande originalidade da atual exposição foi não trabalharmos especificamente com os filmes de Sganzerla, mas com o processo de sua criação e pensamento”.

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 12.6.2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mostra sobre o cinema do Quebec em SP


por Nísio Teixeira


Entre 24 de junho a 04 de julho do corrente acontece uma mostra que reúne produções do cinema quebequense sobretudo dos anos 2000. Mas há filmes também dos anos 1970 e 1960, como Bûcherons de la Manouane (foto), já comentado aqui no dossiê Quebec da Filmes Polvo. A mostra acontece na Cinemateca Brasileira e o CINUSP “Paulo Emílio” e tem curadoria de João Cláudio de Sena e Paula Morgado. Debates com alguns dos cineastas canadenses que participam da mostra acontecem nos dois locais e também na Academia Internacional de Cinema e no LISA – Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP. O evento conta com o apoio do Consulado-Geral do Canadá e do Escritório de Québec de São Paulo, da Embaixada do Canadá no Brasil, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão e do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da Universidade de São Paulo, e da empresa Rio Tinto Alcan. Mais informações no site http://www.cinequebec.blogspot.com/

CINEMATECA BRASILEIRA
24 de junho a 4 de julho (mostra de filmes e debate)
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próximo ao Metrô Vila Mariana
Terça a sexta: 19 e 21 horas
sábados e domingos: 17, 19 e 21 horas
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
http://www.cinemateca.gov.br/ (de onde foi retirado parte do texto acima e informações)
Ingressos: R$ 8,00 (inteira) / R$ 4,00 (meia-entrada)
Atenção: estudantes do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas têm direito à entrada gratuita mediante a apresentação da carteirinha.

CINUSP “PAULO EMÍLIO”
29 de junho a 2 de julho (mostra de filmes)
Rua do Anfiteatro, 181 – Colméia, Favo 04
Cidade Universitária
Segunda a sexta, 16 e 19 horas.
Outras informações: (11) 3091-3540
www.usp.br/cinusp
ENTRADA FRANCA

LABORATÓRIO DE IMAGEM E SOM EM ANTROPOLOGIA DA USP
29 de junho (palestra)
Rua do Anfiteatro, 181 – Colméia, Favo 10
Cidade Universitária
Outras informações: (11) 3091-3045
http://www.lisa.usp.br/