domingo, 31 de maio de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Leconte, o mais lynchado da França

Por Leo Cunha







Patrice Leconte é o cineasta mais linchado pela crítica francesa (ao lado, talvez, de Luc Besson). Desde a década de 90, seus barracos com os críticos se espalharam pelos jornais, revistas e tevês. Não lhe perdoam, entre outras coisas, o fato de passear da comédia mais escrachada, como a série Os bronzeados, até o drama mais denso, de A garota na ponte, passando pela ironia mais fina, de Ridicule.

Com o perdão do trocadilho infame, apresento aqui um trecho de A garota da ponte (1999) em que Leconte, talvez cansado de tanto linchamento, faz sua seqüência mais lynchada. Música de Badalamenti, simbologias, uma anã ao fundo. Os detratores de Leconte têm vida fácil!

Prefiro me ater às muitas belezas da cena. Além de Vanessa Paradis, a voz de Mariane Faithful, a edição, os movimentos de câmera, e, acima de tudo, Daniel Auteuil, sempre infalível. Eu disse infalível?

Em minha opinião, a cena do ensaio (segundo clipe) é uma das melhores cenas de sexo (metafórica, claro) dos últimos 10 anos.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Procurado vivo ou morto



por Marcelo Miranda

A campanha foi lançada por Leopoldo Tauffenbach em seu blog e tem sido repetida em outras páginas de cinema da internet. O Filmes Polvo se solidariza completamente com esta procura implacável e segue na torcida para que a bendita Europa Filmes, que promete entregar o paradeiro do dito cujo acima em novembro de 2009, não nos engane outra vez. 

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Esculpir o rosto



por Marcelo Miranda

ELA - Você não tem faces. Eu gostaria de saber o que um escultor como Rodin faria para esculpir o teu rosto.

ELE - E eu tenho certeza de que ele ia preferir esculpir as tuas pernas.

Diálogo de Eros, o Deus do Amor (1981), de Walter Hugo Khouri.
Na foto, o diretor ao lado de uma de suas estrelas preferidas, Lilian Lemmertz.

Mais sobre o filme neste belo texto de Andrea Ormond.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Budapeste



por Marcelo Miranda*

É sempre complexa a tarefa de levar às telas um romance difícil - e ainda mais Budapeste, em que Chico Buarque tece um complexo jogo metalinguístico que parece ter sido feito para funcionar apenas em letras, não em imagens. Portanto, vamos evitar, aqui, as comparações e nos ater especificamente ao filme de Walter Carvalho.

O que mais vai chamar atenção do público, logo de cara, é a ambientação na cidade-título. Logo nos primeiros minutos, Budapeste se impõe como personagem fundamental dos caminhos desgarrados do protagonista, José Costa (feito por Leonardo Medeiros, num tipo de interpretação que parece estar definitivamente atrelada à sua persona). A força da capital húngara é tamanha que o filme paradoxalmente sofre com isso, já que Carvalho não consegue gerar interação maior de Costa com o espaço que o cerca para além de passeios na rua e encontros com cafetões e prostitutas na calada da noite. Fica a sensação de que a cidade literalmente suga José Costa e não o permite respirar, o que também não deixa de fazer grande sentido.

Carvalho, bem auxiliado pela câmera do filho, Lula, dá ritmo próprio ao filme, por vezes carregando nas tintas da desolação, em outras "acelerando" as angústias de Costa. Quando o enredo dá as voltas malucas extraídas do livro de Chico e revela sua natureza mais verdadeira de ser um grande jogo para um grande personagem, Budapeste cresce bastante. Mas o caminho até lá é tortuoso, por vezes pretensioso demais, o que gera certa sensação de gelidez do cineasta para com o material que filma.

*publicado no jornal O TEMPO em 22.5.2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O bom velhinho


por Marcelo Miranda

Se Alain Resnais tivesse ganhado, no domingo o Oscar, talvez o Ciclo Alain Resnais, que acontece em Belo Horizonte desde o último dia 13 de maio e segue até 3 de junho, estivesse cheio hoje. Mas como levou troféu excepcional no Festival de Cannes, apenas cinéfilos antenados talvez tenham a noção do que algo assim representa (por mais de "consolação" que ele tenha sido, é inegável que a mera existência de um troféu "inventado" para Resnais denota a sua força enquanto artista de importância fundamental que mexe com a sensibilidade de quem toma contato com seus trabalhos).

De qualquer forma, a sessão de horário nobre desta segunda-feira da mostra no Cine Humberto Mauro (Stavisky, às 21h) estava vazia, com apenas uns seis gatos-pingados a assistir à melancólica trajetória do arrivista sacanamente interpretado por Jean-Paul Belmondo. A coordenadora em exercício da sala, Maria Chiaretti, já havia me alertado há alguns dias para a baixa frequência de espectadores aos filmes de Resnais. Isso porque são todas obras restauradas, em 35mm, de filmes seminais, indo de alguns curtas raros, passando pelas revoluções de Hiroshima, Mon Amour e O Ano Passado em Marienbad e chegando ao mais recente (em circuito comercial) Medos Privados em Lugares Públicos. Onde estão as cabeças assíduas do Cine Humberto Mauro?

Se você está em Belo Horizonte (ou próximo da cidade), não deixe de comparecer. A programação completa dos dias restantes pode ser lida aqui. Encare, no mínimo, como preparação para o novo longa do mestre, que saiu do Festival de Cannes laureado por muita gente importante como o melhor filme do evento. Para um vovô de 87 anos que parece estar regredindo no quesito idade (um Manoel de Oliveira francês?), não é, nem de longe, pouca coisa.

PS: a foto acima é clique do crítico Kleber Mendonça Filho, durante coletiva de Resnais em Cannes, na semana passada.

O cinema, para Welles



Sofri apenas uma vez a influência de alguém: antes de filmar Cidadão Kane, vi quarenta vezes No Tempo das Diligências. Não precisava me basear no exemplo de alguém que tinha alguma coisa a dizer, mas em alguém que me mostrasse como dizer o que eu tinha a dizer: para isso, John Ford é perfeito.

(...)

Gostava mais de cinema antes de fazer. Agora, não deixo de ouvir a claquete no início de cada plano: toda magia está destruída. De acordo com os prazeres que me proporcionam, eis a hierarquia que eu estabeleceria entre as diferentes artes: em primeiríssimo lugar, a literatura, depois a música, a pintura e o teatro. (...) Mas vou lhes fazer uma confidência mais terrível: só gosto de cinema quando estou filmando; então é preciso saber não ser muito tímido com a câmera, violentá-la, acuá-la em suas últimas trincheiras, pois não passa de um vil mecanismo. O que conta é a poesia.

Orson Welles, em entrevista a André Bazin, Charles Bitsch e Jean Domarchi, reproduzida no livro-ensaio Orson Welles, de André Bazin (Jorge Zahar Editor, 2006, tradução de André Telles)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O bom, o mau e o feio

por Marcelo Miranda

Por aquelas engraçadas ironias do circuito comercial, estão em cartaz ao mesmo tempo em várias cidades as cinebiografias Che, de Steven Soderbergh, e W., de Oliver Stone. O primeiro fala da ascensão e queda de Ernesto Guevara, de seu envolvimento na revolução cubana de 1959 à morte na Colômbia em 1967. Já o segundo acompanha os caminhos de George Walker Bush desde sua entrada na universidade até assumir a presidência dos EUA, indo até a decisão de invadir o Iraque no começo desta década.



As abordagens dos dois diretores aos seus biografados não podiam ser mais distintas. Soderbergh narra os caminhos e descaminhos de Che Guevara como se ele, o diretor, fosse uma árvore no meio da mata cubana: olhando objetivamente para aquele homem. Seria ingenuidade falar em total isenção da parte do cineasta, mas ele, de fato, busca parecer o mais isento possível. Curiosamente, essa tentativa por vezes obsessiva de se ater aos fatos, sem inserir muito de si mesmo no trabalho, faz de Che um filme amarradinho demais, excessivamente "limpo" e didático. Por se tratar de uma figura vendida a cada fotograma como um revolucionário, soa anacrônico o medo de Soderbergh se posicionar mais fortemente em qualquer aspecto que seja.



Oliver Stone sofre o invertido. Seu W. tem todos os tiques de uma cinebiografia feita para a TV (o que não é o caso, mas não custa lembrar que o filme foi um fracasso retumbante de público nos cinemas), com o acréscimo de que o diretor tenta fazer comentários pontuais em praticamente todas as cenas. Apesar de não condenar nem exaltar Bush, Stone não esconde uma verve irônica, nem sempre funcional. O tom varia entre a sátira pura e simples (especialmente nas cenas do presente) com a enumeração cronológica de etapas, uma a uma, que levaram o estudante beberrão ao maior cargo do mundo (cenas do passado). Stone nunca parece saber bem como contar essa história, nem onde colocar a câmera, nem como dirigir os atores numa chave minimamente acertada (exceção feita a Josh Brolin, excelente no papel principal; em compensação, Thandie Newton, como Condoleezza Rice, consegue destruir todo e qualquer plano em que aparece).

O filme se transforma numa esquizofrenia absoluta, e muito disso se deve aos esforços de Stone em deixar claro que ele é o contador daquela história, e aceita-se o fato quem quiser, com seus erros (muitos) e acertos (bem poucos). W. é um verdadeiro Frankestein em forma de película: montado para andar sozinho, mas trôpego e pesado a cada passada.

Feito os breves comentários, o leitor deve se perguntar: "e onde está o 'feio' do título do post?". Pois é, o "feio" é outro filme em cartaz, Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, que tem feito bom boca-a-boca. É um trabalho tão simpático, e também tão triste, que enfiei ele aqui no post meio na marra (e já tinha falado do filme neste post). Se quiser saber mais, leia uma crítica que escrevi a respeito do documentário clicando aqui (e role a página até onde está a foto do cantor com Pelé).

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Blá-blá-blá

por Marcelo Miranda

Quantas palavras por segundo Cary Grant, Katharine Hepburn e todos os demais integrantes do elenco disparam nos 100 minutos de Levada da Breca? Sempre uma delícia de assistir essa obra-prima de Howard Hawks. Veja abaixo este 1 minuto e 48 segundos e conte as palavras!



terça-feira, 19 de maio de 2009

O cinema, para Hawks



O senhor já pensou no cinema como arte?
Não.

O que é o cinema para você?
Um negócio. Divertimento.

Howard Hawks, em entrevista a Peter Bogdanovich reproduzida no livro Afinal, Quem Faz os Filmes (Cia das Letras, 1997, tradução de Henrique W. Leão)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O terror do essencial



por Marcelo Miranda

Os Estranhos, filme pouco comentado quando exibido nos cinemas brasileiros há alguns meses, está em DVD nas locadoras. É um típico exemplo do terror que nasce dos mais básicos recursos de linguagem (som, imagem e montagem) e consegue o incrível resultado de fazer qualquer espectador sentar na ponta da cadeira, ou apertar o cobertor, ou simplesmente não piscar.

E o melhor: filme completamente destituído de psicologismos, explicações supérfluas, traumas do passado e afins. O que importa, aqui, é provocar medo. O diretor Bryan Bertino consegue, graças ao controle total dos atores, do espaço e dos atores no espaço. Na verdade, se há alguma coisa que o suspense parece representar para além do medo puro e simples é a materialização do fim de uma relação (e talvez seu provável reatamento). Bertino nos oferece tudo isso num primor de contenção narrativa (único equivalente recente que me vem agora na cabeça nessa questão da contenção é Marcas da Violência, de David Cronenberg).

Seguem duas rápidas cenas do filme, que crescem assombrosamente se vistas dentro do contexto e com o scope original. Uma - excelente uso do plano longo para estender a tensão - precisa ser vista clicando aqui. A outra, momento de maior adrenalina, está logo abaixo.


sexta-feira, 15 de maio de 2009

O músico que não estava lá



por Marcelo Miranda

"Ah, o dedo-duro?" Foi esse o comentário que o pai do cineasta Micael Langer fez ao saber que o filho preparava um documentário sobre Wilson Simonal. Bem menos lembrada como fenômeno musical de massa do que como alguém envolvido com os agentes do regime militar, a figura de Simonal foi literalmente apagada da história cultural brasileira - ou "stalinizada", como define Cláudio Manoel, o "casseta" que resolveu, junto a Micael e a Calvito Leal, desenterrar a trajetória do músico.

O resultado é o documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei", com estreia nacional na sexta-feira, dia 15 de maio, nos cinemas. Vindos de gerações distintas - Cláudio tem 52 anos, Micael e Calvito, 34 e 31, respectivamente -, os três têm lembranças de Simonal antes do imbróglio no qual o cantor se envolveu. "Meus pais ouviam as músicas, e eu me recordo dele na televisão, mas não fazia ideia de tudo que existia por trás", conta Calvito Leal.

A iniciativa de um projeto que resgatasse Wilson Simonal veio de Cláudio Manoel, e por quase puro acaso: lendo o livro "Noites Tropicais", de Nelson Motta, o comediante se deparou com o enigma que cercava a memória do músico. "Era algo muito mal contado: o cara que fazia um sucesso enorme e, de vez em quando, era delator da polícia. Não fazia sentido", diz.

Motivado pela curiosidade e pelo fascínio por Simonal ("era o artista mais popular da época"), Cláudio pesquisou arquivos de imagens. Logo foi procurado por Sandra, segunda esposa do cantor, que lhe forneceu precioso material. Com a entrada de Micael e Calvito, o documentário foi ganhando luz. O processo inteiro durou sete anos. "O objetivo sempre foi trazer um pouco de luz à história do Simonal e também da música brasileira", afirma Micael. "Não sei como ninguém tinha contado isso ainda, porque é tudo muito fascinante, dramático, conturbado e polêmico."

No processo. O filme foi nascendo no seu próprio desenvolvimento, e os diretores tentaram transferir o processo para a narrativa. "Não tinha roteiro pré-determinado. As informações chegavam a nós de uma forma muito parecida como elas chegam ao espectador", destaca Calvito. "Os nossos pontos de vista foram sendo formados assim, e o propósito era que o espectador formasse o seu próprio olhar sem que precisássemos dar qualquer julgamento ao que narramos no documentário."


Cláudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer

Para atingir um público amplo, o trio recorreu aos mais variados recursos de linguagem, como animações psicodélicas que rimam com cores sessentistas, montagem de suspense crescente e variada gama de mídias, entre jornais, registros de shows e cenas de filmes (há trechos do raríssimo "É Simonal", lançado em 1970, com direção de Domingos Oliveira). "Buscamos ser o mais agregador possível", assume Calvito. Cláudio Manoel completa: "Ficou como o próprio Simonal: pop e na contramão".

A estratégia funcionou, ao menos antes da estreia comercial. "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei" teve bem-sucedida passagem por festivais de cinema, incluindo Festival do Rio, É Tudo Verdade, Paulínia, Cine BH e Amazonas Film Festival. Em vários deles, sagrou-se vencedor dos prêmios de júri popular.

Um resultado bastante louvável a um trabalho independente, que precisou da injeção de recursos particulares para sair do papel. "Foi mais difícil do que eu podia imaginar", lamenta Manoel, que investiu aproximadamente R$ 400 mil no projeto. "Ninguém queria se envolver nessa história."

Micael Langer acredita que o desinteresse em resgatar a imagem e a vida de Simonal se deve à triste mania do brasileiro de enterrar a obscuridade do passado. "A maior parte das pessoas é acomodada e não quer revirar algo que tenha sido estabelecido previamente", diz Micael. "É como se não fosse necessária a busca do que, de fato, aconteceu com o Simonal. Mesmo gente sem relação com ele preferiu ficar calada, em vez de mexer no tabu." "Ele foi um bode expiatório", acrescenta Calvito. "Juntando à questão racial, ao sucesso avassalador e à própria arrogância dele mesmo, o Simonal foi engolido por tudo isso."

*Publicado em O TEMPO no dia 13.5.2009.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Relembrando Cannes


por Marcelo Miranda


Em vias de começar a maratona 2009 do Festival de Cannes e copiando descaradamente a ideia do colega Saymon Nascimento, listo abaixo 16 filmes cronologicamente ganhadores da Palma de Ouro e que, de uma forma ou outra, me ajudaram a olhar o cinema como arte total e completa.


















A Doce Vida (1960), de Federico Fellini


Viridiana (1961), de Luis Buñuel


O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte


O Leopardo (1963), de Luchino Visconti


Os Guarda-Chuvas do Amor (1964), de Jacques Demy


Blow-up (1967), de Michelangelo Antonioni


If... (1969), de Lindsay Anderson


Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese


All That Jazz (1980), de Bob Fosse


A Balada de Narayama (1983), de Shohei Imamura


Coração Selvagem (1990), de David Lynch


Pulp Fiction (1994), de Quentin Tarantino


Gosto de Cereja (1997), de Abbas Kiarostami


Rosetta (1999), de Jean-Pierre e Luc Dardenne


Dançando no Escuro (2000), de Lars Von Trier


Elefante (2003), de Gus Van Sant

E para você? Quais seriam seus favoritos dentre os ganhadores de Cannes? Se precisar refrescar a memória, a lista está aqui.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Bem-vindo ao novo blog

Prezados leitores,
por motivos muito maiores do que a nossa vontade, o antigo Blog do Polvo precisará ser deixado por problemas técnicos. Sem gastar o tempo de ninguém com explicações que, no fim, farão pouco sentido, vamos direto ao que interessa: salvo novos bugs, esta é a nossa nova casa. Mais moderna, mais ágil e (prometemos) mais posts. Logo de cara, vamos começar com notas enviadas diretamente do Festival de Cannes, onde o polvo Leonardo Amaral está durante os próximos 14 dias. Portanto, fiquem atentos. E espalhem o endereço desta nova casa.

PS: apesar de não mais atualizado, o antigo Blog do Polvo ainda pode ser consultado em seu vasto arquivo. Por enquanto, visite aqui.