segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Uma conversa com o filipino Brillante Mendoza




por Marcelo Miranda

Numa breve e informativa conversa por e-mail, falamos com o diretor filipino Brillante Mendoza, ganhador da Palma de Ouro em Cannes como melhor diretor, por Kinatay. Seus filmes estão sendo exibidos no Indie 2009, em Belo Horizonte (com cobertura pólvica aqui), e em seguida vão passar no Cinesesc, em São Paulo. Na entrevista, Mendoza fala sobre seu cinema, as escolhas estéticas e narrativas de seus filmes e como é ser cineasta independente nas Filipinas.

Seu trabalho tem sido caracterizado como brutal, hiperrealista e provocador, devido ao uso da violência e do sexo. De onde vêm inspirações e ideias para os filmes que faz?
A fonte são histórias de pessoas diferentes que eu entrevisto sempre que faço pesquisa para algum tema sobre o qual eu gostaria de retratar. Minhas inspirações são essas pessoas, porque elas são gente de verdade. As tramas propriamente ditas são uma criação da minha imaginação.

A realidade das Filipinas é uma questão nos filmes? De que maneira você a leva às telas?
Não há como não ter a situação real das Filipinas nos meus filmes, porque eles estão baseados em histórias reais. Tento ser o mais verdadeiro e honesto possível ao retratar as realidades da vida. Procuro não ser pretensioso ou hipócrita. A verdade dói, e é por isso que algumas pessoas não gostam do que eu faço.

Num período de cinco anos, você realizou oito filmes e ganhou prêmio em Locarno com o primeiro (Massagista) e a Palma de Ouro de Cannes de melhor diretor com o último (Kinatay). Como define essa rápida trajetória? Sente que seu cinema mudou entre o primeiro filme e o mais recente?
Só quero seguir em frente. O cinema me faz sentir vivo. Sinto que ainda tenho muitas coisas a dizer e não vou parar até eu ser ouvido. Acredito que há um propósito no que acontece na minha carreira. Talvez meu estilo e a forma como conto minhas histórias tenham algo a ver com a aceitação dos filmes na comunidade internacional. Ou algumas pessoas talvez prefiram ver mais verdades do que as coisas que elas costumavam ver antes. Meu estilo cinematográfico não mudou de Massagista para Kinatay. O que muda é minha maturidade no trabalho, na perspectiva e na visão como cineasta.

O realismo e o tom de documentário são muito presentes nos filmes. Você quer fazer o espectador ser cúmplice do que conta?
Quero ter um público responsável e maduro. Quero envolvê-lo não só emocional e psicologicamente, mas também fisicamente. Quero que os espectadores tenham uma experiência tridimensional; não quero que fiquem apenas lá sentados, assistindo ao filme de uma forma distante ou desapegada. O que eu faço não é para entreter. Quero que o público pense e se envolva.

Você disse recentemente que seu país não está preparado para o tipo de cinema que propõe. Por quê?
Meu país, assim como na maioria dos países americanizados, estão expostos apenas a filmes de Hollywood. Pensamos que qualquer coisa de lá é muito boa, portanto, esforçamo-nos para sermos como Hollywood. Se não a visualizarmos, então o filme é ruim. Mas o que faço está muito próximo da realidade, e o público filipino não está preparado para ver roupa suja no próprio quintal.

As reações extremas que seus filmes geram (alguns amam, outros odeiam) faz bastante sentido na sua tentativa de provocar. Como lida com isso?
O cinema é completamente uma questão de troca de pensamentos e ideias. Se você não puder dizer algo sobre um filme, então o filme deve ser ruim. Se as pessoas não gostarem dos meus filmes, respeito suas opiniões, porque é um direito delas. Mas elas também devem respeitar meus direitos de contar as histórias como eu quero contar.

O que caracteriza o cinema hoje nas Filipinas?
Fazer cinema alternativo nas Filipinas não é caro, pois podemos conseguir os recursos gratuitamente e todo mundo quer prestar seus serviços também gratuitamente. Existe uma revolução na expressão dos nossos pensamentos e ideias devido à tecnologia digital. A maioria das histórias dos cineastas independentes é excepcional. Elas não se encaixam na narrativa tradicional. Os jovens cineastas são bravos e sem medo. Não se importam em perder dinheiro. Uma atitude filipina típica é o "bahala na" (venha o que vier). Mas, fora dessa revolução, o público em geral ainda vai procurar os filmes mais comentados. Ainda temos que encontrar e manter fiel o nosso público, e isso exige um longo processo.

2 comentários:

Ucha disse...

Muito bacana MM!

Lucas'Ville disse...

Ótima entrevista!
Mendoza cada vez mais se tornar um dos diretores que mais respeito atualmente.

Fiz uma crítica do filme KINATAY em meu blog: http://lucassville.blogspot.com/2011/05/cinema-kinatay-execucao.html

A entrevista foi por email? Teria como conseguir o email dele para mim, preciso contactar ele sobr euma mostra que estou organizando com suas obras. Caso queria entrar em contato me mand aum email para: HHLLII1@YAHOO.COM.BR
Obrigado.