terça-feira, 18 de agosto de 2009

Hector Babenco no Canal Brasil



por Marcelo Miranda

"Isso eu já respondi. Vamos em frente, vamos em frente!". O brado de Hector Babenco ao repórter ao telefone diz muito da personalidade deste cineasta marcado pela inquietação. Aos 63 anos de idade e com nove longas-metragens no currículo - realizados ao longo de quase 35 anos de carreira como diretor -, Babenco ganha no Canal Brasil, de hoje (terça) até o dia 28, retrospectiva de sua obra, com exceção de um filme.

"Essa revisão é uma coisa muito forte", define ele. "Há três décadas me recuso a vender os direitos dos meus filmes para passar na televisão, porque recebia propostas aviltantes de valor e horário de exibição." Quando finalmente fechou negociação com o Canal Brasil, Babenco se sentiu tranquilo. "A proposta era muito boa e valorizava cada um dos filmes", diz. Apenas um único título ficou de fora - Ironweed (1987), com Jack Nicholson e Meryl Streep, não pode ser exibido pelo fato de Babenco não deter os direitos sobre ele.

Mas, de resto, está tudo lá. Da estreia na ficção com o semibiográfico O Rei da Noite (1975) à adaptação do best seller romântico O Passado (2007), a mostra permite acompanhar a evolução de um realizador que se divide entre questões de cunho sócio-político, caso dos fortíssimos Pixote - A Lei do Mais Fraco (1980), O Beijo da Mulher-Aranha (1985) e Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia (1977 - foto acima), numa trinca que consagrou o diretor, inclusive com vitórias e indicações no Oscar; e angústias existenciais ou de ordem afetiva, como a delicadeza que permeia Coração Iluminado (1998) e O Passado. Mesmo em épicos como Brincando nos Campos do Senhor (1991) e Carandiru (2003), Babenco se permite olhar o ser humano - e suas idiossincrasias - dentro dos universos retratados, sejam as matas da Amazônia, seja o interior de opressivas celas.

Em graus de qualidade mais ou menos significativos, cada um destes filmes tem como característica maior a coragem de se arriscar, a ânsia por provocar conflitos nem sempre muito tangíveis. Babenco não pode ser enquadrado em nenhum movimento radiografado no cinema brasileiro, nem muito menos um cineasta "estrangeiro", como tanta gente aponta. "Fiz alguns trabalhos com capital internacional, mas sempre filmei no Brasil, trouxe as produções pra cá", afirma Babenco, categórico.

Nascido na Argentina, ele morou na Itália (onde trabalhou de figurante, inclusive em filmes do italiano Sergio Corbucci) e se mudou para o Brasil em 1969. Aqui, naturalizou-se em 1977 e não arredou pé. "Não sou um estrangeiro neste país."

Confira a programação da mostra no Canal Brasil aqui.

Um comentário:

Adilson Marcelino disse...

Estou adorando rever os filmes do Babenco, e aguardo ansioso Brincando nos Campos do Senhor, um dos meus prediletos, e que me faz lembrar dos áures tempos do Savassi Cineclube.
E as cópias estão tinindo de novas.
abs