domingo, 9 de agosto de 2009

"Moscou" não é unanimidade



por Marcelo Miranda

Eduardo Coutinho se tornou um patrimônio do cinema brasileiro, e isso é muito bom e justo. Mas, por outro lado, o endeusamento pode criar um mito em torno de qualquer coisa que o realizador faça. A estreia de Moscou na última semana e as reações que começaram a pipocar a respeito do filme mostraram que, sob alguns aspectos, a crítica brasileira se dá o direito e a coragem de externar opiniões contrárias a um suposto senso comum.

Em resumo: vários críticos não gostaram de Moscou e apontaram seu desapontamento em textos que, concorde-se ou não, levantam ideias e argumentos a partir da obra de Coutinho, e não a partir da figura dele como homem ou artista. É um exercício muito saudável, que apenas traz ganhos à reflexão e, inclusive, é positivo ao cineasta e à obra.

Eu, particularmente, gosto de Moscou, mas não me incomodo em nada ao ler artigos negativos respeitosos e preocupados em pensá-lo ou entendê-lo, como o de Jean-Claude Bernardet, ou mesmo expondo a própria incapacidade de se chegar ao filme, caso de Carlos Alberto Mattos, e ainda um olhar francamente positivo em cima de um "fracasso", como fala Kleber Mendonça Filho.

A primeira manifestação com um quê de problematização veio de Cléber Eduardo, quando o filme foi exibido no começo do ano, no É Tudo Verdade, em São Paulo. O recente estopim, porém, veio do artigo de Eduardo Escorel na revista piauí do mês de agosto. Intitulado "Coutinho não sabe o que fazer", o texto aborda o filme a partir de um provável desinteresse surgido durante as filmagens que geraram os fragmentos de Moscou. Com exceção de um parágrafo em que Escorel parece desconsiderar o fato de alguém simplesmente gostar do filme, independente de "condescendência" ou "veneração" - assim como ele próprio tem todo o direito de não gostar e defender seus pontos de vista -, a crítica é muito boa.

ATUALIZAÇÃO: o site da piauí liberou acesso ao artigo do Eduardo Escorel. Clique aqui.

A discussão, portanto, está aberta, e para todos os lados. Quem poderia imaginar que o gênio de Coutinho, cuja obra é uma rara unanimidade dentre todos nós, pudesse protagonizar um embate como esse?

4 comentários:

Adilson Marcelino disse...

Meu caro,
Eu sou do time dos que gostam do filme. Aliás, adoro.
Abs

vebis jr disse...

Volto a dizer: ha anos não vejo o cinema nacional com estreias tão chatas ou chapa branca nos cinemas. Quando me surge um filme brilhante, que me derrubou noites pensando em algumas sequencias e que, falando o portugues claro, eu achei do caraleo, me parece injusto alguns nomes de peso surgirem com textos negativos. Li os tais textos e só acabei gostando mais do filme do Coutinho.

Murilo disse...

Demorei a digerir Moscou, desde que o assisti em Paulínia. É difícil, denso, porém o que me pareceu mais encantador foi o fato de o filme expressar essa insegurança que Coutinho mesmo revelou, e isso é muito postivo na medida em que o longa se arrisca sempre, seja na construção cênica, ou num tipo de exercício de profunda abstração que o cineasta parece nos estimular constantemente. É um filme que faz pensar a imagem, pensar a memória. É especial, em resumo.

Marcelo Miranda disse...

Ainda que não o tenha feito aqui, Bruno Andrade fez um post, imagino eu, sobre o assunto aqui em pauta - ou, pelos menos, que se relaciona diretamente a ele. Lá vai o link: http://signododragao.blogspot.com/2009/08/eu-simplesmente-nao-acredito-que-nos.html