quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cisne Negro



por Marcelo Miranda

Depois de dois filmes chiliquentos ("Pi" e "Réquiem para um Sonho") e um tropeço escandaloso ("A Fonte da Vida"), o diretor Darren Aronofsky colocou o pé no chão e fez um dos trabalhos mais intensos do cinema norte-americano nos últimos anos. "O Lutador" (2008), que venceu o Leão de Ouro do Festival de Veneza, tinha no corpo e no rosto de Mickey Rourke a maior parte de sua força, e Aronofsky soube aproveitar isso.

Ele faz o mesmo em "Cisne Negro", seu novo trabalho. Desta vez, o corpo e o rosto são de Natalie Portman, já uma papa-prêmios por sua interpretação (que deve lhe dar o Oscar). Ela faz a jovem e inocente bailarina Nina, cujo grande sonho é ser a protagonista de uma nova versão para "O Lago dos Cisnes".

Após conseguir o papel, Nina entra numa espiral de situações estranhas, envolvendo uma rival, sua antecessora e, especialmente, sua própria personalidade conflitante.

Aronofsky faz aqui uma mistura do histrionismo de "Réquiem para um Sonho" com a fluidez e sobriedade de "O Lutador". O filme é claramente dividido em duas partes, sendo a primeira o processo de adequação de Nina e a segunda, o impacto desse mesmo processo.

Se há algo a chamar a atenção em "Cisne Negro" é a despreocupação de Aronofsky em criar uma "trama". Há Nina às voltas com as estranhezas ao redor, e nada mais que isso. É corajoso para um filme de clara busca por mercado, o que não significa que seja um procedimento sempre bem-sucedido.

Ao mesmo tempo em que tateia em busca do que pode causar choque à imagem, Aronofsky também escorrega para o inócuo, tornando "Cisne Negro" algo esquizofrênico. A entrega de Portman ao papel - de maneira física e psicológica - torna-se o maior atrativo do filme.

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