quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei



por Marcelo Miranda

Haveria uma grande chance de “O Discurso do Rei” passar incólume pelo circuito de exibição se não tivesse 12 indicações ao Oscar. É daqueles casos em que se percebe o quanto uma significativa parcela do público pauta suas escolhas do que ver pela premiação de Hollywood.

Isso porque “O Discurso do Rei” é um filme que não nos diz nada. Quer dizer, há ali a reconstituição da ascensão do duque de York ao reinado da Inglaterra, tornando-se George IV e liderando a nação rumo à Segunda Guerra Mundial. O centro do filme é a deficiência sofrida pelo personagem: gago devido a inseguranças de infância, o duque procura a ajuda de um “terapeuta da fala” para conseguir dar conta do problema.

Para além do simplismo de reduzir o destino de um império a uma gagueira, “O Discurso do Rei” faz a mais básica hagiografia do protagonista. O duque é sempre mostrado de maneira solene e condescendente – mesmo num arroubo de arrogância, logo ele trata de pedir desculpas.

Sob outra ótica, este poderia muito bem ser classificado como um filme de propaganda, feito para exaltar um regime de governo e a imagem do chefe nacional. Como estamos falando da Grã-Bretanha, e como estamos falando de um trabalho cujo valor histórico está em apenas recontar o que convém à sua “mensagem” exaltativa, voltamos à pergunta inicial: a que nos interessa?

A direção de Tom Hooper é daquela sobriedade automática, com nada fora do lugar. Colin Firth tem interpretação bastante forte – mas desde quando isso é novidade (ao menos a quem acompanha os bons trabalhos do ator britânico)?

A questão vai além de “O Discurso do Rei” ser bom ou não, mas, sim, o quanto um filme como esses ganha holofotes pelos motivos errados – a saber, o excesso de indicações a uma premiação notadamente comprometida com outros aspectos que não os artísticos.

Compra o discurso quem quer.

Nenhum comentário: