por Marcelo Miranda
Nas misteriosas primeiras imagens, vê-se - meio nas sombras, mas visível - o rosto do personagem-chave do filme. Só que, ao longo da narrativa, o espectador tende a apagar esse rosto da mente. Num certo momento adiante, o protagonista reconhece uma referência a determinada data, mas não consegue se lembrar de onde. A informação foi dada lá atrás, mas, de novo, o espectador talvez não consiga recuperá-la, ficando na mesma posição agoniada daquele protagonista.
É por meio de manipulações como essas que Joseph Losey torna A Sombra da Forca próximo do grandioso. Não só por elas, mas pela forma como trabalha a encenação e a composição dos planos, no intuito de provocar sentidos. Logo no início, há o encontro entre o filho, condenado à morte dali a 24 horas, e o pai alcoólatra, que só soube do destino trágico da prole naquele dia. Os dois conversam na prisão, separados por um vidro. Em plano e contraplano, vemos as expressões de ambos, já que o rosto de um é refletido no vidro quando a câmera foca o outro. E, sempre a espreitar, sob qualquer ponto de vista, estão os guardas do presídio, atentos a toda palavra ou movimento. Pronto: apenas com isso, Losey explicita o sufocamento propiciado pela autoridade e a inexorabilidade da derrota em cima daquele pai e daquele filho. O brilhantismo da simplicidade, como defendi aqui.
São de instantes como este - e de dezenas de outros mais, vários deles tendo espelhos e vidros como objetos fundamentais da composição - que A Sombra da Forca também se move. Trata-se de um filme labiríntico, que vai abrindo um punhado de portas a cada nova cena, a cada novo diálogo, enredando o espectador numa teia da qual ele não consegue sair. Ao fim - e que fim! -, tem-se verdadeira sentimento ambíguo: um imbróglio se resolve, outro se configura. O público não sabe se fica feliz/aliviado ou se desaba de desespero diante dos acontecimentos. E assim, Joseph Losey faz um filme arrasador.
A Sombra da Forca saiu em DVD no Brasil pela Lume Filmes.
Nas misteriosas primeiras imagens, vê-se - meio nas sombras, mas visível - o rosto do personagem-chave do filme. Só que, ao longo da narrativa, o espectador tende a apagar esse rosto da mente. Num certo momento adiante, o protagonista reconhece uma referência a determinada data, mas não consegue se lembrar de onde. A informação foi dada lá atrás, mas, de novo, o espectador talvez não consiga recuperá-la, ficando na mesma posição agoniada daquele protagonista.
É por meio de manipulações como essas que Joseph Losey torna A Sombra da Forca próximo do grandioso. Não só por elas, mas pela forma como trabalha a encenação e a composição dos planos, no intuito de provocar sentidos. Logo no início, há o encontro entre o filho, condenado à morte dali a 24 horas, e o pai alcoólatra, que só soube do destino trágico da prole naquele dia. Os dois conversam na prisão, separados por um vidro. Em plano e contraplano, vemos as expressões de ambos, já que o rosto de um é refletido no vidro quando a câmera foca o outro. E, sempre a espreitar, sob qualquer ponto de vista, estão os guardas do presídio, atentos a toda palavra ou movimento. Pronto: apenas com isso, Losey explicita o sufocamento propiciado pela autoridade e a inexorabilidade da derrota em cima daquele pai e daquele filho. O brilhantismo da simplicidade, como defendi aqui.
São de instantes como este - e de dezenas de outros mais, vários deles tendo espelhos e vidros como objetos fundamentais da composição - que A Sombra da Forca também se move. Trata-se de um filme labiríntico, que vai abrindo um punhado de portas a cada nova cena, a cada novo diálogo, enredando o espectador numa teia da qual ele não consegue sair. Ao fim - e que fim! -, tem-se verdadeira sentimento ambíguo: um imbróglio se resolve, outro se configura. O público não sabe se fica feliz/aliviado ou se desaba de desespero diante dos acontecimentos. E assim, Joseph Losey faz um filme arrasador.
A Sombra da Forca saiu em DVD no Brasil pela Lume Filmes.
Não deixe de ver.
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