quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um rosto e um corpo: Leonor Silveira








por Marcelo Miranda

Um rosto e um corpo emolduram o cinema de Manoel de Oliveira. Numa visão mais conjunta de seus filmes, como tem sido possível na mostra em Belo Horizonte, é perceptível o quanto da força no cinema deste português genial se deve à presença de Leonor Silveira.

Nascida no Porto há 39 anos, a atriz tem a vida misturada à carreira com Manoel: sua estreia no cinema se dá em 1986, em Os Canibais. O trabalho mais recente é Singularidades de uma Rapariga Loura, do mesmo diretor e lançado este ano. No meio, aproximadamente outros 15 filmes com Manoel, num período de 23 anos.

Em todos, por menor que seja, a presença de Leonor é radiante. Não apenas pela expressividade do rosto e dos gestos, mas pela força e sedução dos movimentos do corpo. Manoel poucas vezes a filmou sem roupas (se não me engano, apenas em A Divida Comédia), o que em nada diminui a sensualidade da atriz e o impacto que ela exerce ao surgir na tela. Cada gestual, olhar, virada de cabeça, um mínimo arfar, tudo passível de provocar uma hecatombe dentro e fora da tela.

Manoel deve pensar o mesmo. Ele sabe utilizar o talento de Leonor a favor do filme e dela própria. Atriz de recursos discretos, raramente aparece "superatuando". A voz branda, o sorriso raro, os olhos claros que parecem guardar o sentido do mundo, dão-lhe uma vida distinta a cada novo papel.

Vale Abraão talvez seja a súmula de Leonor Silveira sob as lentes de Manoel de Oliveira. Um momento da narração em off que molda o filme, reproduzido abaixo, refere-se à personagem Ema. As palavras, porém, são facilmente transferíveis para a própria Leonor.

Ema significava a extremidade de qualquer coisa.
A sua beleza constituía uma exuberância e, como tal, um perigo.



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