por Marcelo Miranda
"Ah, o dedo-duro?" Foi esse o comentário que o pai do cineasta Micael Langer fez ao saber que o filho preparava um documentário sobre Wilson Simonal. Bem menos lembrada como fenômeno musical de massa do que como alguém envolvido com os agentes do regime militar, a figura de Simonal foi literalmente apagada da história cultural brasileira - ou "stalinizada", como define Cláudio Manoel, o "casseta" que resolveu, junto a Micael e a Calvito Leal, desenterrar a trajetória do músico.
O resultado é o documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei", com estreia nacional na sexta-feira, dia 15 de maio, nos cinemas. Vindos de gerações distintas - Cláudio tem 52 anos, Micael e Calvito, 34 e 31, respectivamente -, os três têm lembranças de Simonal antes do imbróglio no qual o cantor se envolveu. "Meus pais ouviam as músicas, e eu me recordo dele na televisão, mas não fazia ideia de tudo que existia por trás", conta Calvito Leal.
A iniciativa de um projeto que resgatasse Wilson Simonal veio de Cláudio Manoel, e por quase puro acaso: lendo o livro "Noites Tropicais", de Nelson Motta, o comediante se deparou com o enigma que cercava a memória do músico. "Era algo muito mal contado: o cara que fazia um sucesso enorme e, de vez em quando, era delator da polícia. Não fazia sentido", diz.
Motivado pela curiosidade e pelo fascínio por Simonal ("era o artista mais popular da época"), Cláudio pesquisou arquivos de imagens. Logo foi procurado por Sandra, segunda esposa do cantor, que lhe forneceu precioso material. Com a entrada de Micael e Calvito, o documentário foi ganhando luz. O processo inteiro durou sete anos. "O objetivo sempre foi trazer um pouco de luz à história do Simonal e também da música brasileira", afirma Micael. "Não sei como ninguém tinha contado isso ainda, porque é tudo muito fascinante, dramático, conturbado e polêmico."
No processo. O filme foi nascendo no seu próprio desenvolvimento, e os diretores tentaram transferir o processo para a narrativa. "Não tinha roteiro pré-determinado. As informações chegavam a nós de uma forma muito parecida como elas chegam ao espectador", destaca Calvito. "Os nossos pontos de vista foram sendo formados assim, e o propósito era que o espectador formasse o seu próprio olhar sem que precisássemos dar qualquer julgamento ao que narramos no documentário."
"Ah, o dedo-duro?" Foi esse o comentário que o pai do cineasta Micael Langer fez ao saber que o filho preparava um documentário sobre Wilson Simonal. Bem menos lembrada como fenômeno musical de massa do que como alguém envolvido com os agentes do regime militar, a figura de Simonal foi literalmente apagada da história cultural brasileira - ou "stalinizada", como define Cláudio Manoel, o "casseta" que resolveu, junto a Micael e a Calvito Leal, desenterrar a trajetória do músico.
O resultado é o documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei", com estreia nacional na sexta-feira, dia 15 de maio, nos cinemas. Vindos de gerações distintas - Cláudio tem 52 anos, Micael e Calvito, 34 e 31, respectivamente -, os três têm lembranças de Simonal antes do imbróglio no qual o cantor se envolveu. "Meus pais ouviam as músicas, e eu me recordo dele na televisão, mas não fazia ideia de tudo que existia por trás", conta Calvito Leal.
A iniciativa de um projeto que resgatasse Wilson Simonal veio de Cláudio Manoel, e por quase puro acaso: lendo o livro "Noites Tropicais", de Nelson Motta, o comediante se deparou com o enigma que cercava a memória do músico. "Era algo muito mal contado: o cara que fazia um sucesso enorme e, de vez em quando, era delator da polícia. Não fazia sentido", diz.
Motivado pela curiosidade e pelo fascínio por Simonal ("era o artista mais popular da época"), Cláudio pesquisou arquivos de imagens. Logo foi procurado por Sandra, segunda esposa do cantor, que lhe forneceu precioso material. Com a entrada de Micael e Calvito, o documentário foi ganhando luz. O processo inteiro durou sete anos. "O objetivo sempre foi trazer um pouco de luz à história do Simonal e também da música brasileira", afirma Micael. "Não sei como ninguém tinha contado isso ainda, porque é tudo muito fascinante, dramático, conturbado e polêmico."
No processo. O filme foi nascendo no seu próprio desenvolvimento, e os diretores tentaram transferir o processo para a narrativa. "Não tinha roteiro pré-determinado. As informações chegavam a nós de uma forma muito parecida como elas chegam ao espectador", destaca Calvito. "Os nossos pontos de vista foram sendo formados assim, e o propósito era que o espectador formasse o seu próprio olhar sem que precisássemos dar qualquer julgamento ao que narramos no documentário."
Cláudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer
Para atingir um público amplo, o trio recorreu aos mais variados recursos de linguagem, como animações psicodélicas que rimam com cores sessentistas, montagem de suspense crescente e variada gama de mídias, entre jornais, registros de shows e cenas de filmes (há trechos do raríssimo "É Simonal", lançado em 1970, com direção de Domingos Oliveira). "Buscamos ser o mais agregador possível", assume Calvito. Cláudio Manoel completa: "Ficou como o próprio Simonal: pop e na contramão".
A estratégia funcionou, ao menos antes da estreia comercial. "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei" teve bem-sucedida passagem por festivais de cinema, incluindo Festival do Rio, É Tudo Verdade, Paulínia, Cine BH e Amazonas Film Festival. Em vários deles, sagrou-se vencedor dos prêmios de júri popular.
Um resultado bastante louvável a um trabalho independente, que precisou da injeção de recursos particulares para sair do papel. "Foi mais difícil do que eu podia imaginar", lamenta Manoel, que investiu aproximadamente R$ 400 mil no projeto. "Ninguém queria se envolver nessa história."
Micael Langer acredita que o desinteresse em resgatar a imagem e a vida de Simonal se deve à triste mania do brasileiro de enterrar a obscuridade do passado. "A maior parte das pessoas é acomodada e não quer revirar algo que tenha sido estabelecido previamente", diz Micael. "É como se não fosse necessária a busca do que, de fato, aconteceu com o Simonal. Mesmo gente sem relação com ele preferiu ficar calada, em vez de mexer no tabu." "Ele foi um bode expiatório", acrescenta Calvito. "Juntando à questão racial, ao sucesso avassalador e à própria arrogância dele mesmo, o Simonal foi engolido por tudo isso."
*Publicado em O TEMPO no dia 13.5.2009.
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