Sofri apenas uma vez a influência de alguém: antes de filmar Cidadão Kane, vi quarenta vezes No Tempo das Diligências. Não precisava me basear no exemplo de alguém que tinha alguma coisa a dizer, mas em alguém que me mostrasse como dizer o que eu tinha a dizer: para isso, John Ford é perfeito.
(...)
Gostava mais de cinema antes de fazer. Agora, não deixo de ouvir a claquete no início de cada plano: toda magia está destruída. De acordo com os prazeres que me proporcionam, eis a hierarquia que eu estabeleceria entre as diferentes artes: em primeiríssimo lugar, a literatura, depois a música, a pintura e o teatro. (...) Mas vou lhes fazer uma confidência mais terrível: só gosto de cinema quando estou filmando; então é preciso saber não ser muito tímido com a câmera, violentá-la, acuá-la em suas últimas trincheiras, pois não passa de um vil mecanismo. O que conta é a poesia.
Orson Welles, em entrevista a André Bazin, Charles Bitsch e Jean Domarchi, reproduzida no livro-ensaio Orson Welles, de André Bazin (Jorge Zahar Editor, 2006, tradução de André Telles)
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