Por aquelas engraçadas ironias do circuito comercial, estão em cartaz ao mesmo tempo em várias cidades as cinebiografias Che, de Steven Soderbergh, e W., de Oliver Stone. O primeiro fala da ascensão e queda de Ernesto Guevara, de seu envolvimento na revolução cubana de 1959 à morte na Colômbia em 1967. Já o segundo acompanha os caminhos de George Walker Bush desde sua entrada na universidade até assumir a presidência dos EUA, indo até a decisão de invadir o Iraque no começo desta década.
As abordagens dos dois diretores aos seus biografados não podiam ser mais distintas. Soderbergh narra os caminhos e descaminhos de Che Guevara como se ele, o diretor, fosse uma árvore no meio da mata cubana: olhando objetivamente para aquele homem. Seria ingenuidade falar em total isenção da parte do cineasta, mas ele, de fato, busca parecer o mais isento possível. Curiosamente, essa tentativa por vezes obsessiva de se ater aos fatos, sem inserir muito de si mesmo no trabalho, faz de Che um filme amarradinho demais, excessivamente "limpo" e didático. Por se tratar de uma figura vendida a cada fotograma como um revolucionário, soa anacrônico o medo de Soderbergh se posicionar mais fortemente em qualquer aspecto que seja.
Oliver Stone sofre o invertido. Seu W. tem todos os tiques de uma cinebiografia feita para a TV (o que não é o caso, mas não custa lembrar que o filme foi um fracasso retumbante de público nos cinemas), com o acréscimo de que o diretor tenta fazer comentários pontuais em praticamente todas as cenas. Apesar de não condenar nem exaltar Bush, Stone não esconde uma verve irônica, nem sempre funcional. O tom varia entre a sátira pura e simples (especialmente nas cenas do presente) com a enumeração cronológica de etapas, uma a uma, que levaram o estudante beberrão ao maior cargo do mundo (cenas do passado). Stone nunca parece saber bem como contar essa história, nem onde colocar a câmera, nem como dirigir os atores numa chave minimamente acertada (exceção feita a Josh Brolin, excelente no papel principal; em compensação, Thandie Newton, como Condoleezza Rice, consegue destruir todo e qualquer plano em que aparece).
O filme se transforma numa esquizofrenia absoluta, e muito disso se deve aos esforços de Stone em deixar claro que ele é o contador daquela história, e aceita-se o fato quem quiser, com seus erros (muitos) e acertos (bem poucos). W. é um verdadeiro Frankestein em forma de película: montado para andar sozinho, mas trôpego e pesado a cada passada.
Feito os breves comentários, o leitor deve se perguntar: "e onde está o 'feio' do título do post?". Pois é, o "feio" é outro filme em cartaz, Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, que tem feito bom boca-a-boca. É um trabalho tão simpático, e também tão triste, que enfiei ele aqui no post meio na marra (e já tinha falado do filme neste post). Se quiser saber mais, leia uma crítica que escrevi a respeito do documentário clicando aqui (e role a página até onde está a foto do cantor com Pelé).
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