quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Walter Hugo Khouri, 80


O cineasta brasileiro Walter Hugo Khouri faria hoje 80 anos de idade, caso não tivesse morrido em 27 de junho de 2003. A convite do Blog do Polvo, o pesquisador Adilson Marcelino, profundo admirador e conhecedor da obra de Khouri, escreveu o texto abaixo.

(Na foto acima, Khouri, à esquerda, dirige Ben Gazzara e Eva Grimaldi em Forever, filme de 1991)

A culpa é do Khouri
(por Adilson Marcelino)

Minha paixão pelo cinema brasileiro é tão absoluta que quase que abandonei o cinema estrangeiro por completo. Persigo uma meta quase insana, que é ver, e, muitas vezes rever, o maior número possível de filmes brasileiros em longa-metragem. E a culpa disso tudo é de um senhor que estaria completando 80 anos no dia 21 de outubro se vivo estivesse.

Estou falando de Walter Hugo Khouri, esse gênio do cinema nacional e dono de uma trajetória completamente singular na história do nosso cinema.

Muita gente gosta de dizer que Walter Hugo Khouri é o nosso Bergman ou o nosso Antonioni. Afora as genialidades dos cineastas sueco e italiano, sempre fico um pouco de bronca com esse tipo de comparação. Por que então não dizer que Bergman é o Khouri da Suécia e Antonioni o Khouri da Itália? Porque eles começaram antes? Porque eles são gênios do cinema mundial? Porque Khouri sempre deixou claras a admiração e a influência dos dois cineastas? Acho que é mais que isso, é um pouco a nossa eterna subordinação, como quando dizem que Paulo Autran é o nosso Lawrence Olivier, Joana Fomm é a nossa Bette Davis ou Roberto Carlos é o nosso Julio Iglesias.

Meu primeiro contato com o cinema de Khouri foi a partir de um trailler. Sim, um fragmento de “Eros, o Deus do Amor”, obra-prima do cineasta lançada em 1981. Tinha 17 anos e vi no antigo Cine Palladium, cinema de rua-mor de Belo Horizonte, o trailer de “Eros”. Fiquei estupefato. O trailer era um desfile de mulheres absolutamente maravilhosas circundadas por uma atmosfera sedutora, enigmática e de alta combustão.

Na época, nem sabia direito o que era cinema brasileiro, mas a partir desse trailer, e depois do filme assistido, nunca mais larguei o pé da nossa cinematografia. E, claro, vi quase todos os filmes de Khouri – menos “O Gigante de Pedra”, “Fronteiras do Inferno”, “Na Garganta do Diabo”, “A Ilha”, “O Anjo da Noite”, “O Desejo” e “Mônica e a Sereia do Rio”, de Maurício de Sousa, no qual Khouri fez as cenas ao vivo.

Meu primeiro trabalho como jornalista foi em 1991, em um jornal extinto de Contagem chamado Folha Popular. Eu tinha uma coluna de cinema, que durou até o final da publicação em 1993. Já no segundo número do jornal, criei uma seção de homenagem às atrizes do cinema brasileiro. E quem estava lá inaugurando as homenagens? Odete Lara, com direito à citação de seu trabalho em “Noite Vazia”.

Não preciso dizer também que foi esse impacto com “Eros” – e hoje compreendo isso mais claramente - que, além da coluna, inspirou-me a criar um fotolog e depois o meu site Mulheres do Cinema Brasileiro.

Aliás, quando criei uma sala no site para que homens do nosso cinema homenageassem as mulheres, queria dar o nome de Sala Walter Hugo Khouri. Mas aí o cineasta Carlos Reichenbach, eterno padrinho do site, aconselhou-me a dar o nome de Sala Lilíam Lemmertz, musa maior do cineasta, para que não ficasse estranho, já que todas as salas tinham nomes de mulheres. Carlão, inclusive, inaugurou a sala homenageando a atriz.

(Neste ano, o site fez cinco anos, e eu queria inaugurar novo design, mas ainda não consegui. Mas adianto que a sala será rebatizada de Sala Walter Hugo Khouri, e Lady Lemmertz, claro, batizará outra.)

Walter Hugo Khouri morreu no dia 27 de junho de 2003. Até hoje acho que o Brasil ainda não deu o devido valor e reconhecimento para seu maior cineasta, para mim, e com certeza um dos maiores para muita gente. Com sua morte, fiquei órfão de um cinema de alta estirpe e com infinitos signos ainda por serem decifrados. Ficaram órfãs também deusas absolutas como Monique Lafond, Selma Egrei, Nicole Puzzi, Patrícia Scalvi, Vera Fischer, Kate Hansen, Kate Lyra e etc etc etc.

8 comentários:

Adilson Marcelino disse...

Marcelo e todos Polvos,
Muito obrigado pelo convite e pela oportunidade de saudar o eterno mestre.
Abs
Adilson Marcelino

Leo Cunha disse...

Belo texto, Adilson! Homenagem sincera e emocionada, e um convite para todos nós, leitores, conhecermos melhor of filmes do Khouri.

Abraço,
do Leo Cunha

Ursula disse...

Adilson, valeu demais pela colaboração!

Beijos,

Ursula

Mariana Souto disse...

Bacana o texto, Adilson! Legal saber mais da sua trajetória.
Beijos

Adilson Marcelino disse...

Leo, Ursula e Mariana,
Fico imensamente feliz em saber que vocês gostaram desse meu registro confessional.
O cinema do Khouri é paixão profunda, e ter a oportunidade de falar sobre isso aqui é mesmo um privilégio.
Um beijão.
Adilson

Andrea Ormond disse...

Adilson e todos do Polvo, textos intimistas assim dão gosto pra quem se interessa por cinema. Temos essas paixões em comum, e o WHK real (não o difamado) é irresistível. Aliás, que bom ver Lemmertz e Khouri lado a lado no "Mulheres" tb. Beijos!

Adilson Marcelino disse...

Bacana Andrea.
Lilian e Khouri é uma dobradinha perfeita.
Bjs

Gabriel Martins disse...

Massa demais Adílson. Bela contribuição! Noite Vazia certamente é um dos meus filmes brasileiros prediletos...