quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Guerra ao Terror



por Marcelo Miranda

Deve ser um caso inédito no nosso circuito.

Guerra ao Terror, novo filme da diretora Kathryn Bigelow, estreou mundialmente no Festival de Veneza de 2008. Entrou em cartaz nos EUA em junho de 2009 e foi um fracasso (arrecadou apenas US$ 13 milhões). No Brasil, o filme teve os direitos de exibição comprados pela distribuidora Imagem. Temendo repetir no país o desempenho pífio de público nos EUA, a Imagem optou por lançar Guerra ao Terror diretamente em DVD, em abril deste ano.

Chega o fim de 2009. Começam a pipocar listas e mais listas de destaques. E lá está Guerra ao Terror em várias delas - inclusive na da prestigiosa Cahiers du Cinema, que encaixou o filme na sétima posição da sua relação de melhores títulos lançados na França. Na da igualmente poderosa Film Comment, o longa encabeça a lista. dos 20 melhores.

O trabalho também disputa três categorias do Globo de Ouro: filme dramático, direção e roteiro. Devemos agradecer por isso? Ao que parece, sim. A Imagem anunciou, na última semana de 2009, que vai lançar Guerra ao Terror nos cinemas brasileiros no dia 5 de fevereiro de 2010. Ironicamente, a justificativa para a mudança de posição segue novamente os humores norte-americanos, como fora na escolha inicial de relegar o filme somente às locadoras. Diz a assessoria da distribuidora: "Depois que vieram as indicações [ao Globo de Ouro], a empresa decidiu voltar atrás e relançar o filme nos cinemas".

O saldo, afinal, termina por ser positivo, ainda que derivado de um papelão. Melhor, porém, que a Playarte e os cortes de adequação à classificação etária feitos em Halloween - O Início, de Rob Zombie, também deste ano. A Imagem não assumiu o erro estratégico com Guerra ao Terror, mas a própria decisão de redefinir parâmetros é uma forma de se erguer do tropeço. A Playarte, ao contrário, não apenas se omitiu sobre a mutilação ao filme de Zombie, como ainda o explorou duplamente, ao lançar em DVD uma versão "sem cortes".

Enquanto isso, outra distribuidoria, a Europa, segue sem dar a menor satisfação sobre À Prova de Morte, filme de Quentin Tarantino de 2007. Redacted, o mais recente Brian DePalma (também de 2007), é outro a amargar o ostracismo brasileiro.

Como tudo às vezes parece um círculo sem fim, quem distribui(ria) Redacted por aqui é justamente a Imagem. Como o filme de De Palma não recebeu nenhuma indicação ao Globo de Ouro nem ao Oscar, seguimos sem vê-lo (ao menos pelas vias oficiais).

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