sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ebert e sua última década

Por Leo Cunha


Anteontem (30/12/2009), Roger Ebert publicou sua lista dos 10 melhores filmes da última década. Trazendo Sinédoque, Nova York em 1º e Guerra ao Terror em 2º, a lista certamente vai levantar polêmica. Mas isto – a polêmica – é algo que o crítico nunca temeu, em seus mais de 40 anos no ofício.

Acredito que a lista pode ser entendida como um balanço de vida do Ebert. Ele não está tão idoso assim (completa 68 este ano) mas há anos enfrenta um câncer na tireóide, não fala mais, apenas escreve (e muito, felizmente!). Sinto que esta pode ser, talvez, sua última lista de melhores de uma década e, como tal, deve ser levada em conta.

Ebert é um patrimônio da crítica americana, o primeiro crítico de cinema a ganhar o prêmio Pulitzer e autor de vários livros importantes (Scorsese by Ebert, por exemplo, é um ótimo estudo sobre o cineasta, desenvolvido ao longo de várias décadas). Para além disso, é sem dúvida o crítico americano mais influente, um cara respeitado pela indústria, de um lado, e pela academia, do outro lado (David Bordwell, por exemplo, é um grande admirador e fez um belo prefácio de um dos livros de Ebert, Awake in the Dark).


O jovem Ebert (à direita), com o diretor Russ Meyer


A lista é assumidamente pessoal e sentimental, destacando filmes que "mexeram" com ele, primeiramente no aspecto emocional (e/ou psicológico), e só depois nos aspectos narrativo e imagético, propriamente ditos. O próprio Ebert declara isto literalmente: “todos os filmes entraram nesta lista pela mesma razão: o impacto emocional direto que provocaram em mim. Eles têm muitas outras qualidades, também, claro. (...) Nenhuma lista tem um significado profundo, muito menos aquelas compostas para satisfazer um júri imaginário de colegas, críticos. Por isso o meu júri mora dentro de mim. Eu sei o que sinto”.

Enfim, os 10 filmes da década, para Ebert, são:

1 – Sinédoque, Nova York (Charlie Kaufman, 2008)

2 – Guerra ao Terror (Katherine Bigelow, 2009)

3 – Monster – desejo assassino (Patty Jankins, 2004)

4 – Juno (Jason Reitman, 2007)

5 – Eu, você e todos nós (Miranda July, 2005)

6 – Chop Shop (Rahmin Bahrani, 2008)

7 – O filho (irmãos Dardenne, 2002)

8 – A última noite (Spike Lee, 2003)

9 – Quase famosos (Cameron Crowe, 2000)

10 – Meu Winnipeg (Guy Maddin, 2008)

Mesmo os que acham Ebert muito mainstream não poderão acusá-lo de ter feito uma lista hollywoodiana. A se destacar a presença considerável de filmes dirigidos por mulheres (3 em 10), dois filmes dirigidos por estrangeiros (Guy Maddin, canadense e os Dardenne, belgas), além de um americano de origem iraniana (Bahrani) e outro “afro-descendente” (Spike Lee).

Para quem quiser ler a lista completa, com os comentários de Ebert, o link está aqui

Vale registrar, ainda, que o crítico inclui também uma segunda lista, com os filmes que ele classificaria do 11º ao 20º lugar. Nesta segunda lista entram alguns xodós da crítica, como Tarantino, Linklater, Herzog e os Coen, mas Ebert também não teve medo de incluir cineastas que a crítica adora odiar, como Paul Haggis e Fernando Meirelles.

Vale a pena conhecer, também, o site de Ebert, que traz na íntegra inúmeros ensaios e entrevistas, sem contar com as mais de 5 mil críticas publicadas desde a década de 60. Nem todas brilhantes, obviamente, mas um conjunto pra lá de impressionante.

PS: Apesar do título deste post, torço muito pra que esta não tenha sido a última década de Ebert.

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