por Marcelo Miranda*
É sempre complexa a tarefa de levar às telas um romance difícil - e ainda mais Budapeste, em que Chico Buarque tece um complexo jogo metalinguístico que parece ter sido feito para funcionar apenas em letras, não em imagens. Portanto, vamos evitar, aqui, as comparações e nos ater especificamente ao filme de Walter Carvalho.
O que mais vai chamar atenção do público, logo de cara, é a ambientação na cidade-título. Logo nos primeiros minutos, Budapeste se impõe como personagem fundamental dos caminhos desgarrados do protagonista, José Costa (feito por Leonardo Medeiros, num tipo de interpretação que parece estar definitivamente atrelada à sua persona). A força da capital húngara é tamanha que o filme paradoxalmente sofre com isso, já que Carvalho não consegue gerar interação maior de Costa com o espaço que o cerca para além de passeios na rua e encontros com cafetões e prostitutas na calada da noite. Fica a sensação de que a cidade literalmente suga José Costa e não o permite respirar, o que também não deixa de fazer grande sentido.
Carvalho, bem auxiliado pela câmera do filho, Lula, dá ritmo próprio ao filme, por vezes carregando nas tintas da desolação, em outras "acelerando" as angústias de Costa. Quando o enredo dá as voltas malucas extraídas do livro de Chico e revela sua natureza mais verdadeira de ser um grande jogo para um grande personagem, Budapeste cresce bastante. Mas o caminho até lá é tortuoso, por vezes pretensioso demais, o que gera certa sensação de gelidez do cineasta para com o material que filma.
*publicado no jornal O TEMPO em 22.5.2009
2 comentários:
Bom texto, MM. Eu já tinha lido no Tempo. Minha impressão foi bem próxima da sua, por sinal.
É como o Adilson Marcelino falou, Leo: o filme é assim, assim.
Postar um comentário