sábado, 6 de março de 2010

Praça Saens Peña



por Marcelo Miranda

No momento mais tenso de "Praça Saens Peña", o personagem de Chico Diaz grita à esposa, vivida por Maria Padilha: "Por que está fechando a porta? Ninguém se interessa pela nossa conversa!".

É este o mote da estreia do carioca Vinícius Reis na direção: o foco em pessoas que não interessam, gente com quem se cruza todos os dias nas ruas e parece nada ter a nos oferecer. Pois essa gente tão humanamente colocada em cena por Vinícius representa um aspecto pouco focado no cinema brasileiro - a classe média em busca de ascensão social. Para além de um filme geograficamente localizado desde o título, "Praça Saens Peña" expõe dilemas e contradições coletivas, sem abrir mão de dramas essencialmente pessoais.

O escritor encarnado por Diaz apenas quer ganhar dinheiro e sustentar esposa e filha, enquanto a mulher vive andando em nuvens na busca por um sonhado apartamento próprio - os conflitos surgem dessa premissa. São pessoas comuns, estúpidas até, que Vinícius retrata com o carinho raro de um realizador que tateia em busca de um caminho para si mesmo e ao cinema que faz. A trajetória tem tropeços evidentes, mas o que mais exala é o frescor de uma narrativa pontual, na qual o comum e o banal estão no centro, sem qualquer afetação.

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