domingo, 25 de abril de 2010

Cine PE - O começo

por Marcelo Miranda

A partir de hoje, leia aqui matérias, comentários, críticas e afins dos filmes exibidos na 14ª edição do Cine PE, no Recife.

Chegando à sua 14ª edição, o Cine PE - Festival do Audiovisual, realizado anualmente no Recife, começa nesta segunda-feira, dia 26, no Cine Teatro Guararapes (a meio caminho entre a capital do Estado e a cidade de Olinda) com a exibição especial de "O Bem Amado". A adaptação de Guel Arraes para a telenovela de Dias Gomes - exibida na Globo entre janeiro e outubro de 1973, inspirada em peça teatral do mesmo autor, escrita em 1962 - ratifica a homenagem que o Cine PE vai prestar a Arraes, filho da terra.

A escolha do festival em homenagear Guel Arraes é coerente com a proposta assumida por Alfredo Bertini, diretor do Cine PE: valorizar, o máximo possível, o caráter potencialmente comercial do cinema brasileiro. "Dentro da minha visão de que a cultura é algo absolutamente heterogêneo e de que as políticas culturais devam seguir nesse sentido, precisamos muito dos filmes comerciais", afirma Bertini. "Quem financia o filme cult são as grandes bilheterias".



A escolha por Arraes, portanto, soa natural. "O Auto da Compadecida" (2000), "Caramuru - A Invenção do Brasil" (2001) e "Lisbela e o Prisioneiro" (2003) - os dois primeiros exibidos na televisão em formato de minissérie, sendo posteriormente remontados para cinema - fizeram do realizador um dos nomes de ouro nos caixas dos cinemas pós-anos 90. Ainda que seu filme anterior, "Romance" (2008), não tenha sido um estouro, "O Bem Amado" estreia no circuito no dia 23 de julho com ares de blockbuster.

O orçamento bate nos R$ 10 milhões, e o elenco já garante atenção de uma boa fatia de público. Marco Nanini assume o personagem central, o político corrupto Odorico Paraguaçu, eternizado por Paulo Gracindo na novela televisiva e já interpretado pelo próprio Nanini nos palcos. As famosas beatas, as irmãs Cajazeiras (vividas no passado por Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio), agora se tornam um trio de peruas, com rosto e corpo de Andréa Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa.

A nostalgia por trás de "O Bem Amado" e o tom de comédia apressada de Guel Arraes devem ser outros ingredientes a fazerem do filme um sucesso. Isso poderá ser sentido hoje, quando aproximadamente 3.000 espectadores deverão assistir à produção no Cine PE.

Na mostra competitiva de longas, a 14ª edição do Cine PE reafirma o caráter mais comercial de suas escolhas. A seleção do jornalista Hermes Leal, feita a partir de 70 filmes, fechou nos seis títulos que disputam o troféu Calunga.

Entre as quatro ficções e os dois documentários, São Paulo e Rio de Janeiro dominam: “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanzky, “Cinema de Guerrilha”, de Evaldo Mocarzel, e “Sequestro”, de Wolney Atalla, vêm do primeiro; “Léo e Bia”, de Oswaldo Montenegro, e “Não se Pode Viver sem Amor”, de Jorge Durán, vêm do segundo. Fecha a lista o brasiliense “O Homem Mau Dorme Bem”, de Geraldo Moraes.

Na mostra não-competitiva, o Rio aparece com mais dois títulos, curiosamente dirigidos por cineastas nordestinos: “O Bem Amado” é do pernambucano Guel Arraes, e “Quincas Berro D’Água”, do baiano Sérgio Machado. “Houve um volume grande de filmes. Ainda deixamos de fora quatro ou cinco títulos que tinham força para entrar na competição”, afirma Alfredo Bertini, diretor geral do Cine PE. “Acabamos tendo que adotar alguns critérios, como já ter sido premiado aqui, por exemplo”.

Nesse raciocínio, o maior nome a retornar ao Cine PE é o de Laís Bodanzky. Há quase dez anos, em 2001, a diretora se consagrou no festival com “Bicho de Sete Cabeças”: saiu do evento carregando troféus de melhor filme, direção, ator (Rodrigo Santoro), atriz coadjuvante (Cássia Kiss), ator coadjuvante (Gero Camilo), trilha sonora, som e montagem.

Ainda que muito bem realizado, “As Melhores Coisas do Mundo” não parece ter o mesmo potencial de “Bicho...”, até pela opção de Bodanzky em criar uma narrativa semiplural – girando em torno de um único personagem, mas dando atenção a diversos outros, o que evita o mergulho visceral numa única figura, como era em “Bicho...”.

A surpresa maior do festival (para mal ou bem, a conferir) fica para “Léo e Bia”, no qual o cantor Oswaldo Montenegro adapta para as telas e assume a direção de uma composição musical sua (que já tinha virado peça de teatro).

Os curtas
A seleção de filmes curtos do Cine PE tem os dois únicos competidores mineiros do festival em 2010 . “O Filme mais Violento do Mundo” é o segundo curta de Gilberto Scarpa. Com “Os Filmes que não Fiz”, seu trabalho de estreia, Scarpa levou o troféu de melhor filme da categoria no festival, em 2008. “Revertere ad Locum Tuum” é o outro curta mineiro no Cine PE deste ano, com direção de Armando Mendz.

Ainda na competição, destaques para “Recife Frio” (PE), de Kleber Mendonça Filho, “Faço de Mim o que Quero” (PE), de Sergio Oliveira e Petrônio Lorena, e “Bailão” (SP), de Marcelo Caetano.

*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 26.4.2010
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