sábado, 3 de abril de 2010

Chico Xavier, de Daniel Filho



por Ursula Rösele

Havia visto o trailer há um tempo, desses com a marca escancarada do Daniel Filho. Um pouco de preguiça, mas já que resignada de que não havia muito o que esperar de diferente do padrão Globo Filmes + Daniel Filho + a total incapacidade de escalação de qualquer ator não global-televisivo; fui ver o filme.

Poucos, pouquíssimos conseguem fazer o que Clint Eastwood fez, de retratar uma figura que por si só já arrebata em graça, humanismo e vigor político como o Mandela, e ainda fazer um belo filme como é Invictus.

Devo dizer que saí de Chico Xavier chorando um bocado e depois de amansar, me veio a questão: seria o ser retratado tão forte, tão intenso, que determinadas – e várias – questões negativas do filme teriam peso menor do que se fosse qualquer outro filme de Daniel Filho? Sei lá. Lembro de uma consulta médica que fui certa vez, e e a médica me perguntou qual a minha religião ou se tenho alguma e ao me ouvir responder de supetão que sou confusa, semi-espírita, ela escreveu no prontuário: “semi-espírita”. Fiquei fã dela. O quê iria fazer com aquela informação, até hoje eu não sei.

Fato é que não prego, não frequento, não sou, na prática, espírita. Mas tenho um carinho, sim, e principalmente pelo ideário de ação da doutrina que parte do princípio de que a caridade é o fundamental, para além das ave-marias e absolvições, no sacrifício, no flagelo, no dinheiro para a igreja. É... um post escapando do cinema, desculpem.

Daniel Filho fez um filme claramente caro, meio super produção, cheio de clichês e travellings para que o personagem de Chico Xavier caminhasse e pudéssemos ver sumir sua mãe quando a câmera passava por uma árvore ou algo do tipo. No trailer mesmo do filme já podemos ver a panorâmica pop de Daniel Filho em um Nelson Xavier assustadoramente idêntico ao personagem que interpreta, enquanto psicografa. Hoje no cinema vi um trailer que prenuncia a “fase de ouro do cinema espírita” – e sim, estou sendo irônica (neste ano Chico Xavier faria 100 anos) -, dirigido por Wagner de Assis (roteirista de vários filmes da Xuxa e diretor da bomba A Cartomante) e uma mega-super-hiper produção: Nosso Lar, baseado em livro psicografado por Chico Xavier, um dos mais lidos na literatura espírita brasileira. Trailer mais pop impossível, ficou o medo real do filme que sairá disso.

Mas enfim. Talvez o que tenha me levado ao post meio sem sentido foi a sensação de que, por mais deprimente que o Daniel Filho seja (em minha opinião, claro), Chico Xavier é um bom filme sobre um personagem maior que ele (filme). Não há o mínimo vigor cinematográfico, mas eu, como “semi-espírita” que sou, fui tocada por algo que em outras proporções me tocou em “Invictus”: há seres humanos neste mundo os quais devíamos mesmo nos espelhar. Existindo ou não Deus - discussão que nem este blog e muito menos a Filmes Polvo entrará – me permitirei um comentário piegas e meio tolo...há o que se aprender naquele ser humano que foi Chico Xavier. Hoje assisti ao filme numa sala lotada, em plena sexta-feira santa. Bilheteria o Daniel Filho terá, sem dúvida. Que fique o que de bom possa ficar ali.

6 comentários:

Marcelo Miranda disse...

Soube apenas pelo seu post que "Nosso Lar" é do Wagner de Assis (certamente diretor contratado, como Daniel Filho no "Chico Xavier", aliás). Vi o trailer e achei curioso que, como apontou o colega Carlos Quintão, estão vendendo um conceito (um filme inspirado num livro espírita), sem dar qualquer informação de elenco, produção ou direção que eventualmente pudesse atrair algum público. Isso é incomum no Brasil (apostar em filmes sem dar a "cartilha" sobre suas origens), e o nicho espírita é perfeito pra isso.

Marcelo Miranda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruno Cava disse...

O que irrita no filme, além da forma-Globo intragável, é o mambojambo espírita e a tentativa de transformar (mais) um charlatão talentoso em messias.

Ursula disse...

É mesmo Marcelo...eu também não sabia que o Daniel Filho era diretor encomendado...isso me entristece, mas que remédio, né?

"Chico Xavier" teve direito a teaser e tudo. Depois que eu vi um trailer completo com a assinatura do Daniel Filho. O engraçado é que no cinema fiquei curiosa pra saber de quem era o "Nosso Lar" e só o tio google mesmo pra ajudar...esse deve ser de lascar. Me lembrou aquela novela espírita, "A Viagem", sabe? Credo...

E Bruno, concordo em partes..mas daí entraríamos em outro lugar que eu já mencionei no texto. Não acho o Chico Xavier charlatão, mas isso não tenho a menor pretensão de pregar...só acho uma pena encomendarem um cara tão manjado como o Daniel Filho pra um filme desses, mas...difícil encontrar alguém de fato disposto a arriscar sair da prisão globo-televisiva pro cinema, então, paciência.

Rafa Arruda disse...

Ursula, parabéns pelo post. Sou espírita e cinéfila. E talvez por isso, ou apesar disso, gostei muito do filme. Recontar uma vida grandiosa de 92 anos em cerca de 2 horas de projeção não é tarefa simples. A forma de recontar e integrar os acontecimentos e as atuações belíssimas como a de Ângelo Antônio e Letícia Sabatella, por exemplo, me emocionaram bastante. E ouso prever que "Nosso Lar" será também uma produção de qualidade. Ainda que com o risco de se retratar uma história muito maior do que o possa fazer de fato o cinema nacional...

Ursula disse...

Oi Rafaella, obrigada! Pois é, concordo com você, mas já pelo trailer, achei "Nosso Lar" uma coisa hollywoodiana demais e sei lá..além de ter achado que o filme deve ser uma porcaria, acho desnecessário que se apele para este tipo de estética e superprodução visando um retorno, digamos, de bilheteria. Não sei se o filme terá a mesma recepção do "Chico Xavier", mas se pensarmos somente nos espíritas, o filme certamente terá muita procura.