quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ainda o corte em "Halloween"

por Marcelo Miranda

O leitor que me desculpe a insistência no assunto, mas este caso vai muito além de se gostar ou não de Halloween - O Início, de Rob Zombie. Como já dito dois posts abaixo, o filme foi lançado nos cinemas brasileiros pela distribuidora Playarte numa esquisita versão de 83 minutos, suprimindo um total de 26 minutos de cenas da versão original. O motivo mais provável era a reclassificação etária, de 18 para 14 anos.

Pois a "censura legal" se confirmou no Diário Oficial da União, que, nas suas letras miúdas, explicita o procedimento da Playarte de uma forma, a meu ver, assustadora. Dá para ler clicando aqui, mas o trecho é exatamente o seguinte:

Processo MJ No- : 08017.000902/2009-15
Título do Filme: "HALLOWEEN - O INÍCIO"
Representante: Playarte Pictures
Classificação Pretendida: Não recomendada para menores de14 (quatorze) anos

CONSIDERANDO que o filme "HALLOWEEN - O INÍCIO" teve sua classificação atribuída em 8 de maio de 2009 de "nãorecomendado para menores de 18 (dezoito) anos", por conter suicídio,crueldade e assassinato;

CONSIDERANDO que, ante a solicitação do requerenteatravés do pedido de reconsideração por adequação da obra e tendo oDepartamento indeferido o pedido em 9 de junho de 2009.

CONSIDERANDO que, ante a solicitação de reclassificaçãopor adequação no último dia 14, a Playarte Pictures apresentou umaversão de 83 minutos, excluindo 26 minutos de conteúdo violento daobra, comprometendo-se em exibi-la nesta última versão apresentada, resolve:

Deferir o pedido de reclassificação por adequação do filme"HALLOWEEN - O INÍCIO", Processo MJ No- 08017.000902/2009-15, alterando sua classificação para: "Não recomendada para menoresde 14 (quatorze) anos", por conter agressão física e assassinato.
DAVI ULISSES BRASIL SIMÕES PIRES

Como se vê, a Playarte fez uma versão menor especialmente para baixar a classificação. Isso abre um precedente apavorante. Então uma distribuidora, se insatisfeita com a classificação recebida por seu filme, pode arrancar as partes causadoras do "mal" e entrar com recurso pedindo revisão a partir de um corte oportunista e específico? Me pergunto ainda se o próprio Rob Zombie, ou quem quer que responda pelo filme oficialmente, sabe do ocorrido.

Escrevi um e-mail para o setor de imprensa da Playarte há dois dias, perguntando sobre o assunto. Até o momento, não obtive qualquer tipo de retorno.

5 comentários:

Leandro Caraça disse...

Marcelo, brincadeiras a parte, é algo mesmo preocupante. O fato de ter acontecido com uma obra de valor quase nulo não é atenuante. Me espanto que nenhum veículo da mídia tenha divulgado isso. Tomei a licença de postar isso no meu blog.

Marcelo Miranda disse...

Leandro, nenhum veículo da mídia se dignou a falar no assunto justamente por ser um filme tido como "menor". É típico daqui, onde o valorizado é o que é "digno" ou "relevante", como você, batalhador de outros tipos de cinemas, sabe mais que eu. Legal sua repercussão, abraço!

RENATO SILVEIRA disse...

Marcelão, o G1 e o CineClick publicaram matérias a respeito hoje. Creio que elas demoraram para sair justamente porque a PlayArte não responde e eles aguardavam alguma posição. Além do que, foi tudo feito na surdina e pegou todo mundo de surpresa. Só não sei se fizeram cabines em São Paulo ou no Rio, porque se alguém viu o filme cortado antes de sexta-feira, realmente deveria sentir vergonha de não ter aberto o bico antes.

Eu consegui falar brevemente com o diretor comercial da PlayArte, mas não foi de muita ajuda. Surpreendentemente, ele disse que "não sabe" o que aconteceu. Também conversei com outras pessoas da distribuição sobre essa questão dos cortes. Acabei de publicar a matéria no site. Acho que é de interesse de todos que estão preocupados com esse ocorrido:

http://www.cinematorio.com.br/2009/07/violencia-contra-halloween.html

[]s.

Marcelo Miranda disse...

Grande matéria, renatão. Também estou caçando o Rob Zombie e, mais ainda, o responsável por aceitar a manobra da Playarte, que assina o despacho no Diário Oficial (Davi Ulisses). Até agora, sem retorno. Vamos ver o que acontece.

Leandro Caraça disse...

Ontem a Kiss FM também deu a notícia e o locutor (Marco Antônio) até sugeriu que ninguém fosse ver o filme nos cinemas.