O sumiço é um dos indícios da pouca empolgação deste escriba em falar do Festival de Paulínia. Acho que já se deu cacetada demais, e o resultado é ínfimo diante disso. A premiação foi desastrosa (tanto a cerimônia de entrega de troféus quanto a escolha da maior parte dos vencedores), o que desanima bastante. Pra se ter ideia, ganhou como melhor filme Olhos Azuis, de José Joffily, sobre o qual minhas palavras, em post abaixo, não foram das mais carinhosas.
Fica abaixo matéria que fiz pro jornal onde trabalho, com um breve balanço dos resultados. Em breve, ainda comento Tempos de Paz, de Daniel Filho, exibido no último dia e fora de competição. Adianto: é bem melhor do que se possa esperar, mas não tão bom quanto podia ser.
Festival de Paulínia: balanço dos vencedores*
Na comédia de erros que se tornou a cerimônia de encerramento do II Festival Paulínia de Cinema, na noite de quinta-feira, dia 16, a produção carioca Olhos Azuis, de José Joffily, dividiu com o gaúcho Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, os principais prêmios de ficção – cada um levou cinco troféus. O primeiro sagrou-se como melhor filme, roteiro, ator coadjuvante (Irandhir Santos), montagem e atriz (Cristina Lago, dividindo com Maria Clara Spinelli e Silvia Lourenço, por Quanto Dura o Amor?); o segundo levou direção, figurino, trilha sonora, direção de arte, fotografia e júri da crítica.
O Contador de Histórias, cujo enredo se inspira na vida do pedagogo mineiro Roberto Carlos Ramos, ganhou júri popular, prêmio especial do júri oficial e a categoria de melhor ator, que reconheceu conjuntamente o trabalho dos garotos Marco Ribeiro, Paulo Mendes e Cleiton Santos, intérpretes do protagonista em várias fases de sua vida.
Apresentado pelo casal Murilo Benício e Guilhermina Guinle, o cerimonial de entrega de troféus se configurou numa série de equívocos – desde confusões com o monitor onde os atores liam os nomes dos vencedores à omissão de algumas categorias durante o apressado anúncio de quem deveria subir ao palco para agradecer a vitória. “Alguém quer vir aqui nos ajudar?”, disse Murilo Benício, sem parecer estar brincando.
Foi o fecho de um festival cheio de tropeços e caminhos estranhos. Olhos Azuis, filme que trata com maniqueísmo juvenil a questão da imigração de latinos nos EUA, foi considerado o melhor filme menos por qualidades cinematográficas do que pelo tema proposto – e se esse tema é desenvolvido sem qualquer tipo de sutileza ou humanidade, pouco pareceu importar ao júri.
Antes que o Mundo Acabe conseguiu ficar com a pecha de “filme fofinho do festival”, até então dada a O Contador de Histórias. Realizado na Casa de Cinema de Porto Alegre (de onde saiu O Homem que Copiava, entre outros), aborda o universo juvenil de uma pequena cidade através de piadinhas e referências cool, criança engraçada no elenco e romance adolescente de diálogos "espertos”.
Nos documentários, também prevaleceu o desinteresse com cinema de verdade. Só Dez por Cento É Mentira, de Pedro Cézar, longa apenas razoável sobre o poeta Manoel de Barros, levou melhor filme. O caretíssimo Herbert de Perto, de Roberto Berliner e Pedro Bronz, sobre o músico Herbert Vianna, ficou com troféu de direção. Moscou, filme-invenção do mestre Eduardo Coutinho, teve a façanha de ser ignorado pelo júri oficial. Levou apenas prêmios da crítica.
Confira aqui a relação completa de premiados e os jurados de cada competitiva.
*Originalmente publicada no jornal O TEMPO no dia 18.7.2009
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