por Marcelo Miranda
Reza o protocolo dos festivais de cinema que, após a exibição de um filme, o público deve aplaudir. Na Mostra de Cinema de Tiradentes deste ano, os aplausos têm soado estranhos. Nem tanto por gostos ou desgostos com cada título exibido, mas pelo tom desses filmes. Como celebrar com palmas os finais tão desesperançados de “Cabeça a Prêmio” e “Os Inquilinos”? Ou apocalípticos como o de “Natimorto”? Ou mesmo depressivos, como em “Os Famosos e os Duendes da Morte”? Todos exibidos no final de semana passado em Tiradentes, estes trabalhos, tão distintos entre si, guardam como semelhança olhares bastante duros.
“Cabeça a Prêmio”, com direção de Marco Ricca, e “Natimorto”, de Paulo Machline, formam uma dupla capaz de provocar gosto amargo nos espectadores. De construções elaboradas, ambos tratam de universos doentes e pessoas perturbadas com os ambientes externos onde devem conviver e interagir com outras pessoas. Esses personagens são obrigados ora a aguardar a violência que bate e explode à porta (Ricca), ora a lidar com seus próprios terrores internos para, em seguida, devorá-los (Machline). A plateia aplaude timidamente, porque o clima é pesado.
“Os Inquilinos”, de Sérgio Bianchi, apresentou uma típica família suburbana de São Paulo, cujos desencontros com a rotina barulhenta de seus vizinhos cria, no desenrolar do enredo, uma tensão constante e crescente que parece jamais encontrar, de fato, alguma forma palpável. Tudo pode acontecer, assim como nada também pode acontecer – e, da espera entre um extremo e outro, brota a angústia.
“Os Famosos e os Duendes da Morte”, de Esmir Filho, talvez o mais introvertido dos quatro filmes, lida com as dúvidas internas de um adolescente. Entre devaneios e dores infligidas por um sufocamento do meio onde ele transita, o filme deixa em aberto as várias (e sofridas) possibilidades daquele jovem. Palmas, sim; tranquilidade, nem de longe.
*Originalmente publicado em O TEMPO no dia 26.1.2010
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